Bonapartismo e fascismo

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Reproduzimos aqui a tradução do texto de Leon Trotski feita por Paula Vaz de Almeida a partir do original em russo publicado no Biullleten oppozitsii, nº 40, 6º ano, outubro de 1934.

 

Para uma caracterização da atual situação na Europa[1]

 

A enorme importância prática de uma orientação teórica correta se revela, especialmente, em períodos de conflitos sociais agudos, rápidas mudanças políticas e bruscas alterações na conjuntura. Em tais períodos, conceitos e generalizações políticas se desgastam rapidamente e exigem ou uma completa substituição (o que é mais fácil) ou concretização, refinamento e correções específicas (o que é mais difícil). Justamente nesses períodos surgem, pelas necessidades, toda sorte de condição ede combinações transitórias, intermediárias, que transgridem os esquemas habituais e exigem uma atenção teórica duplamente tensionada. Resumindo, se na época de paz sistemática (até a guerra) ainda era possível viver com uma porcentagem de abstrações prontas, em nossos dias, cada novo acontecimento coloca em evidência a mais importante lei da dialética: “a verdade é sempre concreta”[2].

A teoria stalinista do fascismo representa, sem dúvida, um dos mais trágicos exemplos das consequências nefastas que pode ter a substituição da análise dialética da realidade – em toda sua concretude, com todos os seus estágios transitórios, ou seja, tanto as mudanças paulatinas quanto os saltos revolucionários (e contrarrevolucionários) – por categorias abstratas baseadas em uma experiência histórica particular e insuficiente (ou em uma perspectiva estreita e insuficiente). Os stalinistas assimilaram o pensamento de que o capital financeiro na época contemporânea não pode sobreviver com a democracia parlamentar e deve recorrer ao fascismo. A partir dessa situação, perfeitamente correta dentro de limites determinados, chegam, por um meio puramente dedutivo e formalmente lógico, a uma única conclusão para todos os países e para todas as etapas de desenvolvimento: Primo de Rivera, Mussolini, Chiang Kai-shek, Masarik, Brüning, Dollfuss, Pilsudski, o rei sérvio Alexandre, Severing, MacDonald, entre outros, eram para eles representantes do fascismo[3]. Sobre isso, esqueceram-se: a) de que também no passado o capitalismo conviveu com a democracia “pura”, sempre complementando-a, e às vezes, ainda, substituindo-a por um regime de repressão nua; b) de que o capitalismo financeiro “puro” não existe em lugar nenhum; c) de que, ainda que ocupe uma posição de domínio, o capital financeiro não atua no vácuo e é obrigado a contar com outras camadas da burguesia e com a resistência das classes oprimidas; d) de que, finalmente, entre a democracia parlamentar e um regime fascista interpõe-se, inevitavelmente, uma série de formas transitórias, que se transformam uma na outra seja “pacificamente”, seja por meio de uma guerra civil; além do que, cada uma dessas formas transitórias, se queremos seguir adiante, e não sermos largados para trás, exige uma avaliação teórica correta e uma política compatível do proletariado.

Na experiência da Alemanha, os bolchevique-leninistas estabeleceram, pela primeira vez, a forma transitória de governo (ainda que se podia ou se deveria tê-la estabelecido ainda na experiência da Itália), a qual chamamos de bonapartismo (os governos de Brüning, Papen e Schleicher). De maneira mais articulada e desenvolvida, observamos o regime do bonapartismo na Áustria. A regularidade interna desse tipo de forma de transição ficou clara – naturalmente, não num sentido fatalista, mas dialético, ou seja, para aqueles países e períodos, onde e quando o fascismo com crescente sucesso, ou seja, sem a resistência vitoriosa do proletariado, investe contra posições da democracia burguesa, a fim de estrangular o proletariado.

