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USP | Trabalhadoras terceirizadas da USP: Vão esperar até quando para liberar a gente? Quando tiver uma trabalhadora morta?

A Universidade de São Paulo figura nos rankings internacionais como uma das melhores universidades do mundo. Esse status foi atingido com o esforço conjunto de pesquisadores, docentes, estudantes e também dos milhares de trabalhadores efetivos e terceirizados da universidade. No entanto, o elitismo da USP se expressa ao ignorar a importância dos trabalhadores para sua existência. Especialmente as milhares de trabalhadoras terceirizadas, que são em sua maioria mulheres negras, invisíveis à burocracia acadêmica que coloca suas vidas em risco.

quarta-feira 1º de abril de 2020 | Edição do dia

A crise do coronavírus tornou mais evidente que são os trabalhadores que movem o mundo. Sem eles, nada funciona, nada é produzido, nada é preparado. As trabalhadoras da limpeza são parte essencial dessa cadeia. Elas estão nos hospitais mantendo o ambiente livre de contaminação, estão nos metrôs e nos ônibus mantendo os trens constantemente higienizados. Na USP a limpeza de todos os prédios didáticos, dos restaurantes e das unidades administrativas e de todo o campus depende dessas trabalhadoras, além do Hospital Universitário, essencial nessa crise. Porém, recebem salários baixíssimos, com constante atraso e erros, além de condições precárias e da enorme sobrecarga de trabalho.

Desde o dia 23 de março, todas as atividades presenciais da universidade não essenciais, foram suspensas, uma boa parte mantida através do trabalho remoto. As aulas presenciais não ocorrem desde o dia 17. No entanto, as trabalhadoras terceirizadas que estão nos restaurantes e em diversas unidades não foram liberadas, apesar de já não haver quase nenhuma atividade no campus, exceto no hospital. Além de serem mantidas trabalhando de forma desnecessária, como se fosse uma punição, muitas dessas trabalhadoras também foram transferidas para outras unidades pois, para os donos das empresas terceirizadas, a vida dessas trabalhadoras, sua saúde, não importam.

Não bastasse toda essa situação ultrajante, a reitoria da USP se exime da sua responsabilidade com essas trabalhadoras. Além do tratamento desigual que sofrem na universidade, não podendo usar o BUSP, o transporte circular da USP que é gratuito para todos os estudantes, docentes e funcionários efetivos, ou comer nos restaurantes universitários, onde muitas trabalham, com a suspensão das atividades a USP limitou a entrada de pessoas no campus, inclusive dessas mesmas trabalhadoras que são obrigadas a trabalhar. Para conseguir entrar na universidade elas precisam dar uma volta imensa a pé até conseguir entrar na universidade e frequentemente são questionadas pela vigilância, maltratadas por serem obrigadas a trabalhar em meio a uma pandemia.

Uma trabalhadora terceirizada da USP, da limpeza, nos mandou seu relato cheio de indignação com a situação:

Eu trabalho na terceirizada da limpeza, trabalho há vários anos nesse ramo.
Tô aqui, na Universidade de São Paulo, vendo uma situação indignante, porque em várias unidades em que nós trabalhamos, da limpeza, estamos sendo obrigadas a vir trabalhar e pondo em risco nossa saúde e de nossas famílias, tanto no trabalho como também no transporte, ônibus, metrô, enquanto a universidade toda está vazia e os estudantes foram dispensados. A maior parte dos trabalhadores foram dispensados e a gente continua aqui, nesta situação.

A terceirização é uma forma de escravidão para os trabalhadores. Porque até nesta situação que a gente está vivendo, o povo todo contrariado aí no país, contaminado no país. Fora do Brasil tem milhares de mortes e aqui a gente ainda continua nesta situação.

Eles vão esperar até quando para liberar a gente? Na hora que tiver uma trabalhadora terceirizada morta? Ou até mesmo nossas famílias? Por que não garantem o equipamento de proteção já que estão obrigando a gente a vir trabalhar? Por que nós terceirizadas somos tratadas de uma forma tão diferente?

O relato mostra como a terceirização mantém milhões de trabalhadores em condições precárias, especialmente diante dessa crise sanitária, que cobrará da classe trabalhadora um preço muito caro, a vida de milhares de irmãos de classe. Apoiado no racismo e no patriarcado, uma vez que a larga maioria desses trabalhadores são mulheres negras, a terceirização tem se ampliado na USP, graças a uma política privatizante da reitoria e dos governos, que se apoia na precarização do trabalho para tornar a universidade cada vez mais a serviço dos interesses dos empresários. A crise do coronavírus escancarou que essa lógica não dá mais.

É preciso liberar já as trabalhadoras terceirizadas que não estão em atividades essenciais, garantindo que nenhuma seja transferida ou penalizada, com a manutenção integral de seus salários e benefícios. A vida dessas trabalhadoras vale mais que os lucros das empresas terceirizadas.

Leia aqui o prefácio do livro "Precarização tem rosto de mulher", escrito por Diana Assunção sobre a luta das trabalhadoras terceirizadas da USP




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