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EDITORIAL MRT | Um plano de emergência dos trabalhadores para enfrentar a COVID-19 e o "vírus do capitalismo"

A última semana marcou uma importante viragem na situação política do país: a COVID-19, doença causada pelo novo Coronavírus, chegou ao Brasil e começou a se alastrar com velocidade. Isso escancara a situação do precário sistema de saúde pública brasileiro, já em colapso como consequência dos ataques que o SUS sofreu durante décadas e dos recorrentes planos de ajustes dos governos, como a Emenda Constitucional do Teto de Gastos Públicos aprovada no governo golpista de Temer.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

quarta-feira 18 de março de 2020 | Edição do dia

É evidente que buscam descarregar essa crise sobre as costas dos trabalhadores e da população pobre. Enquanto isso o presidente Jair Bolsonaro trata a pandemia como algo irreal, fruto de conspirações, quando diversos infectologistas têm alertado a possibilidade de que o período grave da pandemia possa durar 4 ou 5 meses. O governo de São Paulo chegou a estimar que o número de pessoas contaminadas, somente no estado, pode ir de 470 mil até 4,7 milhões (1% a 10% da população), com um cenário onde até 20% delas cheguem a desenvolver a doença. Ou seja, a estimativa do próprio governo é que até 940 mil pessoas podem não apenas adquirir o vírus, mas desenvolver de fato a doença, com sintomas, nas próximas semanas e meses. Esses dados evidenciam como as medidas que estão tomando e anunciando não chegam nem aos pés de responder ao cenário que eles mesmos apontam. Sequer o direito de testar todas pessoas que estiveram expostas ou que requeiram o teste de COVID-19 esses governos garantem. A falta de testes significa negar a ciência e colocar mais vidas em risco. Fazem isso para economizar recursos e seguir garantindo subsídios aos empresários e o pagamento da fraudulenta dívida pública.

Fica evidente, ao mesmo tempo, a disputa política entre os setores do próprio regime burguês que querem mostrar "eficiência" diante da epidemia, defendendo medidas como a liberação das aulas e a defesa de que o isolamento seria a melhor saída. A verdade é que a maioria dos trabalhadores não podem simplesmente deixar de ir aos seus trabalhos sob pena de sofrerem descontos e serem demitidos. A campanha da maioria dos governos estaduais sobre o isolamento, especialmente João Dória e Witzel, não somente é uma farsa, mas tem também como principal objetivo esconder a situação dramática da saúde pública e seguir mantendo os aparelhos de saúde privada descentralizados e não atuando para enfrentar a crise em curso.

Enquanto Bolsonaro e seu governo seguem demonstrando seu completo desprezo pelas vidas trabalhadoras vulneráveis à pandemia, um outro setor do regime burguês insinua algumas concessões, como suspender o criminoso Teto dos Gastos, mas defende todas as reformas anteriores (trabalhista, da previdência) e a continuidade dos ajustes neoliberais. Rodrigo Maia e boa parte da imprensa se encaixa nesse segmento, contando com intelectuais como Monica de Bolle, mais ou menos alinhados ao Partido Democrata nos EUA. Não podemos confiar nesses defensores dos ajustes que esmagam a vida dos idosos com a reforma da previdência. Isso porque a "escassez de recursos médicos" a que se referem os governos da Itália, da França, dos EUA e outros (incluindo o Brasil) não caiu do céu: essa catástrofe foi preparada pelos capitalistas.

