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RIO DE JANEIRO
Carolina Cacau: “Construamos uma força anticapitalista no Rio de Janeiro”
Carolina Cacau
Professora da Rede Estadual no RJ e do Nossa Classe

O Rio de Janeiro foi um contraponto nacional com centenas de milhares buscando uma alternativa à esquerda do PT nas eleições municipais. Essa força social é capaz de se ligar aos trabalhadores e enfrentar a direita golpista e seus ataques, o que só pode se dar enfrentando os capitalistas, diferente da perspectiva que vem propondo Freixo.

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Após o primeiro turno das eleições municipais, o principal balanço é o da falência do PT, que sofreu sua derrota eleitoral mais importante em todo o país. O reconhecimento disso por parte da cúpula petista se expressa nas especulações de seus dirigentes sobre mudar o nome do partido ou não lançar candidatura própria em 2018.

A derrota do petismo se consolidou com o golpe institucional implementado pela direita, mas é a conclusão de um projeto político de décadas de conciliação de classes, em que o PT se tornou cada vez mais um administrador dos negócios capitalistas, apostando em um projeto irrealizável de conciliar os interesses dos trabalhadores e dos setores explorados e oprimidos com os dos patrões.

A outra face da falência petista nas eleições é, por um lado, o enorme índice de abstenções e votos nulos, que em muitas capitais superou os primeiros colocados, e, por outro, o fortalecimento da direita golpista – em particular o PSDB, com seus candidatos vestindo uma máscara de “gestores empresariais” e procurando afirmar que “não são políticos”. A vitória de João Doria no primeiro turno em São Paulo é a expressão mais contundente disso.

O Rio de Janeiro marca uma diferença de importância fundamental em relação a essa tendência. A ida de Marcelo Freixo (PSOL), com 18% dos votos válidos, para a disputa do segundo turno expressa que, na segunda principal capital do país, centenas de milhares de pessoas procuram uma saída que enxergam como à esquerda do PT, e que não se resignaram ao ceticismo nem se viraram à direita.

Marcelo Crivella (PRB), que disputa com Freixo com uma imensa vantagem – que vem aumentando – expressa o que há de mais reacionário na política brasileira. É sobrinho de Edir Macedo, o dono da Igreja Universal e da Rede Record, duas enormes empresas de reprodução da ideologia da classe dominante. Representa as posições da bancada evangélica com seu machismo, racismo e LGBTfobia. Seu partido foi base de apoio dos governos petistas nos acordos espúrios que abriram espaço à direita, e depois fez parte dos golpistas que colocaram Temer no poder para implementar os ataques mais duros exigidos pelos capitalistas. Recentemente, sua bancada apoiou integralmente a PEC 241, um ataque de imensas proporções aos trabalhadores, à juventude e ao povo pobre.

Mesmo assim, Crivella dá ênfase em sua campanha para dizer que quer “cuidar das pessoas”, tentando aparecer mais ao centro e esconder suas posições mais reacionárias e seu principal aliado, Garotinho, corrupto notório. Crivella, como todo hábil político burguês nessas eleições, quer passar uma imagem desvinculada da política tradicional, de administrador isento, combinando a um populismo.

Opondo-se a ele, Marcelo Freixo tem despertado grandes esperanças, particularmente na juventude e em setores do funcionalismo público, como professores e trabalhadores da saúde. Contudo, tem cada vez mais procurado cada vez mais moderar sua campanha e buscar o eleitorado ao centro como estratégia para combater Crivella. O único debate que houve no segundo turno – Crivella tem fugido dos encontros para não desgastar sua liderança – foi marcado pela falta de enfrentamento de Freixo com o direitista.

Entretanto, isso não é a posição de Freixo apenas nas eleições, mas é seu projeto político. Um projeto que infelizmente se restringe a administrar de forma "mais humana" o capitalismo. Isso porque Freixo não explica de onde sairá dinheiro pra garantir os serviços públicos já que não se propõe a enfrentar os lucros e as propriedades dos capitalistas. Ao mesmo tempo, seu slogan "governar é possível" se mostra no caminho de reeditar a tragédia petista de conciliação de classes.

