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FALTA DE ÁGUA | Uma crise que está apenas começando

Uma análise da situação atual da crise da água, sua relação com o risco de apagão e as perspectivas políticas para enfrentar o problema desde o ponto de vista dos trabalhadores.

Thiago FlaméSão Paulo

quinta-feira 5 de fevereiro de 2015 | 11:27

Depois de São Paulo chegar a um ponto sem retorno, com a Sabesp ameaçando um racionamento de dois dias com água e cinco sem água, a história se repete no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. A crise de abastecimento de água já saiu do controle há muito tempo. Mesmo assim, os governos fingem não ver. É realmente trágico, a essa altura dos acontecimentos, escutar a declaração do governador do Rio de Janeiro saindo da reunião com Dilma e dizendo que vai esperar o nível de chuvas de janeiro e fevereiro para ver que medidas tomar. E a medida em questão seria sobre taxar o consumo, como está sendo feito com a energia elétrica, cada vez mais cara.

Apesar do jogo de esconde-esconde entre os governadores e a presidenta, a crise vai se agravando cada vez mais e quem paga a conta são os trabalhadores e o povo. Com a redução da água para irrigação de plantações em São Paulo, os preços estão subindo e vão subir ainda mais em todo o país. Uma série de setores industriais que utilizam grande volume de água já começam a reduzir a produção, o que já está levando e vai levar a ainda mais demissões e reduções de jornada com redução de salário. Além do que é sempre nos bairros mais pobres e periféricos que a falta de água é mais severa.

Junto com a falta de água está vindo a falta de energia. Os recentes apagões mostram que o sistema de geração de energia está operando no limite da capacidade. É quase inevitável um amplo racionamento de energia em várias regiões do país. E a situação está assim no meio da temporada de chuvas no sudeste.

Falta de planejamento e grandes lucros para os empresários

O que vem à tona com a seca que afeta o Sudeste é o uso completamente irracional que se faz de um recurso fundamental como a água. Ao logo de anos quase nenhum investimento é feito para estancar o desperdício de água tratada com vazamentos nas tubulações (que beira os 40% na media nacional), para despoluir rios como Pinheiros e o Tiête em São Paulo, o Rio Carioca ou preservar os mananciais. Em empresas públicas como no Rio de Janeiro é a Cedae, a falta de investimentos anda de mãos dadas com a corrupção e o sucateamento da empresa. Como solução proposta, sempre a privatização, para usar a dita “eficiência” do setor privado. A Sabesp em São Paulo é referencia de empresa publica com capital aberto na bolsa de valores. Uma eficiência fantástica quando se trata de distribuir lucros para os seus acionistas, ao custo, vemos agora, de colocar o próprio abastecimento de água para a população de São Paulo em risco.

A crise que vemos agora foi produzida não pela seca, mas pela própria ação irracional do ser humano. A busca incessante por mais lucro pode levar agora a uma catástrofe social de grandes proporções. O mínimo investimento para o maior retorno financeiro possível. Essa tem sido a lógica da utilização dos recursos hídricos do Brasil. Uma hora, a mina de ouro, ou de água no caso, tinha que secar. Muitos esperavam que este seria um problema que somente as próximas gerações teriam que encarar. Eis que ele está explodindo na nossa cara agora.

Por uma gestão racional dos recursos hídricos e energéticos

Seria possível despoluir os rios das grandes cidades e passar a tratar a maioria do esgoto doméstico produzido. Quem em São Paulo não apoiaria amplos investimentos para despoluir os rios urbanos, torná-los navegáveis e quem sabe até novamente próprios para nadar? É também possível grandes modificações na estrutura produtiva para reduzir a utilização de água da indústria, e aumentar a reutilização. É possível captar água da chuva em larga escala nas cidades e reduzir o consumo dos mananciais. Tecnologia para tudo isso não falta. Até mesmo trocar as tubulações e reduzir o desperdício, nem uma medida tão corriqueira e banal é aplicada. Por quê? Para não afetar os lucros e a rentabilidade, para não aumentar os gastos públicos, pois é necessário economizar para pagar a dívida pública aos banqueiros e investidores milionários.

Agora que chegamos em uma situação-limite, quem vai pagar o preço, mais uma vez, é a população, é a classe trabalhadora.

Para evitar que isso aconteça é necessário, sem dúvida, uma grande mobilização popular. Os exemplos de mobilizações em cidades como Itu, onde vimos várias revoltas pela falta de água, vão se espalhar e podem se multiplicar no próximo período. É a unidade da luta popular nos bairros com a luta dos trabalhadores que pode evitar que quem pague o preço da crise da água sejam os mais pobres.

No plano imediato, seriam necessárias uma série de medidas emergenciais, como impedir as demissões nas indústrias e comércios que sofram com falta de água e energia. Controle dos preços dos alimentos por comitês de consumidores para evitar que as grandes redes lucrem com o desabastecimento. Que a decisão de como e quando racionar água e energia não sejam tomadas pelos governantes e empresários que criaram a atual crise, e sim por comitês de moradores e trabalhadores das áreas afetadas. Mas essas seriam apenas algumas medidas para enfrentar a atual crise, que não resolvem os problemas de fundo que geraram a crise.

Em defesa da água, fundamental para a existência da vida, é preciso tirar a gestão deste recurso das mãos dos empresários e dos governos capitalistas. Seria necessário unificar toda a gestão dos recursos hídricos nacionais em uma única empresa estatal, que não fosse controlada pelos políticos da situação ou oposição, mas pela própria classe trabalhadora, que tem como único interesse a preservação deste recurso vital através do seu uso racional. Ou seja, voltados para as necessidades da humanidade e não do lucro.




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