É neste sentido que, embora seja uma situação difícil, na qual predomina inicialmente o medo e a falta de informação, também já vemos sinais de revolta. Tais sinais aparecem principalmente nos locais de trabalho, onde as consequências dessa crise já se fazem sentir, como mostram as fortes denúncias que viemos recebendo e reproduzindo a partir do Esquerda Diário, como a situação entre os operadores de telemarketing, entre os trabalhadores dos Correios, aeroviários, metroviários e outros. Por isso consideramos fundamental que os sindicatos e suas centrais sindicais organizem os trabalhadores não apenas pra exigir as medidas de liberação ou contingenciamento nos locais de trabalho, mas para levantar um programa concreto de emergência frente à crise. O mínimo seria garantir álcool gel e máscaras, mas principalmente a garantia de testes massivos para toda a população em risco, a contratação imediata de profissionais da saúde que estejam desempregados e a abertura urgente de milhares de novos leitos, especialmente de UTI e com respiradores, para atender a demanda. Nos epicentros mundiais da crise tal demanda chegou a ser de 2,4 leitos de UTI a cada 10 mil pessoas (enquanto pelo SUS há apenas 1 leito a cada 10 mil habitantes, com importantes desigualdades regionais). Para isso seria necessário organizar e coordenar a produção da industria farmacêutica como num esforço de guerra para garantir a produção massiva de testes e demais itens. Essas medidas seriam o mínimo para realmente enfrentar a crise, já que o isolamento não impede a contaminação, somente a prolonga no tempo, como muitos especialistas vieram afirmando e demonstrando que o objetivo é não colapsar ainda mais o sistema de saúde.

Com isso fica claro o caráter fatal da lógica capitalista que até o momento no Brasil não colocou todo sistema privado a serviço de enfrentar a pandemia: todos os aparelhos de saúde, públicos e privados, deveriam estar unificados e centralizados para, junto com as medidas que apontamos anteriormente, enfrentar a crise. Isso não deveria ser para momentos de exceção e sim a nossa luta concreta para impor um sistema de saúde 100% estatal e sob controle dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, que são nossas verdadeiras heroínas da classe trabalhadora, enfrentando os riscos, toda precarização e péssimas condições para salvar aqueles que mais estão sofrendo com essa crise. Para garantir uma verdadeira saúde de qualidade e estar à altura de enfrentar a crise do Coronavírus, é necessário o não pagamento da dívida pública, essa verdadeira bolsa banqueiro, e a taxação progressiva das grandes fortunas, revertendo essas verbas para saúde e assistência social dos trabalhadores em meio à crise.

Esta batalha deveria ser tomada por todos os trabalhadores em suas categorias, para além de suas próprias reivindicações imediatas. Isso deve ser acompanhado de exigir liberação imediata para todos aqueles que fazem parte do grupo de risco ou que apresentem sintomas, sem desconto salarial, além de proibir as demissões e expropriar toda empresa que possa estar em função desse plano de emergência, para produzir todos os equipamentos e insumos para abastecer e equipar os hospitais, e distribuir materiais de prevenção para a população.

A classe trabalhadora precisa tomar pra si uma resposta pra essa crise pois a principal questão que podemos constatar é que esta pandemia mostra que o capitalismo não dá mais. É por isso, também, que devemos apontar nosso enfrentamento a essa situação num sentido abertamente anticapitalista: se o capitalismo não consegue colocar toda sua tecnologia a serviço de proteger a população de um vírus é porque o vírus é o próprio capitalismo, que produz miséria, destruição do meio ambiente e transforma a saúde em um negócio rentável e lucrativo pra um punhado de parasitas. Por isso nós do Esquerda Diário e do MRT estaremos lado a lado na luta contra as consequências que o capitalismo deixa se desenvolverem frente ao Coronavírus, propondo todas as medidas concretas para responder à crise sanitária, impulsionando a auto-organização dos trabalhadores e denunciando o descaso das autoridades com a população. Somos parte da Rede Internacional de Diários, que em 12 países coloca essa perspectiva através dos portais e também construindo grupos e partidos militantes nos locais de trabalho e estudo. Convidamos a juventude e os trabalhadores a assumirem conosco também a luta para superar os limites e barbáries que o capitalismo tem nos colocado, na perspectiva de uma sociedade para além da opressão e exploração.

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