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Stonewall: Marsha P. Johnson e o Black Trans Lives Matter

[tradução] Uma drag queen, negra e pioneira no ativismo da diversidade sexual que participou da revolta de Stonewall. Ela fundou a casa S.T.A.R. e foi grande referência na luta pela conscientização sobre o HIV. Seu nome voltou a reverberar em faixas com o “Black Lives Matters”.

sábado 27 de junho de 2020 | Edição do dia

Uma drag queen, negra e pioneira no ativismo da diversidade sexual que participou da revolta de Stonewall. Ela fundou a casa S.T.A.R. e foi grande referência na luta pela conscientização sobre o HIV. Seu nome voltou a reverberar em faixas com o “Black Lives Matters”.

Ela nasceu em 24 de agosto de 1945 na cidade de Elizabeth, no estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos. Ela chegou a Nova York no final dos anos 60 e, pelos anos 70, se tornou inseparável da ativista trans Sylvia Rivera.

Pouco se sabe sobre a sua infância, mas a algo que a distingue desde a sua adolescência, independentemente de como estava vestida, em ocasiões Johnson também sua identidade masculina sob o pseudônimo de Malcolm, Marshall ou Mikey, e nesses momentos se ofendia caso fosse chama de Marsha ou se usavam pronomes femininos. Ou seja, sua identidade de gênero era tão versátil quanto era sua orientação sexual

Sobreviver nas ruas

A preocupação imediata de Marsha e suas companheiras era de subsistência. O foco de todos os projetos foi o S.T.A.R, a Ação das Travestis Revolucionárias de Rua (por sua sigla em inglês). A S.T.A.R. foi fundada no ano de 1971, graças à ajuda que receberam da Gay Liberation Front (Frente de Libertação Gay).

Johnson era a “mãe” da casa S.T.A.R., um hotel cujos quartos transformou em moradias comunitárias, junto com Sylvia Rivera, às vezes para 50 ou mais pessoas e começaram a trabalhar em espaços auto-organizativos e projetos que cobriram suas tanto suas necessidades quanto de suas companheiras.

A prioridade era a subsistência, mas na casa também se arrecadava comida e roupas para ajudar e apoiar as drag queens mais jovens, mulheres trans e outros meninos de rua que ficavam pela rua Christopher.

Segundo suas próprias palavras, “A STAR surgiu por sua presidenta, Sylvia Rivera, e por Bubbles Rose Marie, elas me perguntaram se eu me uniria ao projeto como vice-presidenta. A STAR é um grupo muito revolucionário. Acreditamos que, se necessário, devemos levantar as armas para iniciar uma revolução.”

A STAR tinha dificuldades na hora de levar a cabo seus planos, que incluíam festas para arrecadar fundos, outra casa STAR, uma linha de telefone, um centro recreativo, uma caixa de resistência para prisões e um advogado para as pessoas que fossem presas por sua identidade ou orientação sexual.

Seu humor ácido à representava e tinha um latiguillo, “Pay it no mind”. Durante um julgamento, um juiz perguntou a Marsha: “O que o P representa? (de seu sobrenome, NdeR) ”, ao qual ela deu sua resposta habitual: “Pay it no mind” (não se preocupe com isso), se referindo ao que se perguntavam sobre ela. Odiava ter que responder se era homem ou mulher.

É assim que sua companheira Sylvia Rivera relata como elas se conheceram: “Eu estava andando pela Sexta Avenida e ela estava lá em uma esquina. Me chamou de onde ela estava, nos apresentamos e uma fortíssima irmandade começou disso. Ela me levava para comer fora. Estava nas ruas porque até então trabalhava de garçonete no Restaurante Child’s, mas sempre precisava fazer horas extras, segundo ela me disse.”

Em 1974, trabalhou sendo fotografada por Andy Warhol, como parte da sua série polaroid “Ladies and Gentlemen”. Johnson foi parte de um grupo de drag queens para a performance de Warhol, “Hot Peaches”. Se pode encontrar a entrevista que fez o ativista gay Allan Young no livro “Out of the Closets: Voices of gay libertation”, publicado originalmente em 1972.

Na década de 80, Johnson continuou seu ativismo de rua como uma organiza respeitada da ACT UP-AIDS Coalition to Unleash Power, um grupo de ação direta fundado em 1987 para chamar a atenção para a pandemia da Aids.

Além de aumentar a conscientização sobre o HIV - AIDS, fazia fortes denúncias sobre o pouco acesso ao trabalho para a população trans. "Conheço muitas travestis que trabalham como mulheres, mas quero ver o dia em que as travestis podem ir e dizer: ’Meu nome é Don Fulano de tal e gostaria de trabalhar como Dona Fulana de tal”.

O rio do lamento

Marsha estava no SSI (Social Security Disability) por um curto período de tempo porque teve sérias crises nervosas devido à morte de seu parceiro. Ela havia ficado trancada várias vezes em Bellevue e Manhattan State. Sua mente estava realmente começando a desaparecer e ela tinha visões. Ela tinha um médico que não a diagnosticou bem e já era tarde quando perceberam que ela tinha sífilis. Então, quando finalmente foi detectada, a doença estava já em sua segunda fase. Marsha viveu em seu próprio mundo e via as coisas de maneira diferente.

Foi no mês de julho de 1992 que seu corpo foi encontrado no rio Hudson, não muito longe da doca de West Village, pouco tempo depois da Marcha do Orgulho LGBTI daquele ano. A polícia considerou a morte como um suicídio. Mas, não satisfeitos com essa teoria, seus amigos e companheiros lançaram uma campanha para saber o que realmente aconteceu com Marsha, já que ela nunca teve tendências suicidas e seu corpo tinha ferimentos.

A história de ontem, a luta de hoje

Após a morte de George Floyd pelas mãos da polícia, o slogan "Black trans lives matter" foi adicionado ao slogan de Black Lives Matter, pela morte de Tony McDade, de 38 anos, assassinado nas mãos dos Polícia de Tallahassee.

Devido a crise de Covid-19 e das pautas do distanciamento social o Mês do Orgulho LGBTI 2020 foi suspenso. É possível que as empresas que apóiam a causa da comunidade LGBTI já estejam se preparando para voltar às festividades tradicionais no próximo ano. No entanto, a erupção dos protestos do Black Lives Matter internacionalmente sobre a morte de George Floyd já está inspirando uma compreensão mais profunda do significado do Mês do Orgulho LGBTI, tirando toda a margem do "capitalismo rosa" e imprimindo uma mensagem mais insurreta.

Um setor das marchas nos Estados Unidos a cada ano se lembra da luta de Marsha, ela é lembrada por sua luta junto de Sylvia, e também porque o motivo exato de sua morte ainda é desconhecido hoje.

Como Ezra Brain relatou para o La Izquierda Diario, "quase todas as ações deste levante contaram com contingentes de profissionais de saúde, e o protesto a favor da Black Trans Lives não foi exceção. Trabalhadores da saúde estavam segurando faixas rechaçando o ataque de Trump ao acesso das pessoas trans à saúde e declaravam “A saúde trans importa”. Mike Pappas é médico e editor da Left Voice, parte da rede La Izquierda Diario International e esteve presente na mobilização. "Como profissional de saúde, mais profissionais de saúde precisam se levantar e dizer que vidas trans negras importam".

Stonewall foi um flash de irreverência contra o capitalismo, hoje, em meio a uma pandemia, temos que dizer novamente que a vida dos trabalhadores e as nossas também importam.




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