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VOLTA ÀS AULAS | Volta às aulas e a "normalidade" pela visão dos secundas - parte I

Secundaristas relatam como será voltar as escolas depois desse período de lutas que passaram, o que significa a escola e o seu cotidiano.

Ana TerraCampinas

sábado 13 de fevereiro de 2016 | 00:00

Segunda feira voltamos para as escolas, voltamos para os portões, aquelas campainhas absurdamente nos prendendo entre as grades de aulas, como se já não bastasse as grades das janelas. Salas extremamente quente e aquele barulho do ventilador ligado, quase quebrando e uma chamada imensa de alunxs inexistentes nas salas ou o superlotamento das salas, em que ninguém ouve quando é chamado, porque, não passamos de números pro governo e pra educação, afinal, serão números que decidirão o rumo da vida de cada um ali.

Período noturno, todxs cansadxs, alunxs que trabalharam o dia inteiro e vão para a escola querendo apenas comer. Professores cansadxs de suas salas, salários atrasados, o mesmo de sempre. A mesma realidade de todo inicio de ano e volta as aulas, um inicio que não sai do sistema, que começa com as escolas sem professores e alunos sem aulas.

Já sentamos esperando xs inspetorxs virem avisar que podemos guardar o material, isso quando são tirados da bolsa e tudo o que se ouve são as musicas tocando pelos corredores os gritos, risos, desabafos, conversas de uma juventude que anda carregando um ódio dentro de si por ter sido abandonada dentro dessas rotinas e obrigações que não nos fazem sentido algum. Nos levando a levantar da cama, pra viver para trabalhar e ir pra escola, pra não reprovar. São essas as finalidades que nos deram, são esses os sentidos que nos impuseram e até o final ou meio do ano varixs dessxs alunxs já abandonaram suas escolas desistindo, sentindo-se sufocadxs ou sendo pais durante a adolescência. Algumas das meninas prontas para serem mães só esperando para um novo sistema de imposições vir sobre elas, a maternidade. E ai já são, trabalho, filhx, marido que se tornam jornadas demais, pra uma menina que acaba abandonando a escola.

A grande maioria ali, nem sonha com um vestibular, com uma faculdade, muito menos sabe o quer fazer da vida. Está apenas ali, esperando as aulas acabar ou algum professor faltar. Não gostamos de provas, de ficar três horas sentados em uma cadeira, tentando resolver exercícios, pra depois ficar esperando por uma nota mínima e muito menos passar no vestibular. Não fomos preparadxs pra isso, nossa realidade é outra. E mesmo assim, quando passamos no vestibular ou resolvemos pagar uma faculdade quem garante a permanecia? Essas universidades não estão preocupadas com seus alunxs, de certa forma também são parte do sistema e estão nas mãos da burguesia.

Quando ocupamos as escolas, foi por cima de tudo isso que queríamos passar, por cima de toda a burocracia, toda a direção controladora e secretarias que fecham nossas escolas aos finais de semana e não nos dá espaço pra falar, espaço pra nos divertir. E colocam muitas vezes professores machistas que tiram proveito de suas alunas, em troca de nota ou com piadinhas bizarras pra cima da gente. Professorxs que não estão prontos para lidar com as salas, que não possuem formação para lidar com a nossa realidade e nem mesmo a realidade delxs, que agora faz parte da nossa. Professorxs que reproduzem LGBTfobia não respeitando nossa sexualidade, sendo assim, reproduzem todo ódio a periferia onde moramos, nos taxando como ladrões, traficantxs, vagabundxs, maconheirxs, entre outras coisas que nos acusam como se não fossemos a conseqüência de algo, sendo a maioria negrxs.

Mas ainda sim, estamos lá e não vamos parar de lutar, o sistema é falho e não foi pensado pra nós, continuaremos resistindo, dia após dia, a nossa existência já é uma luta! E como aluna secundarista, LGBT e mulher acredito que apesar das "normalidades" das voltas às aulas estamos prontxs pra enfrentar uma nova jornada de luta que se fez renascer de uma maneira diferente depois das ocupações.




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