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ELEIÇÕES 2018 | Villas Boas e o papel auxiliar das Forças Armadas ao golpismo judicial

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

segunda-feira 10 de setembro de 2018 | Edição do dia

As Forças Armadas não deixam dúvidas de como são um "pilar auxiliar" do golpe institucional e do autoritarismo judiciário para que estas eleições sejam completamente manipuladas.

Após o veto autoritário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) à candidatura de Lula, e dias antes do prazo final concedido pela mesma Corte eleitoral para que o PT substitua Lula por outro candidato presidencial, o comandante das Forças Armadas, Eduardo Villas Boas, deu entrevista ao Estadão manifestando a posição política que se discute no alto escalão da caserna.

Para Villas Boas, "a legitimidade do novo governo pode até ser questionada", depois da facada a Jair Bolsonaro, candidato do PSL. Segundo o comandante, a situação política estaria criando "dificuldade para que o novo governo tenha uma estabilidade, para a sua governabilidade, e podendo até mesmo ter sua legitimidade questionada. Por exemplo, com relação a Bolsonaro, ele não sendo eleito, ele pode dizer que prejudicaram a campanha dele. E, ele sendo eleito, provavelmente será dito que ele foi beneficiado pelo atentado, porque gerou comoção. Daí, altera o ritmo normal das coisas e isso é preocupante".

Trata-se de uma insinuação sutil sobre o cenário de Bolsonaro não ser eleito, e a alegação que poderia fazer de que "foi prejudicado". Seria essa a opinião do Alto Comando? Apesar de dizer que Bolsonaro não é candidato das Forças, Villas Boas reconheceu que "Obviamente, ele tem apelo no público militar, porque procura se identificar com as questões que são caras às Forças, além de ter senso de oportunidade aguçada".

"Senso de oportunidade aguçada", diríamos, tem o próprio Villas Boas, quando se trata de interferir na política nacional. Já havia feito isso em tweet no dia anterior do julgamento do habeas corpus de Lula no Supremo Tribunal Federal, a 4 de abril, pressionando o STF a não acatar o HC e liberar Sérgio Moro e o TRF4 para prender o líder petista arbitrariamente.

À ocasião, Villas Boas havia dito que "o Exército compartilha o repúdio à impunidade e o respeito à Constituição", que em sua interpretação deveria levar à prisão arbitrária de Lula.

Desta feita, o comandante decidiu opinar sobre o parecer do Comitê de Direitos Humanos da ONU, que fez um requerimento ao Estado brasileiro para que os direitos políticos de Lula fossem preservados (ou seja, que participasse das eleições). Sempre tão submisso às "intromissões na soberania nacional" por parte das instituições imperialistas, dessa vez o bravo Villas Boas disse, a respeito do parecer do Comitê da ONU, que:

"É uma tentativa de invasão da soberania nacional. Depende de nós permitir que ela se confirme ou não. Isso é algo que nos preocupa, porque pode comprometer nossa estabilidade, as condições de governabilidade e de legitimidade do próximo governo."

Um "depende de nós" que, sem muita ambiguidade, significa que o respeito aos direitos políticos de um personagem como Lula, que acumula mais de 40% das intenções de voto em todo o país, depende das Forças Armadas. Cabe lembrar: se fazem isso com um personagem como Lula - sempre adepto à conciliação com a burguesia e à direita - o que não farão com os trabalhadores, a esquerda e os sindicatos?

Como se não fosse golpista o suficiente, frente à pergunta sobre qual seria a posição das Forças se Lula terminasse elegível e ganhasse as eleições, disse que: "[...] O pior cenário é termos alguém sub júdice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da Ficha Limpa, tirando a legitimidade, dificultando a estabilidade e a governabilidade do futuro governo e dividindo ainda mais a sociedade brasileira".

Trata-se de um testemunho político evidente: o Exército considera um "ataque à soberania" o direito de Lula participar das eleições, e na eventualidade de vencer, atuaria a respeito. Essa grotesca violação dos últimos vestígios de soberania popular nas democracias burguesas degradadas – o direito da população votar em quem quiser – mostra que a legitimidade de um novo governo vem da chancela da Corte, mas também da caserna.

Assim como fez em abril, o comandante das Forças Armadas interfere no curso da política nacional a bel-prazer. Aparentemente, a cúpula do Exército também enxerga a probabilidade da polarização entre Lula/Haddad e Bolsonaro, e deixa poucas dúvidas sobre onde reside sua simpatia.

Essa politização dos militares, sua interferência recorrente em momentos chave da corrida eleitoral e inclusive sua participação na política com personalidades de alta patente disputando cargos, é parte de assegurar a continuidade do golpe institucional, que tem como pilar nestas eleições impedir que a população tenha o direito de votar em quem quiser.

Nisto, as Forças Armadas estão junto ao autoritarismo judiciário e à Lava Jato, degradando ainda mais a já limitada democracia burguesa, mantendo Lula preso arbitrariamente.

Não há dúvida que o PT fortaleceu o autoritarismo judicial e ajudou as Forças Armadas a "estenderem as asas" sobre a política: a política petista em 13 anos de governo abriu o caminho ao golpe institucional, tendo governado junto à direita e assimilado os métodos de corrupção próprios do capitalismo. É incapaz de enfrentar seriamente essa tirania golpista. Por isso, não apoiamos voto em nenhuma das candidaturas do PT. O Esquerda Diário busca preparar, teórica e praticamente, uma esquerda anticapitalista e revolucionária, para quando as massas terminem de fazer sua experiência com o PT.

Entretanto, repudiamos essas declarações grotescas por parte das Forças Armadas, e defendemos irrestritamente o direito da população votar em quem quiser (inclusive em Lula, se assim desejar), sem qualquer interferência dos "poderes fáticos" judiciais ou militares.




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