No período de Brüning-Schleicher, Manuilski-Kuusinen proclamaram: “o fascismo já está aqui”; afirmavam que a teoria de um estágio transitório, bonapartista, era uma tentativa de embelezar e esconder o fascismo, com o objetivo de facilitar a política social-democrata do “mal menor”. Chamavam, então, os social-democratas de social-fascistas, sendo os social-fascistas mais perigosos, depois dos trotskistas, aqueles considerados sociais-democratas de “esquerda”, do tipo de Jiromski, Marceau de Pivert, Just, entre outros. Agora tudo isso mudou. Em relação à França atual, os stalinistas já não podem repetir: “o fascismo já está aqui”; pelo contrário, aceitaram a até ontem rejeitada política de frente única com o objetivo de vencer o fascismo na França. Viram-se obrigados a diferenciar o regime de Doumergue do regime fascista. Mas a essa diferenciação eles chegaram empiricamente, e não como marxistas. Não fazem sequer uma tentativa de dar uma definição científica ao regime de Doumergue. Quem no terreno da teoria opera por categorias abstratas, no terreno da prática está condenado a capitular indistintamente diante dos fatos. Entretanto, justamente na França, a transição do parlamentarismo para o bonapartismo (ou, mais precisamente, a primeira etapa dessa transição) tomou um caráter especialmente claro e demonstrativo. Basta se lembrar de que o governo de Doumergue entrou em cena entre o ensaio de guerra civil por parte dos fascistas (em 6 de fevereiro) e a greve geral do proletariado (em 12 de fevereiro). Tão logo os campos irreconciliáveis ocuparam posições de luta nos polos da sociedade burguesa, tanto mais rapidamente se verificou que a máquina de calcular do parlamentarismo estava perdendo qualquer significado. É verdade que o governo de Doumergue, como a seu tempo o governo de Brüning-Schleicher, por sua imagem exterior, parece governar em acordo com o parlamento. Mas esse parlamento abdicou de si mesmo. Um parlamento que sabe que, em caso de resistência, o governo vai seguir sem ele. Graças a um relativo equilíbrio entre o campo da contrarrevolução que ataca e o campo da revolução que se defende, graças à sua temporária neutralização mútua, o eixo do poder se deslocou acima das massas e acima de seus representantes parlamentares. Foi preciso buscar o cabeça do governo fora do parlamento e “fora dos partidos”. O cabeça do governo chamou em seu socorro dois generais. Essa trindade se apoiou nos reféns parlamentares situados simetricamente à esquerda e à direita. O governo aparece não como um órgão executivo de uma maioria parlamentar, mas como um árbitro mediador entre dois campos em disputa.

Um governo que se eleva sobre a nação não se apoia, todavia, no ar. O eixo real do atual governo passa pela polícia, pela burocracia, pela guerra. Diante de nós, uma ditadura milico-policial, ainda ligeiramente encoberta por uma decoração parlamentarista. Mas um governo de sabre, na qualidade de juiz mediador da nação, é isso o que é o bonapartismo.

O próprio sabre por si não é um programa independente. É um instrumento da “ordem”. Visa a conservar tudo o que existe. Ao se levantar politicamente sobre as classes, o bonapartismo, assim como o seu antecessor, o cesarismo[4], em um sentido social, sempre foi e continua sendo o representante da parte mais forte e resistente dos exploradores; o atual bonapartismo não pode ser, consequentemente, nada além de um representante do capital financeiro, que dirige, inspira e corrompe as altas burocracias, a polícia, a oficialidade e a imprensa.

A “reforma constitucional”, sobre a qual muito se tem falado no curso dos últimos meses, tem como única tarefa ajustar as instituições estatais às necessidades e às conveniências do governo bonapartista. O capital financeiro procura caminhos legais que lhe deem a possibilidade de se impor à nação como o juiz mediador cada vez mais adequado. Evidentemente, o ministério de Doumergue não é o ideal de um “governo forte”. Nesse terreno, são possíveis e inevitáveis ainda novas experiências e combinações, caso o curso ulterior da luta de classes lhes deixe tempo suficiente.

