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PACTO DE IMPUNIDADE? | Votos pela impunidade, ops, quer dizer, impeachment

Entre as muitas negociações em curso em Brasília, uma chama a atenção: é da bala de prata na Lava Jato. Muito se especula que Temer tenha conseguido atrair o PP de Paulo Maluf propondo um grande pacto pelo fim da Lava Jato. Também não faltam especulações de que isto teria sido um dos fatores para os desafetos Cunha e Temer darem as mãos. Moro já anunciou que sua operação terminaria em dezembro. Estaria sendo costurado este pacto? Quais são suas possibilidades e limites?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quinta-feira 14 de abril de 2016 | Edição do dia

fonte: Lula Marques / Agência PT

Coincidência ou não, Paulo Maluf, o mais retilíneo de nossos nobres tribunos, foi agraciado em ter seu nome retirado da Interpol depois de abandonar a defesa do governo. Pode ir para a Suíça em paz.

Há interesses pela impunidade de par em par

Começando pelo PP, com 32 deputados citados no esquema. Cunha trabalha noite e dia por sua impunidade. Os tucanos impunes, de berço esplendido da Avenida Paulista e da Savassi (ou da Vieira Souto, para ser mais justo com Aécio), poderiam entrar no esquema como avalistas, prometendo que "serão tratados como nós". O PT, até o poder judiciário começar a lhe atacar, nunca ergueu uma voz contra a seletividade, arbitrariedade, não parece ter o controle da PF e MPF para oferecer algum pacto do tipo. Oferece cargos. Temer também oferece. Lula está sendo forçado a oferecer no varejo, uma vez que sua oferta no atacado para o PP não foi suficiente.

Brasília está em clima de Black Friday. A loja Temer oferece descontos para bater a loja Lula-Dilma. Os preços e a qualidade do ofertado são duvidosos. Mas que preços!

Diferentes ajustes contra os trabalhadores se configuram em cada promoção desta democracia degradada. Um mais duro com uma "ponte para o futuro" (neoliberal) de Temer e uma combinação de crédito, migalhas para os movimentos sociais e alguns ajustes estruturais (como a reforma da previdência) por Lula. Em meio a estes dois ajustes e estes dois saldões da governabilidade, falta saber como agirá o terceiro ator da realidade.

Como viemos dizendo, há três grandes atores. A direita e seu impeachment; Lula e o PT buscando desviar o movimento democrático contra a direita para se tornar um apoio a Lula, ao mesmo tempo que tenta atrair um baixo clero de direita para sua governabilidade; e o terceiro é o cada vez mais "acima do bem e do mal" judiciário. O judiciário se apoia na mídia e em setores acomodados da classe média. Morobloco e consortes. Este poder aceitará em silêncio o fim de seu status privilegiado em um pacto geral de impunidade que dará respiro ao executivo e legislativo em detrimento de si mesmo? Poderá o judiciário conduzir sua espada somente sobre o PT, ou, pelo contrário, levará a cabo ameaças contra todos os políticos como fez ontem Moro? Isto não é chave para que avance em seu projeto de maior autonomia?

Não seguir esta promessa "de terra arrasada" poderia ajudar a desmoralizar o judiciário e a Lava Jato. A crescente percepção popular de que só punem petistas e seus empresários amigos é contraproducente aos desejos deste poder se tornar maior que os outros. Mais do que qualquer poder, o judiciário exige a percepção (obviamente não a realidade) de imparcialidade para ter sucesso e legitimidade. Um obstáculo para esta popularidade é a percepção popular dos abusos da toga. Limpar-se de seu próprio vício exige atacar outros pilares do regime que não somente o PT. Por outro lado, fazê-lo exige um cheque em branco que não lhe está sendo dado pelo imperialismo e setores do empresariado, pois teria que ir além de um mero impeachment. Lava Jato viraria Mani Pulite italiana?

A "Mani Pulite" (Mãos Limpas) italiana explodiu os dois principais partidos do regime e terminou em Berlusconi e pizza (4 presos dos 2500 condenados). Temer ou Aécio ou Marina seria o suficiente para combinar com a napolitana tupiniquim?

Pode o judiciário acordar isto, ou muito menos o mero fim da Lava Jato em prol de uma estabilização rápida de um novo governo (Lula ou Temer), ou seus voos para erguer-se todo-poderoso já diminuem o espaço para acordos?

Esta batalha não se esgota no domingo do impeachment. E há múltiplos atores no judiciário que convergem todos em busca de maior autonomia para si e seus pares. E esta batalha é somente um dos muitos fatores de instabilidade para marcar o "dia depois de domingo" com suas muitas incógnitas; não só no resultado, mas também na luta de classes.




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