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Uma convulsiva transição presidencial nos Estados Unidos

Em seu discurso de despedida, Barack Obama alertou sobre uma maior polarização se o futuro presidente não moderar sua política. Trump mantém seu discurso protecionista e reafirma suas medidas racistas.

quinta-feira 12 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Faltam poucos dias para finalizar a transição presidencial nos estados Unidos e como há tempos não se via, a mesma tem se transformado em uma mostra mais da incerteza e preocupação do establishment político estadunidense e mundial ante a chegada de Donald Trump à Casa Branca.

Logo do esperado discurso de despedida do presidente Barack Obama na noite de terça-feira passada, o eleito mandatário estadunidense, Donald Trump, brindou uma conferência de imprensa sem grandes anúncios novos sobre o futuro de sua gestão mas reafirmando seu discurso, em especial, sobre o tema migratório e o emprego.

Em seu último discurso como presidente, Barack Obama buscou mais que reivindicar a gestão de seus mandatos, alertar sobre o futuro dos Estados Unidos. O alerta aponta que se o triunfo de trump é o começo de uma mudança de rumo da política norte americana, é também a expressão de uma crescente contradição entre os interesses de camadas hegemônicas do capital e seu establishment político e distintos setores sociais que tem sido os perdedores depois de décadas de globalização. Esta tendência se expressou no triunfo do Brexit na Inglaterra e no assenso da extrema direita europeia. Nos EUA a campanha e eleição de Trump foi expressão de uma saída pela direita as demandas destes setores, com seu discurso protecionista e nacionalista. Mas também foi a campanha de Bernie Sanders que, com um discurso de esquerda, buscou expressar uma alternativa para estes setores que terminou a diluir-se ao haver entrado na interna do Partido Democrata e terminar apoiando Hillary Clinton como candidata.

Consciente de que estas tendências tem levado ao inesperado triunfo de Trump, e seu discurso de maior protecionismo e nacionalismo de direita, Obama tem se somado a intenção da maioria da elite política de Washington por moderar e disciplinar ao futuro presidente estadunidense. Mas Trump, por hora, não tem dado mostras de uma mudança em seu discurso e propostas, pelo contrário tem mantido uma “guerra” de declarações centradas no caso dos cyber ataques de hackers russos.

Senadores, espiões e a intenção de moderar o futuro presidente

Na conferência de imprensa brindada nesta quarta-feira o eleito presidente, Donald Trump, voltou a se referir ao caso dos cyber ataques por parte de hackers russos, durante as eleições estadunidenses, que o haveriam beneficiado. E se neste caso, Trump disse que Russia “poderia ter” estado por trás dos ataques informáticos, não desaproveitou a oportunidade para voltar a carregar contra quem, segundo ele, tem montado uma “casa de bruxas” parar debilita-lo.

O caso se tem transformado em um dos temas centrais da transição presidencial. Acusações cruzadas, informais e pedidos de sanções contra a Russia por parte da congressistas e vazamento de documentos de Inteligência. O que parece como uma trama de uma novela de espiões é o pano de fundo de uma disputa entre setores do establishment político e o novo presidente para definir as linhas da política do governo dos Estados Unidos.

Claramente a preocupação de democratas e republicanos não tem a ver com uma defesa da “soberania” em geral, a qual não tem nenhum problema em violar sistematicamente quando se trata de outros países. Tão pouco os preocupa a ação dos hackers, em especial quando os Estados Unidos é o principal hacker a nível mundial recompilando dados de milhões de pessoas, organizações, empresas e governos ao redor do mundo (e claro dos próprios cidadãos estadunidenses).

Para lograr algum tipo de condicionamento à política de Trump utilizado as investigações sobre o “hack” russo, chegando ao próprio Putin, e expondo o acionar dos serviços de inteligência estadunidenses. Ao mesmo tempo tem deixado exposta a vulnerabilidade estadunidense, mostrando que a grande potência imperial pode ser atacada chegando ao ponto de pôr em perigo o resultado de uma eleição.

A expulsão de funcionários russos dos Estados Unidos, as sanções contra a Russia e outras medidas, tem reaquecido o clima político antes da assunção de trump, sem que o efeito buscado, tentar marcar os limites nos principais temas sensíveis do governo, tenha tido efeito.

O muro, o protecionismo e as principais potências preparando-se para mudanças geopolíticas

Trump voltou a reafirmar, na conferência de imprensa, boa parte de seu discurso protecionista e assegurou que o muro na fronteira com o México se construirá e serão os mexicanos que o financiarão. Mas se estas declarações confirmam as ameaças expressas pelo futuro presidente durante a semana, em especial contra as principais empresas da indústria automotriz, uma parte de suas respostas pareciam estar dirigidas a confrontar o discurso realizado por Obama na noite anterior.

Barack Obama afirmou que os EUA devem se manter “vigilante mas não assustado” na esfera mundial. “Rivais como Rússia ou China não podem superar nossa influências em todo o mundo, a não ser que renunciemos ao que defendemos, e nos convertamos em outro país grande que abusa de seus vizinhos menores” agregou, em uma clara referência aos ditos sobre a política exterior que Trump pretende imprimir a sua gestão.

Trump, quase como uma resposta direta ao discurso de Obama, afirmou que “Russia e China respeitarão muito mais este país comigo como presidente” em uma mostra de que busca manter seu discurso de que os Estados Unidos necessitam recuperar sua fortaleza, perdida nos últimos anos, o que implicaria uma mudança na política exterior do país.

Mas se ainda não está claro quanto poderá aplicar e quanto ficará em pura retórica, os indícios e movimentos de Trump tem sido suficientes para provocar preocupação e mudanças em zonas do planeta.

Um dos países mais afetados tem sido o México que ante cada declaração do futuro mandatário estadunidense vê como a base de sua economia, assentada durante anos no TLC e a abertura ao saque imperialista, se torna cada vez mais débil. Mas o chamado “efeito Trump” não termina aí. China vê com preocupação os gestos do futuro mandatário estadunidense a Taiwan e por essa via a sua zona de influência na Ásia. A simpatia de Trump com Putin tem servido ao mandatário russo para adiantar-se e afiançar seu apoio ao governo Sírio de Al Assad que, a força de bombardeios e massacres, avançou sobre Alepo buscando mudar a relação de forças na guerra dessa região do Oriente Médio.

Em conclusão, se a transição presidencial estadunidense não tem permitido aclarar o panorama de quais serão finalmente as linhas fundamentais do futuro governo de Trump, o que tem deixado claro é que o próximo período trará maiores polarizações e convulsões, como temos começado a ver. É necessário então, preparar-se para as respostas que possam gerar as políticas direitistas de Trump, para intervir nos processos progressivos que hajam com uma clara orientação de classe, anticapitalista e anti imperialista.




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