Na ordem dos prognósticos, convém repetir que os leninistas-bolcheviques falaram a seu tempo em relação à Alemanha: as chances políticas do atual bonapartismo francês não são grandes; sua estabilidade se determina pelo tempo e, em sua própria essência, um equilíbrio instável dos campos do proletariado e do fascismo. A correlação de forças desses campos deve se alterar rapidamente, em parte sob influência da conjuntura econômica, mas, principalmente, a depender da qualidade política da vanguarda proletária. O embate entre esses dois campos é inevitável. O processo será medido em meses, e não em anos. Um regime estável pode se formar apenas depois do embate, a depender de seu resultado.

O fascismo, assim como o bonapartismo, pode estar no poder apenas como representante do capital financeiro. Nesse sentido social, não se diferenciam um do outro, assim como da democracia parlamentar. Os stalinistas o têm descoberto cada vez mais, esquecendo-se de que as questões sociais se resolvem no campo da política. A força do capital financeiro não está no fato de que ele, a qualquer momento, pode estabelecer qualquer governo pela força de seu desejo – ele não tem essa força; mas no fato de que qualquer governo não proletário é obrigado a servir ao capital financeiro; ou, de outro modo: no fato de o capital financeiro ter a possibilidade, quando um sistema de domínio entra em declínio, de substituí-lo por outro mais responsivo às condições em mutação. Contudo, a transição de um sistema para outro significa uma crise política, que, pela atividade do proletariado revolucionário, pode se transformar em um perigo social para a burguesia. Já a transição da democracia parlamentar para o bonapartismo esteve acompanhada na França da explosão da guerra civil. A perspectiva da transição do bonapartismo para o fascismo guarda em si, inevitavelmente, choques sociais mais terríveis, e, como consequência, também possibilidades revolucionárias.

Os stalinistas viam até pouco tempo atrás com nosso “principal erro” o fato de que, para nós, o fascismo é a pequena burguesia, e não o capital financeiro. Categorias abstratas se colocam, também neste caso, no lugar da dialética das classes. O fascismo é uma modo especial de mobilização e organização políticas da pequena burguesia pelos interesses sociais do capital financeiro. Sob o regime da democracia, o capital se esforça para inculcar nos trabalhadores a confiança na pequena-burguesia reformista e pacifista. A transição para o fascismo, ao contrário, é impossível sem que a pequena burguesia tenha sido previamente impregnada do ódio ao proletariado. Nesses dois sistemas, o domínio de uma única e mesma supraclasse exploradora, o capital financeiro, apoia-se diretamente nas relações opostas das classes oprimidas.

A mobilização política da pequena burguesia contra o proletariado é inconcebível, contudo, sem a demagogia social que significa, para a grande burguesia, brincar com fogo. Quais perigos reais a reação licenciosa pequeno-burguesa representa para a “ordem”[5] sustentam os acontecimentos recentes na Alemanha. Eis porque, apoiando e sustentando ativamente, em face de uma de suas alas, o banditismo reacionário, a burguesia francesa tenta, ao mesmo tempo, não levar a coisa para a vitória política do fascismo, mas estabelecer um “poder forte” que deve, no fim das contas, disciplinar ambos os campos extremos.