Nós queremos dialogar com as centenas de milhares que votaram em Freixo dizendo claramente que é necessário um programa anticapitalista, e que sem isso não vai haver solução de fundo para os problemas da saúde, educação, etc. Para nós, todo esse movimento que está em curso por Freixo no Rio deve ser um ponto de apoio para construir uma grande força anticapitalista, operária e socialista, não só no Rio, mas em todo o país para derrotar Temer, os golpistas e seus ataques, numa perspectiva que só pode ser independente do PT e em enfrentamento com as burocracias que bloqueiam as lutas nos sindicatos e entidades estudantis. É com esta perspectiva e sem nenhum sectarismo que participamos desse movimento, já que confiamos que os trabalhadores e jovens que votam nele podem avançar nesse sentido.

Para isso, é preciso dizer que só será possível atingir nossas demandas passando por cima da reacionária Lei de Responsabilidade Fiscal, que é um mecanismo para tirar dinheiro dos gastos sociais e dar a especuladores e banqueiros. É preciso taxar as grandes fortunas dos patrões, e as Igrejas como a Universal, e acabar com os impostos para os trabalhadores e o povo pobre. Para garantir as nossas necessidades, como uma saúde decente, é preciso acabar com a privatização, com um SUS 100% estatal e sob controle dos trabalhadores, o que não é o sentido que Freixo vem defendendo de não acabar com as OSs e sim “avaliar os contratos”. É preciso estatizar as grandes empresas privadas da saúde, como hospitais privados, laboratórios, redes de farmácia e planos de saúde.

Para que o movimento na cidade do Rio de Janeiro avance em uma perspectiva de enfrentamento com os ajustes no plano nacional ele precisa também se enfrentar com a completa degradação dos serviços públicos no Estado, os atrasos de salário dos funcionários públicos e dos aposentados. Uma perspectiva anticapitalista na cidade do Rio passa também por chamar os trabalhadores do estado a se mobilizar por seus direitos e pelo não pagamento da criminosa dívida estadual.

Em relação ao transporte, também precisamos atacar os capitalistas, estatizando o sistema municipal e colocando sob controle dos trabalhadores do setor e das comunidades dos usuários, o que também difere pelo vértice da posição de Freixo, que em recente entrevista no Estadão falou sobre transporte que sua política “Não é estatizar. Não tem o menor cabimento a prefeitura se tornar dona de linha de ônibus. Mas a prefeitura tem de ter um sistema de regulação.” A cidade não será nossa, isto é dos trabalhadores, da juventude, das mulheres e do povo, enquanto continuar sendo dos empresários que lucram horrores. Não será nossa enquanto não se atacar pela raiz os interesses e as políticas dos ricos, que precarizam a Saúde, a Educação e os transportes.

E, em primeiro lugar, é preciso colocar de pé uma grande força militante capaz de enfrentar os ataques dos governos estadual e federal. Se a PEC 241 for aprovada, não há possibilidade de atender nenhuma das demandas populares. O momento eleitoral precisa ser utilizado para fortalecer mobilizações massivas, exigindo isso das entidades de massa como CUT, CTB, UNE, UBES, que hoje estão em uma verdadeira trégua com os golpistas. Por exemplo, assim como não se enfrentaram contra o golpe, agora falam de uma paralisação nacional somente para o dia 11/11 e até agora não organizaram nada na base. As quase 500 escolas ocupadas no Paraná contra os ataques dos golpistas mostram um ponto de apoio para erguer uma grande luta nacional, e é a serviço disso que precisamos construir uma força anticapitalista nessas eleições ocupando de novo as ruas como fizemos em junho, pois é somente na luta direta que vamos enfrentar a direita, os capitalistas e seus ataques.

Essas são algumas das medidas fundamentais, e sem as quais é impossível dar uma resposta que seja capaz de superar a experiência petista e derrotar os patrões e os golpistas. A serviço disso colocamos nossas forças militantes e o Esquerda Diário, que a cada dia avança como um instrumento capaz de dar voz aos trabalhadores e organizar nossa luta, e temos acompanhado a cada passo as eleições no Rio para procurar abrir esse debate imprescindível e superar os limites que estão colocados para a construção dessa força.

Carolina Cacau foi candidata a vereadora do MRT pelo PSOL no Rio de Janeiro. É professora da rede pública e estudante da UERJ. Acompanhe sua página de Facebook, onde estão expressas suas propostas e do MRT. Acompanhe a agenda de atividades que vamos organizar pelo Esquerda Diário pra debater um programa anticapitalista pro Rio de Janeiro e a construção desta força militante

 
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