×

GRÉCIA | Tsipras se impõe sobre a Plataforma de Esquerda no CC do Syriza

Em uma sessão que durou mais de 14 horas, Tsipras conseguiu derrotar a moção da Plataforma de Esquerda. O CC decidiu convocar um congresso extraordinário para setembro, depois de negociado o terceiro resgate.

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

sexta-feira 31 de julho de 2015 | 00:10

A reunião do Comitê Central era esperada com muitíssima tensão. A Plataforma de Esquerda do Syriza, junto a outros setores críticos ao memorando vinham pedindo este encontro há semanas.

O debate girou em torno à exigência de convocar um congresso do partido antes da assinatura de um novo resgate com os integrantes da Troika, ou deixá-lo para setembro, como propunha Tsipras.

Os membros da Plataforma de Esquerda e outros setores críticos propunham convocar um congresso ordinário nos próximos dias, composto pelos delegados permanentes eleitos no congresso fundacional de 2013, o que beneficiaria os críticos. Tsipras, por outro lado, propunha um congresso de emergência em setembro, depois de aprovado o resgate e com uma nova composição de delegados, baseado em afiliados mais moderados.

Não se chegava a nenhum acordo, as horas passavam e Tsipras lançou a proposta de um referendo no próximo domingo, para consultar os afiliados do Syriza e escolher assim os organismos de direção de seu partido.

Em sua intervenção frente ao Comitê Central, Tsipras interpelou sobre qual deveria ser a estratégia do Syriza, frente a perda da maioria parlamentar, e frente ao “bloqueio” dos deputados dissidentes que votaram contra os pacotes de reformas. Tsipras disse que era "absurda" a existência de duas facções opostas no mesmo grupo parlamentar.

Em una entrevista em rádio que deu na quarta-feira, tinha questionado os setores rebeldes. Disse que ainda que preferisse não chamar eleições antecipadas, poderia se ver obrigado a fazê-lo se perdesse a maioria parlamentar. Também assegurou que era “surreal” que os setores críticos dissessem que seguem apoiando o governo, enquanto votam contra suas principais propostas. Também comentou que era mal interpretado o resultado do referendo de 5 de julho, já que a vitória do “Não” não era um mandato para abandonar o euro.

Em uma sessão interminável com mais de 90 intervenções, os integrantes da Plataforma de Esquerda responderam ao primeiro ministro. O líder da Plataforma de Esquerda, Panagiotis Lafazanis perguntou: “Quantos referendos precisamos? Já tivemos um referendo e obtivemos 62%.” Lafazanis completou: “acabou-se a democracia. O sistema de governo do país é a ditadura do Euro.”

A presidenta do parlamento grego Zoe Konstantopoulou também questionou a posição da direção do partido, dizendo que “o Syriza não contava com o mandato do povo para prender o país com um memorando de resgate.” E completou que “proteger a constituição não é algo surreal”, aludindo à declarações de Tsipras.

Durante a reunião, 17 membros do Comitê Central – três deles deputados – renunciaram a seus cargos, alegando que tinham profundas diferenças ideológicas com a orientação do governo. Todos eles são parte da corrente maoísta KOE dentro do Syriza.

Finalmente, depois de horas de enfrentamentos retóricos, Tsipras conseguiu impor-se com uma votação favorável a sua proposta de adiar o congresso para setembro. A “carta” que jogou foi ameaçar com a queda do governo.

"Se alguém acredita que se pode conseguir algo melhor com outro primeiro ministro e outro governo que o diga", pediu Tsipras. "Se alguém acredita que este resgate é o pior dos três, que o diga", concluiu Tsipras.

Com este “arrocho” aos integrantes do CC, acusando-os de estar cumprindo um papel “desestabilizador”, Tsipras conseguiu dividir a “maioria circunstancial” que se tinha formado nas semanas anteriores, com o rechaço ao memorando. Nesse momento a Plataforma de Esquerda tinha confluído com um setor de “centro” do partido, conhecido como o “grupo dos 53”, que agora em sua maioria voltaram a apoiar Tsipras.

A Plataforma de Esquerda saiu derrotada. Seu máximo objetivo durante as últimas semanas era convocar uma reunião do CC, onde especulavam “ganhar” a votação contra Tsipras. Lhe pediam que “mudasse o rumo”, rompesse com a Troika e colocasse em marcha um “plano B” para sair do Euro e “recuperar o espírito” do Syriza.

Mas sua estratégia de pressão sobre Tsipras, baseada no parlamentarismo e contrária à luta de classes, mostrou sua completa impotência. Apesar de todas suas críticas, a “esquerda do Syriza” segue sendo parte do governo e do Syriza, um governo de colaboração de classes que traiu abertamente a vontade popular, para adotar a agenda imposta pela Troika…e que está disposto a impô-la com repressão se necessário, como se mostrou com as condenações aos detidos na manifestação de 15 de julho.

No domingo não haverá referendo, e o congresso do Syriza foi adiado até setembro, uma vez negociado o terceiro memorando. Nas próximas semanas, em meio ao recesso do verão europeu, serão negociadas as condições do terceiro resgate que promete só novas penúrias para o povo grego. A reorganização da classe trabalhadora e dos setores combativos independentes do governo, contra os novos ajustes da Troika, é uma tarefa de primeira ordem.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias