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PSOL | Um comentário sobre o debate do PSOL na ALESP

terça-feira 28 de julho de 2015 | 08:51

A realização de eventos assim responde, sem dúvida, a uma exigência clara da situação brasileira. É evidente que está na ordem do dia construir a mais ampla unidade de ação contra o “ajuste” promovido pelo governo e pelos patrões para descarregar a crise sobre os trabalhadores. Mas, de fato, o momento não é apenas para a ação, mas também, com o mesmo grau de urgência histórica, para o debate e reflexão sobre os rumos do país e os desafios da esquerda.

A exposição dos companheiros intelectuais contribuiu sem dúvida para enfocar a crise política e econômica numa dimensão histórica e internacional mais profunda. Não podemos aqui dar conta de todo o conteúdo dessas intervenções, e para isso remetemos o leitor aos vídeos das intervenções que em breve disponibilizaremos, e à breve síntese já publicada pelo Esquerda Diário.

De todo modo, pela distinção do papel político reservado à companheira Luciana Genro, vale destacar um aspecto do qual discordamos fortemente em sua intervenção – a qual, bem entendido, não deixou de dialogar com o quadro geral exposto por Plínio Sampaio Jr e Ruy Braga, nem deixou de conter diversas definições políticas importantes, como a de que é preciso se delimitar claramente à esquerda do governo, e não ter medo de combater abertamente os governistas.

Do ponto de vista das respostas mais imediatas à crise política, a companheira Luciana Genro defendeu uma proposta que vemos como importante: a de que seja uma Assembleia Popular Constituinte, eleita sobre novas bases, verdadeiramente democráticas, que possa rediscutir de alto a baixo os problemas do país, tirando a questão da reforma política das mãos dessa corja de políticos que aí está. Por outro lado, o enorme ataque antidemocrático que ameaça proscrever todos os partidos de esquerda, foi respondido pela companheira de um ângulo essencialmente equivocado, quando enfocou apenas o problema das restrições para que a esquerda esteja nos debates televisivos (medida que afeta o PSOL), mas não chamou a combater o conjunto das restrições reacionárias que já foram aprovadas na Câmara e que afetam outros partidos da esquerda, como o PSTU. Precisamos de uma grande campanha unificada contra todas essas medidas, que os políticos da burguesia com o maior cinismo querem impor contra os trabalhadores sob o pomposo nome de “reforma política”.

De um ponto de vista que poderíamos considerar mais “estratégico”, a definição na qual a companheira Luciana Genro insistiu, de que é preciso um projeto que não seja para “gerir o capitalismo”, como o levado a cabo por Lula e o PT, mas sim de “ruptura”, é com certeza uma definição importante. Mas, com não menos certeza, ela é ainda insuficiente, pois deixa em aberto o problema fundamental que reside na disjuntiva: conciliação de classes, ou independencia política dos trabalhadores? A experiência do Syriza grego, da maneira mais acelerada, voltou a mostrar de maneira dramática o quanto essa definição é fundamental para todo projeto de esquerda.
Assim, e lembrando que em política é sempre decisivo indicar “onde mora o perigo”, não podemos deixar de destacar esse ponto. Vemos com preocupação o posicionamento da companheira Luciana Genro, quando insiste em apresentar o exemplo do Syriza grego como “inspiração” para a nossa esquerda, mesmo após a clara capitulação do governo de Tsipras diante do grande capital alemão e europeu (representado na famigerada “Troika”). Capitulação que significou a assinatura de um verdadeiro “pacto neocolonial” de submissão da Grécia, e que contradisse em absoluto o mandato popular dado pelas massas na eleição do Syriza, e reiterado no referendo sobre os acordos (em que mais de 60% votou contra os planos de austeridade). Ainda que a companheira tenha feito menção aos setores mais “críticos” dentro do Syriza, reunidos na Plataforma de Esquerda, sua fala não deixou de tentar “justificar” a postura de Tsipras, dizendo que seu “erro” teria sido acreditar na Troika; além de ter omitido o fato de que a Plataforma de Esquerda continua apoiando o governo que aplicará os ajustes. Após o compromisso do governo do Syriza com os planos de austeridade, nossa tarefa é, ao contrário, denunciar esse acordo, retirar qualquer tipo de apoio ao governo, e ampliar uma campanha internacional pela anulação da dívida grega.

Relação entre os rumos políticos e a democracia interna

A colocação do companheiro Plínio Sampaio Jr de que é preciso construir uma alternativa revolucionária para responder pela esquerda à crise, nos parece extremamente oportuna. No mesmo sentido, foi fundamental o resgaste, presente em sua fala, de uma importante definição histórica da burguesia brasileira como uma classe não apenas contrarrevolucionária, mas inclusive uma classe avessa a qualquer reforma social digna desse nome, questão que obteve sua demonstração histórica definitiva com o golpe de 1964, e que de lá pra cá se reafirmou inúmeras vezes. O resgate dessa definição histórica não apenas ajuda a entender o os fundamentos da posição de uma parcela expressiva da burguesia que se volta agora contra o PT, apesar de todos os “bons serviços” que esse partido lhe prestou e segue prestando, como também ajuda a definir claramente a necessidade de que os trabalhadores construam uma alternativa 100% independente dos patrões.

Igualmente importante, para construir uma política acertada do ponto de vista dos explorados, foi outra definição política que se depreende tanto das falas de Ruy Braga como do companheiro Plininho. De maneiras distintas, ambos mostraram como a crise que a burguesia brasileira está enfrentando significará, do seu ponto de vista, a necessidade de atacar as condições de vida dos trabalhadores num patamar muito superior ao que está colocado hoje no “ajuste fiscal” do governo Dilma. Trata-se, para a nossa reacionaríssima burguesia, de atingir um nível qualitativamente superior de exploração dos trabalhadores, e inclusive de “espoliação” (como sinônimo da exploração “extra-econômica” ou do roubo direto da riqueza produzida pelos trabalhadores).

Merece destaque, nesse contexto, que o companheiro Plínio tenha colocado claramente a questão da entrada do MRT no PSOL como um “teste” para mostrar se o partido estará disposto a mostrar “generosidade com os revolucionários”, e “dureza com os oportunistas e eleitoreiros”, como parte de sua resposta política à crise brasileira. Concordando novamente aqui com o companheiro Plinio, somos conscientes de que se trata de uma questão que transcende o fato em si da relação do MRT com o PSOL, e estamos convencidos da contribuição que o MRT poderá dar diante dos grandes desafios que estão postos para a esquerda brasileira.




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