Dissemos o suficiente para demonstrar o quanto é importante diferenciar a forma de poder bonapartista da fascista. Seria, contudo, imperdoável cair no extremos oposto, ou seja, converter o bonapartismo e o fascismo em duas categorias lógicas incompatíveis. Como o bonapartismo se inicia com uma combinação do regime parlamentar com o fascismo, o fascismo triunfante fica obrigado não apenas a entrar em um bloco com os bonapartistas, mas, ainda, a se aproximar de um sistema de bonapartismo. O domínio prolongado do capital financeiro através da demagogia social reacionária e do terror pequeno-burguês é impossível. Ao chegar ao poder, os líderes fascistas precisam refrear as massas que vão atrás deles por meio do aparato estatal. Com isso, perdem o apoio de amplas camadas da pequena burguesia. A menor parte dela é assimilada pelo aparato burocrático. Uma parte cai na indiferença. Uma parte, sob distintas bandeiras, entra na oposição. Mas, ao perder sua base social massiva, ao se apoiar no aparato burocrático e ao manobrar entre as classes, o fascismo se degenera, assim, em bonapartismo. A evolução paulatina também aqui é interrompida por episódios tempestuosos e sangrentos. Diferentemente do bonapartismo pré-fascista, ou preventivo (Giolitti, Brüning-Schleicher, Doumergue, entre outros), que reflete o equilíbrio extremamente instável e breve dos campos em combate, o bonapartismo de origem fascista (Mussolini, Hitler, entre outros), cresce da derrota, da decepção e da desmoralização de ambos os campos, distinguindo-se por uma estabilidade significativamente maior.

A pergunta: “fascismo ou bonapartismo?” gerou conhecidas divergências entre nossos camaradas poloneses em relação ao regime de Pilsudski[6]. A própria possibilidade de tais divergências não poderia dar melhor testemunho de que nós tomamos a coisa não com categorias lógicas estanques, mas com formações sociais vivas, as quais nos diferentes países e nas diferentes etapas apresentam características extremamente proeminentes.

Pilsudski chegou ao poder como resultado de um levante apoiado no movimento de massa pequeno-burguês e direcionado diretamente contra o domínio dos partidos burgueses tradicionais em nome de um “Estado forte”: este é sem dúvida um traço fascista do movimento e do regime. Mas o peso político, ou seja, o peso específico das massas do fascismo polonês foi muito mais fraco que o do italiano, a seu tempo, e mais ainda que o do alemão; Pilsudski teve que usar, em muito maior medida, os métodos de conspiração militar e encarar, com muito mais cuidado, a questão das organizações operárias. Basta lembrar que o golpe de Pilsudski contou com a colaboração e o apoio do partido polonês stalinista! A crescente hostilidade da pequena-burguesia em relação ao regime de Pilsudski, por sua vez, dificultou-lhe uma pressão geral sobre a classe operária. Como resultado de tal situação, a manobra entre as classes e os setores nacionais das classes ocupava e ocupa em Pilsudski um lugar significativamente maior – enquanto o terror de massas, um lugar menor – do aquele correspondente aos períodos de Mussolini e Hitler: nisto está o elemento bonapartista do regime de Pilsudski. Seria, contudo, um claro equívoco comparar Pilsudski com Giolitti ou Schleicher e esperar que ele se torne o novo Mussolini ou o novo Hitler poloneses. É metodologicamente incorreto desenhar um fascismo “ideal” qualquer e contrapô-lo àquele fascismo real, o qual, com todas as suas particularidades e contradições, cresceu das relações entre as classes e as classes nacionais do Estado polonês. Se poderia Pilsudski levar até o fim a derrota das organizações proletárias – a lógica da situação o conduz inevitavelmente por esse caminho – depende não da definição formal de “fascismo como tal”, mas da correlação de forças real, da dinâmica dos processos políticos nas massas, da estratégia da vanguarda do proletariado e, finalmente, da saída dos acontecimentos da Europa ocidental, acima de tudo, na França. A história pode inscrever com sucesso que o fascismo polonês foi derrubado e convertido em pó antes que tivesse tempo de se concluir como expressão “totalitária”.

