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CORONAVÍRUS | Trabalhadores da saúde enfrentam a privatização e jornadas extenuantes para produzir vacinas

No Instituto Butantan, pressionados pelo surto de coronavírus, trabalhadores da fábrica são assediados a se submeterem a jornadas extenuantes para atender o desejo do ministério da saúde de antecipar a disponibilidade da vacina contra a gripe e ajudar a separar os casos de gripe comum e coronavírus.

segunda-feira 16 de março de 2020 | Edição do dia

Todos conhecem o Instituto Butantan, por causa dos estudos feitos com os animais peçonhentos e venenosos da fauna brasileira. Entretanto o Butantan é mais do que isso, ele é tido como o principal produtor de imunobiológicos do Brasil, responsável por grande volume da produção nacional de antígenos vacinais, que compõem as vacinas utilizadas no PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Ministério da Saúde. Também são feitas diversas atividades de desenvolvimento tecnológico na produção de insumos para a saúde estando associadas, basicamente, à produção de vacinas, soros e biofármacos para uso humano. Em outras palavras, o Instituto Butantan tem como missão do: pesquisar, desenvolver, fabricar e fornecer produtos e serviços para a saúde da população.

Apesar de tudo isso apresentado, aqueles que trabalham neste instituto de saúde sabe que o mesmo vem passando, há anos, por um processo de privatização gradual, tendo atualmente mais foco como um grande mercado aberto na área da saúde do que o preceito de cuidado em saúde. Esse avançar da iniciativa privada sobre o instituto serviu de vitrine de campanha, como fez João Doria, no Fórum Econômico Mundial em Davos (2019), para intensifica, ainda mais, o processo de privatização para tentar transformar o Instituto Butantan no maior produtor de vacina do mundo. Além dos absurdos, que envolvem desde financiamento por grandes indústrias farmacêuticas internacionais, que garantem a infraestrutura, mas que aproveitam do financiamento público para pessoal e insumos, para depois se apropriarem dos resultados obtidos com as pesquisas em forma de patentes, também tem um grande investimento sobre as fábricas.

Antes mesmo da declaração de pandemia, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na última quarta-feira, 11, devido a infecção por Coronavírus (COVID-19) os ritmos e assédio dentro deste instituto já estava em decibéis mais altos do que o rotineiro. Vários vídeos e “recomendações” foram enviados por e-mail institucional para “conscientizar” os funcionários, mas o tom presente nas declarações sempre era policialesco, com reforço na responsabilidade individual com a saúde e as informações.

Anualmente, ouvimos a pressão que os trabalhadores da fábrica sentem neste período, para atender prontamente o calendário nacional de vacinação contra a gripe, mas, com o advento do Coronavírus, a pressão ficou ainda maior, já que anteciparam em meses a disponibilização das vacinas a população e com um aumento na produção. A vacina contra gripe não previne contra o coronavírus. As autoridades, porém, avaliam que a imunização facilita o diagnóstico para separar os casos quando há sintomas como febre e tosse. Em conversas pelos corredores é possível ver a fadiga dos trabalhadores, que precisam aumentar sua produtividade em tempo e quantidade, com o mesmo número de funcionários, além de ouvir questões bizarras, como as “brincadeiras” de se ter que utilizar fraudas para não perder tempo.

Os trabalhadores terceirizados da limpeza também são um grupo de pessoas que sente mais na pele esta pressão. É composta, em sua maioria de mulheres negras, que já fazem jornadas mais extensas que as 8h normais, e com um acúmulo de trabalho devido à redução de pessoas, com o advento do Coronavírus, estas mulheres tiveram que passar a garantir a quebra da possível via de contágio se sobrecarregando ainda mais, pois são obrigadas a realizar suas tarefas de duas a três vezes ao dia, sem mesmo ter equipamentos de proteção o suficiente ou acesso as informações. Também por conversa de corredor, ouviu-se que, se caso o Instituto parasse de funcionar elas seriam transferidas para outros locais de trabalho não participando da então possível quarentena.

Apesar destas condições precárias e jornadas exaustantes que os trabalhadores da área de saúde, desde aqueles que a patronal faz questão de dizer que não é - mas que sabemos que são sim e são categorias de extrema importância para todo o desenvolvimento e produção - até aqueles que estão sofrendo com as condições precárias de trabalho, são eles que são a linha de frente no enfrentamento a esta pandemia. Nas diversas etapas da produção em saúde pública, mesmo com o precarização, sucateamento e privatização de todos os órgãos integrantes da área da saúde, que levam a jornadas exaustantes para todos os trabalhadores da área, são os trabalhadores da área de saúde que estão enfrentando a pandemia com o viés de melhores condições de saúde de conjunto. É pensando na saúde que devemos defender um sistema único de saúde que seja controlado por estes profissionais, que são verdadeiros guerreiros, que se colocam como linha de frente para combater essa pandemia, e por isso, devem ter em suas em suas mãos o controle, aliado a população.

Este cenário revela que a real missão do Instituto, que com o processo de privatização vai tomando o caráter de mais um empresa de saúde, é a obtenção de lucro para as grandes indústrias farmacêuticas do mundo que investem em um tido Instituto de saúde pública, do que com a saúde da população e dos trabalhadores do próprio Instituto.




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