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RELATO DE ARTISTA INDÍGENA DA MOSTRA M'BAI 2019 | Tamikuã Txihi: "O novo governo quer acabar com a vida em nome do lucro e por meio da matança"

Tamikuã Txihi, artista indígena, fala ao Esquerda Diário sobre o ataque à mostra de arte indígena M’BAI 2019 e os ataques do governo Bolsonaro aos povos originários.

terça-feira 30 de julho de 2019 | Edição do dia

Tamikuã Txihi: A terra sofre com o impacto causado nas florestas, esse governo Bolsonaro não somente ignora o que são direitos e conquistas, tanto de homens e mulheres dos mais de 305 povos originários que habitam aqui nesse território hoje chamado Brasil, assim como de nossa mãe terra e irmã natureza.

Nos seus discursos expressa, além da ignorância, seu profundo desprezo pela vida, o diálogo e o aprofundamento, e discussão argumentativa sobre assuntos vitais a nossos povos. Como povos originários, repudiamos todas as propostas e medidas que este novo governo esta propondo. Recusamos as ameaças e os chamados à matança, tanto de indígenas como da natureza. Porque estes chamados não são outra coisa que racismo e ganância.

Os mercenários dos novos terratenentes estão fazendo fila para iniciar a nova onda de matança destes povos que lutam por seus direitos há 519 anos, matança que, por uns trocados, estão artilhando para matar homens e mulheres, crianças, idosos, dentro dos seus próprios territórios ancestrais. Há 519 anos se impuseram pela espada, hoje se impõem pela bala.

Estes novos terratenentes ou milicianos possuem uma lista de execução, onde lideranças indígenas, homens e mulheres dos povos originários serão assassinados a mando do agronegócio, tendo como principal ícone o presidente eleito pela democracia burguesa, tentaram impor a limpeza “moral e racial” que são a expressão do fascismo e o neonazismo que ocorre hoje no Brasil. Temos o
direito de ser protetores e cuidadores da Mãe Terra, [isto] foi conquistado por nossos antepassados, como povos que aqui já existiam antes da colonização. Direito este que está sendo mais uma vez ameaçado pelo racismo, pela falta de ética, pela falta de respeito, pela ganância. Estão ameaçando não somente a Constituição do Brasil, mas a própria democracia.

O novo governo está entregando aos latifundiários e aos capitalistas, ao agronegócio e à mineração, nossa mãe e irmã terra, a natureza, a estão entregando aos depredadores e torturadores, aos milicianos. Querem acabar com a vida em nome do lucro e do enriquecimento ilícito, e por meio da matança. Por isso viemos aqui fazer esta denuncia e fazer um chamado ao mundo. Defenderemos com toda força e com a própria vida a nossa mãe e irmã natureza e o direito que temos de viver como povos originários!

O Brasil está vivendo um momento de obscurantismo e fascismo. O ataque que sofremos na mostra evidencia a angústia e a inveja que produz a arte e a criatividade dos povos originários e dos setores populares. Pretendiam roubar nossos sorrisos e nossos esperança, porém somos povos fortes que iremos cada dia fazer muitas outras artes com forte história. Acredito que as artes são instrumentos de luta e defesa dos territórios e conhecimento dos povos originários, os novos arcos e flechas que vão lançar os sonhos da humanidade ao futuro.

Em nome dos nossos povos originários venho agradecer o prêmio de artista profissional da mostra M’BAI 2019. A criatividade da arte indígena é a expressão da memória, sabedoria, relação e concepção da vida e da nossa mãe e irmã natureza. A criatividade da arte originária é também a força, espiritualidade e luta de nossos povos, por isso, além da expressão e linguagens é também inspirador para outros artistas que participaram nessa amostra, agradecemos a todas e a todos.

Algumas das obras da mostra M’bai que foi vandalizada

A dor que sofremos em ver a destruição e o desrespeito a nossas obras nos fez recordar tempos terríveis de torturas e assassinatos que sofreram nossos antepassados. Esses ataques pretenderam silenciar a esperança, vida e a existência de nossos povos, por isso exigimos que devolvam os corpos de nossas obras, temos direito de recuperá las. Denunciamos o sequestro das mesmas. Repudiamos o bárbaro ataque e a impunidade.




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