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RACISMO
Resposta ao absurdo racismo científico publicado pela Folha de São Paulo
Letícia Parks
Rafaella Lafraia
São Paulo

Em tempos de crise orgânica, faz-se necessário tanto discutir ideologia quanto sua veiculação na grande mídia e a farsa da neutralidade promovida há anos. Sendo assim, este texto tem como intenção desmistificar o artigo “Cabelo louro, altura e olhos azuis são favorecidos pela evolução, diz estudo” publicado na Folha de São Paulo no dia 14 de Outubro.

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Legenda: Contexto da publicação de pesquisa é de um Reino Unido que acirra medidas anti-imigratórias desde o Brexit.

A ciência e a ideologia no beco sem saída da crise mundial

Durante séculos a ciência vem se auto promovendo como imparcial e, portanto, desprovida de interesses. Dissemina-se, assim, a ideia de que as pesquisas não estão a serviço de uma classe, mas são apenas dados e conclusões livres de posicionamentos ideológicos fomentando a ilusão de que a vida social é apenas uma realidade natural.

A reportagem tendenciosa da Folha se baseia em uma pesquisa publicada no último dia 13 de Outubro em uma das mais renomadas revistas científicas do mundo. Entretanto, já há alguns anos a tal revista transformou-se em uma vitrine de pesquisas, ou seja, apresenta os trabalhos de forma simplificada para mais rápida divulgação dos resultados. Isso ocorre devido à competição imposta pelo sistema capitalista na ciência, pois aquela que realmente é válida é a que está publicada, sendo que essas que obtém resultados mais rápidos são as que têm maior verba devido à rápida publicação (subentende-se ao financiamento de empresas que querem obter tal resultado).

A rapidez para divulgação dos resultados faz com que as publicações fiquem de difícil compreensão do estudo total, fazendo com que o leitor que se interesse pelo conteúdo tenha que ter tempo e conhecimento profundo do assunto para compreender o tema e assim, fortalecendo a ideologia de que a ciência é feita por e para uma classe específica e quando seus resultados são publicados para a grande maioria da população, que não tem tempo e nem acesso a este conhecimento, são feitos de forma distorcida como já falado aqui.

Com a leitura do artigo científico verifica-se que o intuito da publicação é validar a metodologia utilizada na pesquisa, pois esta é a forma mais moderna que possibilita análises de variações genéticas em um menor espaço de tempo, o que é relevante, pois o acúmulo de modificações genéticas (que ocorrem de forma gradativa – fases longas, mas com modificações pequenas – até ocorrer uma mudança abrupta – fases curtas no processo evolutivo) não era verificado pelas tecnologias antigas. Entretanto, justificar um salto qualitativo – uma eugenia – da espécie humana com a análise de um grupo restrito (3000 indivíduos do Reino Unido), com um curto período de tempo (que até mesmo para evolução humana pode ser assim considerado) sem acrescentar a análise das pressões político-econômicas vigentes das migrações de civilizações é totalmente inválido.

Desesperada em revalidar a ideologia dominante em momento de tão profundo questionamento estrutural do capitalismo, leva a que mídias como a Folha de São Paulo interpretem ao seu bel prazer pesquisas como essas, acobertando o que há de inovador, relevando as críticas e inserindo racismo, LGBTfobia, xenofobia e misoginia como dados científicos oficiais.

A evolução humana sob um olhar marxista

O distanciamento das ciências biológicas dos ensaios marxistas clássicos levam a reflexões fundadas em métodos que geram análises distorcidas e irreais como esses. Recorrendo a importante reflexão marxista em torno da teoria evolutiva de Charles Darwin, editada e publicada por Dantas em “O papel do trabalho na evolução do homem” de 2012, é possível verificar que, desde o momento em que o ser humano passa a se organizar em sociedade, essa passa a ser um componente fundamental nos rumos da seleção natural, já que natureza para o marxismo – e para Darwin – não é nada menos que o meio de conjunto onde um ser vivo sobrevive.

Assim, questões como padrões estéticos, impostos pelo sistema capitalista, durante seu desenvolvimento e até os dias atuais são mais relevantes do que as pressões ambientais, como utilizado de justificativa pela pesquisa em questão, pois como colocou Engels em “O papel do trabalho na transformação do símio em homem”, os seres humanos, desde os primórdios e por causa do trabalho são os únicos animais que modificam o ambiente de forma intencional e planejada. Assim, pela imposição de padrões estéticos europeus em todo o mundo, será possível verificar, mesmo que em curto período evolutivo, um favorecimento de pessoas brancas, loiras e de olhos claros.

Essa tese pode ser reafirmada a partir de milhares de exemplos cruéis. É possível ver, por exemplo, que o ambiente selvagem não dizimou a população indígena das Américas. Esse papel foi cumprido pela invasão européia no continente, que impôs trabalho forçado, torturas, assassinatos e miséria aos povos originários do continente. Usando o método da pesquisa, poderia-se cometer a ignorância do jornal Folha de São Paulo e dizer que a tendência evolutiva “natural” é o desaparecimento dos homens e mulheres indígenas, quando sabemos que essa seleção não foi natural, mas fruto de uma opressão de séculos sobre todo um povo de modo a dominar seu território e explorar suas matérias-primas.

O Brexit, o Reino Unido e a tendência à “supremacia” branca

O mais curioso do artigo publicado pela Folha é que, ao separar ciência e quem a produz dos interesses que vêm por detrás, ignora que o país que originou a pesquisa é justamente o que aprovou recentemente o Brexit e fechou suas fronteiras, mercado de trabalho e direitos humanos a qualquer refugiado negro ou árabe que procurasse esses países para reerguer sua vida.

No Brasil da escola sem partido é preciso ficar de olhos abertos: ao mesmo tempo que defende que não se possa debater temas humanitários e sociais dentro da sala de aula por serem demasiado “ideológicos”, a elite brasileira e internacional garantem que racismo, xenofobia e até mesmo misogenia possam virar ciência. Abramos os olhos antes que pesquisas medíocres e racistas como essa passem a fazer parte, com naturalidade e “neutralidade”, das próximas edições dos livros escolares. O professor de esquerda que luta contra o racismo e comprova cientificamente que, pela genética, somos todos iguais, não pode ser amordaçado.

 
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