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TEORIA | Trótski e a internacionalização produtiva

sexta-feira 12 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

A Terceira Internacional depois de Lênin – Stálin, o grande organizador de derrotas é o primeiro título da coleção Obras Escolhidas de Leon Trótski das Edições Iskra. A live de lançamento, na quarta (08), contou com a presença das/os profs. Ângela Mendes de Almeida, Sean Purdy e Gilson Dantas, além de Edison Urbano, que assina o prefácio a esta edição brasileira que, além de ter sido traduzida pela primeira vez do original francês, de 1930, por Fernando Bustamante, foi também cotejada, por Paula Vaz de Almeida, com a primeira edição russa, de 1994, feita a partir dos manuscritos de Trótski.

No lançamento, ressaltou-se como as ideias contidas nesse livro não são de interesse meramente histórico, mas indispensáveis para nos prepararmos para as lutas do momento presente, em que o capitalismo condena as massas trabalhadoras do mundo a misérias e privações redobradas. Mas tais ideias não são só sobre formas e métodos de luta, sobre a estratégia da revolução proletária, como também sobre o “campo de batalha”. Em outra obra publicada no mesmo período, Trótski assinalava que o marxismo concebe a economia mundial não como uma soma de economias nacionais, mas como uma “potente realidade com vida própria, criada pela divisão internacional do trabalho e pelo mercado mundial, que impera nos tempos correntes sobre os mercados nacionais.” No organizador de derrotas, acrescenta que esta totalidade combina tendências centrípetas e centrífugas, de nivelamento e de reprodução das desigualdades entre os países.

“Em razão da universalidade, da mobilidade, da dispersão do capital financeiro penetrando em todas as partes, dessa força motriz do imperialismo, acentuam-se ainda mais as duas tendências. O imperialismo reúne em um todo, com muita rapidez e profundidade, as diversas reservas nacionais e continentais; cria entre elas uma íntima dependência vital; ele aproxima seus métodos econômicos, suas formas sociais e seus níveis de evolução.” Mas, ao fazê-lo, “o capitalismo age com seus métodos, ou seja, com os métodos da anarquia, que sabotam continuamente seu próprio trabalho, opondo um país e um ramo de produção a outro, favorecendo o desenvolvimento de certas partes da economia mundial, e freando e paralisando outras.” (p. 95 – itálicos no original)

Isto é crucial para entendermos, por exemplo, o recente anúncio da Ford de que sairá do Brasile, mais em geral, o processo de desindustrialização deste e de outros países, em um momento no qual a mobilidade internacional do capital é ainda maior do que nos anos de vida de Trótski. A lei da concorrência atrai os capitais para os locais que lhes propiciem maior competitividade, ou seja, menores custos salariais, tributários, ambientais, etc., e repele os capitais dos espaços onde tais custos são comparativamente mais altos. Quanto mais fácil e rápido é este movimento, mais acirrada é a concorrência; os capitais que usufruem dessas vantagens tendem a se concentrar cada vez mais, “engolindo” aqueles que não são capazes de se elevar ao novo patamar de competitividade ou expulsando-os do mercado. São dois lados da mesma moeda, portanto, a ascensão da China e os chamados “tigres” ou NICs (newly industrialized countries, do inglês, “países recém-industrializados”) asiáticos e a desindustrialização do Brasil e até de outros países latino-americanos, ocasionada pela globalização neoliberal.

Como se combinam, concretamente, as tendências centrífugas e centrípetas em cada caso é algo que depende de vários fatores. Dentre estes fatores, as relações que se estabelecem entre a burguesia local e o imperialismo é um dos mais importantes. Mas o fato é que a condição para qualquer país periférico se integrar à produção industrial “mundializada” é a submissão aos ditames do capital estrangeiro. A escolha que o imperialismo nos oferece é: resignarmo-nos à primário-exportação e à exclusão, ou então permitir a exploração desenfreada de nosso trabalho e nossos recursos naturais. E, seja qual for o grau de integração e de “modernização” assim obtido, o que não irá ocorrer é o desenvolvimento de um capitalismo nacional comparável ao dos países centrais. Mesmo os efeitos “modernizantes” podem ser muito limitados, pois os processos industriais transferidos para a periferia são, via de regra, aqueles intensivos em trabalho, de baixa complexidade tecnológica e que, consequentemente, agregam pouco valor ao produto final.

Além disso, o movimento internacional dos capitais, regido pelas diferenças nas e entre as taxas de lucro, contrapõe os trabalhadores de cada país aos dos outros, chantageando-os a aceitar salários cada vez menores, e condições de trabalho piores, para que a indústria não se desloque para algum outro país onde possa explorar ainda mais. Se é preciso lutar contra demissões e fechamentos onde quer que aconteçam e exigir das centrais sindicais um plano de lutas nacional em defesa dos empregos, a reversão do processo de desindustrialização dependerá de uma luta internacional da classe trabalhadora. Neste sentido, o único “desenvolvimentismo” consequente é o marxismo revolucionário.




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