Não menor peculiaridade representa o processo de fachistização da Áustria. Até a derrota da artilharia de Viena, o regime de Dollfuss conservou claramente o caráter bonapartista; mandatário da alta burguesia, sem um ponto de apoio nas massas, desempenhou um papel de juiz mediador militar entre os campos da social-democracia, dos nacionais-socialistas e dos austro-fascistas de tipo cristão-provincial. Esse triângulo de antagonistas mais o apoio da Itália e da França asseguraram uma estabilidade significativamente maior que os equilibristas de mesmo tipo em outros países. A derrota dos nazistas austro-húngaros foi possível graças apenas à benevolente neutralidade da social-democracia. A derrota desses últimos, aumentando o peso específico do Heimwehr, levou ao estabelecimento do regime fascista de fato, no qual Dollfuss personificava os restos de continuidade bonapartista. Não se pode esquecer de que, no fascismo alemão, cuja autenticidade ninguém se atreverá a negar, que Hindenburg e seus sabujos permanecem ainda em nossos dias como representantes da tradição daquele período, em que o presidente dos bonapartistas arrancaram o eixo da constituição da República de Weimar[7] e abriram os portões para o fascismo.[8]

Foi dito acima que o bonapartismo de origem fascista é incomparavelmente mais estável que os experimentos bonapartistas preventivos, aos quais recorre a alta burguesia na esperança de evitar o derramamento de sangue fascista. Contudo, ainda mais importante – tanto do ponto de vista teórico quanto prático – é destacar que o próprio fato da degeneração do fascismo em bonapartismo significa para ele o começo do fim. Quanto pode durar o declínio do fascismo, e em qual momento a doença se converte em agonia, depende de muitas razões internas e externas. Mas já a extinção da atividade contrarrevolucionário pela pequena burguesia, seu desânimo e sua desagregação, o enfraquecimento de sua pressão sobre o proletariado abrem novas possibilidade revolucionárias. A história inteira traz testemunhos de que manter o proletariado sob grilhões somente com a ajuda de um aparato policial é impossível. É verdade que a experiência Italiana testemunha que a herança psicológica experimentada em catástrofes grandiosas se mantém nas massas operárias por muito mais tempo que a correlação de forças política proporcionada pela catástrofe. Mas a inércia psicológica da derrota é um ponto de apoio precário. Pode ruir de vez pela ação de um tremor vigoroso. Um tal tremor para a Itália, a Alemanha, a Áustria, e outros países, poderia representar a luta triunfante do proletariado francês.

A chave revolucionária para a situação da Europa e de todo o mundo se encontra agora, antes de tudo, na França!

L. Trótski

La vérité, 3 de agosto de 1934

 

 

Índice onomástico


Adolf Hitler (1889-1945): serviu no exército alemão durante a Primeira Grande Guerra chegando à patente de Cabo. Entrou, em 1919, no Partido Trabalhista Alemão (DAP) e em 1920 ficou encarregado da propaganda partidária, tendo o partido se transformado no Nationalsozialistishe Deutsche Arbeiter partei (NSDAP, na sigla em alemão para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães). Em 1921 se tornou presidente do Partido com total poder. Em 1933 foi indicado Chanceler pelo Presidênte da República, convenceu Hindenburg a fechar o parlamento, tornando o partido nazista como o único partido da Alemanha. Em 1934, assume a presidência do país. Em 1939, inicia a Segunda Guerra Munidial.

Alexandre Obrenović (1876 -1903): rei da Sérvia de 1889 até 1903. Em 1893, praticou seu primeiro golpe de Estado: proclamou-se maior de idade e tornou-se a autoridade real. Em 1894, através de um segundo golpe de Estado, restourou a antiga constituição de 1869, derrubando a constituição liberal de 1889.

Benito Amilcare Andrea Mussolini (1883-1945): conhecido também como “II Duce” (O Condutor), ditador italiano que governou a Itália de 1922 a 1943. Apoiou as ideias socialistas durante um período de sua vida, tendo escrito, inclusive, artigos em defesa do mesmo quando era redator-chefe do jornal Avanti. Entretanto, foi expulso do Partido Socialista Italiano e fundou em 1919, a FasciItalianidiCombatimento, embrião do futuro Partido Fascista.

Chiang Kai-shek (1887-1975): militar que, depois da declaração da República de 1911, colaborou com SunYat Sen na criação do Exército Nacionalista. Liderou o Kuomintang, levando-o à direita, desencadeando a guerra civil (1927-1949) contra o Partido Comunista. Possuia o apoio do governo norte-americano. Entre 1931 e 1945, em uma alinaça tênue com o Partido Comunista, lutou contra os japoneses.

Engelbert Dollfuss (1892-1934): político pelo Partido Social-Cristão Austríaco; serviu como ministro do meio-ambiente e agricultura, ascendeu ao posto de chanceler federal em 1932, em meio a uma crise do governo.

Giovanni Giolitti (1842 – 1928): político italiano, foi Presidente do Conselho de Ministros, por cinco mandatos (“Era Giolittiana”). Era um liberal, atuando com a ampliação da base democrática na Itália recem unificada, no fim do século XIX e começo do século XX. A partir de 1924, atuou na oposição a Mussolini.

Heimwehr: grupo paramilitar nacionalista inicialmente operando dentro da Áustria durante os anos 1920 e 1930, que atuou com os mesmos métodos, organização e ideologia de Freikorps da Alemanha nazista.

Heinrich Brüning (1885-1970): chanceler da Alemanha de 1930 a 1932. Foi oposição ao governo alemão nas eleições de 1933, após a ascensão de Hitler.

James Ramsay MacDonald (1866-1937): político inglês, um dos fundadores e dirigentes do Partido Trabalhista Independente e do Partido Trabalhista da Grã-Bretanha. No início da primeira guerra mundial era pacifista, mas depois passou a ser um aliado da burguesia imperialista. Praticou relações diplomáticas com a URSS e foi primeiro-ministro em diversos governos. Oportunista que atuava pelo vies da teoria de conciliação de classes e defendia o gradualismo do capitalismo para o socialismo.

Jan Garrigue Masaryk (1886 – 1948): diplomata e político checoslovaco, foi Ministro das Relações Exteriores da Checoslováquia no exílio durante a Segunda Guerra Mundial e uma figura pública proeminente após a guerra.

Józef Klemens Pilsudski (1867-1935): nacionalistapolonês. Em 1887 foi preso por planejarumatentado contra o tsar Alexandre III. Em 1892, entrou para o Partido Socialista Polaco (PSP), formando a fraçãonacionalista no Partido, em 1906. Durante a Revolução (1905-1907), criougruposterroristas, opondo-se a açãoconjunta do proletariado. Comandou a LegiãoPolaca e lutouaoladodos austro-húngaros  contra a Rússia. Em 1918 foiproclamado «ditador do Estado» com o apoio da ala direita do PSP. Reprimiu o movimento revolucionário e instaurou, por golpe militar em 1926, um regime fascista, mantendo-se naliderança do paísquaseaté à morte.

Kurt von Schleicher (1882 – 1934): militar e político alemão. Chanceler da República de Weimar. Foi sucedido por Adolf Hitler, depois de ter sido assassinado na Noite das Facadas Longas.

Marceau de Pivert (1895-1958): integrante do grupoBatalha Socialista francês, quedefendia a nãoparticipaçãoem governo burguês; organizou a tendênciaEsquerdaRevolucionaria; ingressou no Partido Socialista (1919); fundou o Partido Socialista Operário e Camponês (Parti Socialiste Ouvrier et Paysan- PSOP) (1938); voltouaoPartido Socialista póssegunda guerra mundial; se exilou no México onde se juntoucom Victor Serge; e depois do exiloio, retornou à França lutando contra a guerra naArgélia.

Miguel Primo de Rivera y Orbaneja (1870-1930): militar e ditador espanhol, fundou a organização União Patriótica, que inspirou a União Nacional portuguesa.

Paul Ludwig Hans Anton von Beneckendorff und von Hindenburg (1847-1934): Marechal de Campo durante a Primeira Guerra Mundial e segundo Presidente da República de Weimar. Quando Presidente, indicou Adolf Hitler ao cargo de Chanceler. Morre 1934 e Hitler assume a presidência na Alemanha.

