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UERJ | UERJ: greve e ocupação, contribuições para os rumos do movimento

terça-feira 8 de dezembro de 2015 | 05:27

Na UERJ, organizar um comando de greve eleito na base e unificar com o funcionalismo para barrar os ajustes do Pezão

Fazem 7 dias que várias unidades da UERJ estão ocupadas pelos estudantes. Decidimos dizer um basta a Reitoria que suspendeu o pagamento das bolsas e salários dos estudantes, residentes e terceirizados. Há anos que esta universidade vem naturalizando que centenas de terceirizados, em sua maioria mulheres e negras, trabalhem de graça acumulando dívidas. Os estudantes cotistas, negros, moradores da baixada não tem como frequentar as aulas, se alimentar, tirar xerox sem a bolsa, que mal dá para se sustentar.

Por todo lado dessa universidade só se vê precarização. O Hospital Pedro Ernesto (HUPE) trabalha com capacidade mínima, o lixo transborda pelos corredores e os pacientes sofrem com a falta de material e com serviços que estão sendo fechados, faltam funcionários, falta remédios e a situação piora a cada dia.

No Estado inteiro, terceirizados estão sem salários, nas escolas públicas os cortes já impactam nas merendas e nos serviços terceirizados, bibliotecas e museus são fechados alegando não ter dinheiro para manter funcionando. Enquanto isso o Governo Pezão (PMDB) tenta convencer a todos diariamente que o Estado não tem dinheiro.

Não é o que vemos quando o governo parcela os salários dos servidores e mantem os seus altos salários intactos e renova toda sua frota de carros de luxo. Vai subsidiar 39 milhões de reais à Supervia que oferece um péssimo serviço à população. Esta gastando bilhões com as Olimpíadas. Por que Pezão parcela o salário de uma professora, por exemplo, e mantém seu alto salário e de toda a ALERJ intacto? Está claro que o plano é fazer com que os trabalhadores e a juventude paguem pela crise dos ricos. Certamente nenhuma empreiteira deixou de receber do Estado este ano.

O corte de 46% no orçamento das universidades estaduais significará um enorme ataque. Só na UEZO o corte será de 98%. Na UERJ de quase 23%. Isto significará demissões de terceirizados, falta de verba para bolsas, para compra de equipamentos, maiores atrasos nos salários e privatizações como o reitor Vieralves já alertou. E o Ruy, novo reitor eleito pela chapa Avançar, apoiada pelo DCE (PT/PcdoB), até agora finge que não é com ele.

E este não é só um processo que ocorre no estado do RJ. O governo Dilma também está aplicando um ajuste que ataca os direitos dos trabalhadores e a educação. Só na educação foram cortados 10 bilhões. A UNB e a UFES estão com a reitoria ocupada pelos estudantes pela falta de pagamento das bolsas.

A ocupação e seus rumos

Estamos numa ocupação que começou com um acordão do DCE com a reitoria e sua segurança. Muitos estudantes se questionam como esta ocupação foi inciada. Felizmente não é fácil para o DCE manter esta luta sob seu controle.

Consideramos que a ocupação deve ser uma ferramenta na luta pelo pagamento das bolsas e salários, contra os cortes de 46% do Pezão e que não vire um fim em si mesmo. A ocupação tem que ser uma forma de impedir as aulas, mas também todo o funcionamento da universidade. Não podemos cumprir o papel de apenas fechar a universidade para o reitor, porque isso já mostrou que não o incomoda e serve para livrar a cara dele e tirar a sua responsabilidade por essa crise.

A ocupação é para servir de pressão na luta contra o governo do Estado não pode somente impedir as aulas, tem que se massificar com assembleias dos cursos e ir para a rua para barrar este ajuste, tem quer ser viva com aulas publicas e atividades. Mostrando a luta contra os ajustes de Pezão, em defesa dos serviços públicos e de cada servidor que está com seu salário cortado. Temos que fazer como os secundaristas de São Paulo, que na última semana, após a declaração de guerra as ocupações do Governo Alckmin, fecharam com cadeiraço mais de 22 avenidas importantes, sendo brutalmente reprimidos, mas garantindo as ocupações e fazendo com que o governo retrocedesse temporariamente de seu plano de fechar escolas.

Temos que fechar as principais avenidas onde estão as unidades ocupadas da UERJ, chamando os alunos das UEZO e da UENF, mas também da UNIRIO, UFRJ, UFF e UFRRJ a paralisar o estado por um dia. Podemos fazer pedágios explicando para a população pelo que estamos lutando e coletando dinheiro para um fundo de greve, para fazer doações as terceirizadas, mas também ajudar financeiramente os alunos que queiram participar das atividades de greve e ocupação. Precisamos ganhar as ruas junto aos trabalhadores para mostrar nossa força contra o ajuste do Pezão. E o DCE não vai levar esta luta adiante, pois os partidos que compõe esta entidade governam junto com Pezão e o PMDB.

Porque é importante um comando de greve numa luta como essa?

Mais de 1000 estudantes se reuniram em diferentes assembleias durante o dia e a noite. Muitos estudantes novos que nunca haviam participado deste espaço. Na ocupação também todo dia novos estudantes vem conhecer, trazer alimentos em solidariedade. No entanto, para nós está claro que o DCE não quer que esta luta fuja do seu controle, ou seja, não queria a greve e não quer que nossa luta se ligue aos servidores. Por isso evita tanto as assembleias, onde quem controla são os estudantes.