Pierre Paul Henri Gaston Doumergue (1863 -1937): político francês. Foi Presidente do Conselho de Ministros da França e Presidente da República Francesa em 1924 até 1931.

 

 

[1] O original em russo está disponível em: <http://iskra-research.org/FI/BO/BO-40.shtml>. Acesso em 14 out. 2018. Notas traduzidas da versão em espanhol por Jean Barroso; foram anotadas como “NTE” (Nota da Tradução Espanhola). Disponível em: <http://www.ceip.org.ar/Bonapartismo-y-fascismo>. Acesso em 15 out. 2018. Índice onomástico e notas: Renata Munin; as notas acrescentadas à edição brasileira estão discriminadas como “NTB” (Nota da Tradução Brasileira). (NTB).

[2] Conceito de Karl Marx popularizado por Vladímir Lênin durante as disputas sindicais no ano de 1921. A frase Lênin atribui ao velho marxista russo Gueórgui Plekhánov em artigo para o Pravda. (NTB).

[3]Trotski não tinha nenhuma dúvida que o líder italiano Benito Mussolini e o marechal e chefe de estado polonês Josef Pilsudiski eram fascistas, mas, por diversas razões, considerava incorreto usar o mesmo termo para caracterizar o ditador espanhol Miguel Primo de Rivera, o ditador nacionalista chinês Chiang Kai-shek, o presidente liberal da Tchecoslováquia Thomas Masarik, o chanceler católico conservador da Alemanha Heinrich Brüning, o ditador chanceler socialista-cristão da Áustria EngelbertoDollfuss, o rei sérvio Alexandre I, o ministro social-democrata do interior para Prússia Karl Severing, ou o reformista inglês RamsayMacDonald. (NTE).

[4] Período da República Romana, na última fase do feudalismo, quando se apresentava um regime de monarquia absoluta. (NTB).

[5] Na “purga sangrenta” de 30 de junto de 1934, Hitler liquidou dirigentes nazistas que lhe inspiravam pouca confiança e figuras políticas não nazistas. (NTE).

[6] Em 1934 Isaac Deutscher era um dos bolcheviques leninistas poloneses que sustentava estas diferenças. Décadas mais tarde escreveu em uma nota de rodapé, de seu livro O Profeta Banido: “Em sua época Trotski foi o único teórico político que deu uma definição precisa do fascismo. No entanto, em algumas ocasiões à aplicou muito imprecisamente. Previu a iminência do fascismo na França e insistiu em rotular de fascista a ditadura pseudo bonapartista de Pilsudski na Polônia, apesar de Pilsudki não governar de maneira totalitária e ter que aceitar a existência de um sistema multipartidário. Por outro lado, de maneira bem pouco convincente descreveu como bonapartistas os efêmeros governos de Schleicher e Papen e também o débil governo Doumergue de 1934. (E só em 1940 caracterizou ao regime de Petain como pseudo bonapartista mais do que como fascista.)Discuti estes pontos com Trotski na década de 30, mas o tema historicamente é demasiado insignificante para ser retomado aqui.” Seja qual for a posição de Deutscher sobre Pilsudski, a de Trotski está claramente apresentada neste artigo. A explicação de Deutscher é confusa pelo menos em dois aspectos: dado que o regime de Petain se instaurou em 1940, é difícil compreender como Trotski poderia tê-lo definido antes. E sua caracterização de “forma senil de bonapartismo na época da decadência imperialista” e não “fascismo no verdadeiro sentido da palavra” (ver O bonapartismo, o fascismo e a guerra nos Escritos 1939-1940) está totalmente de acordo com sua posição sobre o problema na década de 30 e de nenhuma maneira implica, como parece querer dizer Deutscher, em uma ruptura com esta posição. (NTE).

[7] Nome dado à República estabelecida na Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial, em 1919, e que terminou com o ascenso do regime nazista em 1933.

[8] Este parágrafo não consta da tradução para o espanhol publicada pelo CEIP.

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