Nós desde o inicio defendemos a greve estudantil. Em greve, os estudantes precisam de uma ferramenta de auto-organização, um comando de greve de representantes votados em cada curso, que seja a força política que dirija e não o DCE. E quanto mais massiva for nossa greve e mais cursos ela conseguir organizar, mais amplo será este comando, como mostraram os secundaristas de SP com seu comando que representa a força de 200 escolas se enfrentando contra o governo Alckmin, e este comando tem sido, junto as assembleias cotidianas dos estudantes nas escolas ocupadas, a grande força que permite que o movimento siga firme, unido e independente da UNE (UBES e EPES) que tenta sempre trair a luta dos estudantes.

Um grande comando que tenha estudantes da Medicina, Haroldinho, Ibrag, FEBF, FFP, Resende, Teresópolis que seja controlado pela base, que tome decisões a partir de assembleias de curso e das reuniões do comando, é a única saída para não sermos manobrados pelo DCE e suas traições seus acordos. Os comandos podem ajudar a massificar a mobilização, trazendo mais estudantes para as assembleias de curso e para as atividades da ocupação. Com a certeza que somente o que foi definido em assembleia será acordado.

O DCE-UERJ vergonhosamente ofereceu na última assembleia (sexta de manhã) quando haveria uma reunião de negociação, não um comando eleito pela base, mas uma chapa votada na hora, majoritariamente do DCE com membros da Oposição (três membros do DCE- PT e PCdoB, 1 RUA, 1 Brigadas e um estudante independente negro). Não concordamos com esta forma de organização porque ela passa por cima das discussões que já foram feitas na assembleia geral, dos delegados que já foram eleitos nos seus cursos e porque mantem uma direção artificial das correntes políticas sobre o movimento, que não foi votada nas bases de seu curso. Quem deve dirigir a luta são os próprios estudantes.

Na assembleia noturna, os estudantes que foram na reunião de negociação se negaram a dar um informe. O DCE desde o início tentou implodir a assembleia e se retirou alegando solidariedade a Frente de Negra e Negros da UERJ, seguido por outros coletivos (RUA, Brigadas e outros), deixando centenas de estudantes sem nenhuma explicação. Passadas 72 horas finalmente deram um informe da reunião de negociação mas fruto desta desorganização e falta de informe não temos orientação clara para a semana.

Como é possível lutar seriamente pelo pagamento das bolsas, num momento onde o tempo é curto e fim do ano se aproxima com ações assim? Precisamos de um comando de greve votado nas assembleias de curso, que se reúna e que somente ele negocie em nome do movimento.

Nós como coletivo respeitamos e defendemos a auto organização e a auto determinação do negros, temos militantes que são negras, moradoras da baixada, domésticas e sempre defendemos dentro de cada programa que levantamos a luta intransigente contra o racismo. Entendemos que essa luta passa por discutir e levantar um programa junto a todo o movimento estudantil que respondas as questões colocadas aos negros que compõem a universidade e que são atingidos pelo racismo estrutural da mesma.

Por isso acreditamos que como mínimo devemos exigir que as terceirizadas também possam comer no bandejão, já que a reitoria decidiu deixa-lo liberado. Defendemos que a ocupação, o DCE e o movimento deve fazer campanhas e garantir a vinda de estudantes bolsistas para as atividades da ocupação e também os estudantes do demais campi. Que além da luta pelo pagamento, a universidade precisa de um plano de emergência para atender a todos estudantes, principalmente os cotistas, ampliando o número de bolsas, elevando o piso para no mínimo um salário mínimo, exigindo o fim da reavaliação das bolsas, com bandejões sem terceirização em todos os campi, creches incluindo o período noturno para que as mães e pais possam trabalhar e estudar.

Qual saída dar a terceirização?

Os estudantes neste ano fizeram inúmeros atos pelo pagamento dos salários das terceirizadas, acompanhamos de perto seu sofrimento por não poder pagar as contas, o aluguel, comida. E sabemos que mesmo com toda esta luta, ano que vem corre-se o risco de acontecer a mesma coisa. Por isso, nós defendemos que é preciso ir mais profundamente nessa discussão, é preciso defender que estes trabalhadores e trabalhadoras sejam incorporados sem concurso público, porque o concurso nada mais é do que uma prova de que estão habilitados para realizar estas atividades e isto, com pessoas que trabalham há 15 anos na mesma função, já esta mais do que comprovado. Precisamos atacar a terceirização nas universidades, porque ela precariza, divide e muitas vezes mata estes trabalhadores, que são em sua grande maioria mulheres negras. Só no governo do PT o número de trabalhadores terceirizados aumentou de 4 para 12 milhões. Temos que fazer como estudantes universitários da Africa do sul que em duas das principais universidade do país conseguiram a efetivação sem concurso. Não somos contra os concursos públicos, mas não podemos virar as costas para as trabalhadoras e trabalhadores que agora estão na universidade, dando-lhes uma saída elitista que levada até o final significa a demissão de centenas de trabalhadores que hoje exercem tais funções.




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