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HOMENAGEM A LEON TROTSKY | Sobre uma vida plena de sentido

domingo 7 de setembro de 2014 | 18:59

Certa vez, em uma entrevista para um jornalista brasileiro de uma grande emissora, o filósofo Slavoj Zizek dizia que a grande “tragédia psicológica” dos tempos de hoje que levam as pessoas aos consultórios é a reclamação segundo a qual eles seguiram toda a cartilha da felicidade proposta pelos livros de autoajuda e pela mídia, compraram o carro, a casa, fizeram a família, tiveram filhos... “e mesmo assim não são felizes”. É verdade, trata-se de uma sociedade que vivencia a “perda de sentido”, ou a busca de uma ideia de felicidade que só pode deixar como resultado o vazio.

Tudo no mundo capitalista é promovido como felicidade: “beba o refrigerante e abra a felicidade”, “compre a casa e realize seu sonho”, ou, como vimos recentemente, “entre numa loja de telhas e realize seus desejos” (!). Já não basta mais ter, o sentido de consumo é ter e se realizar tendo (ou comprando), a mercadoria tem que transmitir um sentimento ao consumidor. Atingimos o limite do que o fundador do socialismo, Marx, dizia sobre o domínio do mundo das mercadorias sob seus produtores (os trabalhadores), a total subordinação dos criadores às criaturas (o que Marx deu o nome de fetichismo da mercadoria). A mercadoria não mais subordina economicamente as relações, ela subordina os anseios, os sonhos, a ideia de felicidade.

Mas o que é uma vida cheia de sentido, em contraposição a todo esse vazio? O que devemos transmitir às novas gerações para que rompam com a apatia, com o tédio (“o monstro delicado”, segundo o poeta), com o vazio e a perda dos anseios? Quando pensamos numa vida assim nos ocorre o nome de um das mais fabulosas personalidades do século XX, um dos mais importantes mestres dos trabalhadores, Davi Bronstein.

Tal personalidade disse certa vez que era preciso “encarar a vida com os olhos abertos, sem adornos, tal como apresenta”. Era como um primeiro chacoalhão aos que vivem presos a essa rotina. E continuava: “A proeza também é realizar um apaixonado esforço para sacudir aqueles que estão entorpecidos pela rotina, obrigar-lhes a abrir os olhos e fazer-lhes ver o que se aproxima”. É que a crença na humanidade sempre foi uma característica marcante de Bronstein.
Encarar a vida de olhos abertos é enxergar, em primeiro lugar, as tristezas, explorações e opressões que nos rodeiam no dia-a-dia. Num mundo com capacidade produtiva cada vez maior, vemos cada vez mais fome, mais miséria social, mais desigualdade. E aos que podem ter um pouco mais, a mídia e a indústria da cultura se encarregaram de vender “ideias de felicidade” inalcançáveis ou artificiais (vaziais), forjando uma sociedade da “não realização”, da tristeza.

Constatar isso é pensar quem pode ser o protagonista da transformação dessa situação. Quem? Naturalmente quem produz e reproduz toda a vida social, que produz nas fábricas, que guia os ônibus, trens, metrôs nas cidades, que trabalham pra garantir a educação, a saúde, nos bancos, nos serviços pra população... os trabalhadores, ou como dizemos para demonstrar a unidade de todos esses setores, a classe trabalhadora.

A vida cheia de sentido de Bronstein era, depois de “encarar a vida com olhos abertos”, tomar as decisões corretas. No seu caso, tomou a decisão de viver para e em função da transformação social, portanto ligado intimamente aos trabalhadores, em suas lutas, avanços, sonhos e utopias.

E fez isso como ninguém, pois com uma trajetória de mais de quatro décadas nessas lutas, esteve à frente da mais importante revolução dos trabalhadores (A Revolução Russa) e foi protagonista em articular distintas organizações de todo o mundo fundando uma nova internacional dos trabalhadores, um novo partido mundial que tinha a perspectiva de eliminar toda a exploração e opressão da humanidade e conduzi-la à total emancipação.

O legado de Bronstein, nesse sentido, não era apenas de uma forma de lutar, de uma teoria ou de uma forma de fazer política para os trabalhadores (que são muito importantes). Sua herança a toda nossa classe era também de impulsionar a todos e a cada um dos trabalhadores o anseio de se ligar à mais crucial necessidade histórica de nossa época: de se defrontar contra esse sistema de desigualdade social e ser parte ativa da construção de uma sociedade de emancipação, onde os trabalhadores se reconciliariam uns com os outros, como produtores livremente associados.

Mais que isso, uma sociedade onde desenvolvêssemos todas as nossas capacidades individuais, fisiológicas, psíquicas, artistas, colocando o destino da humanidade em nossas mãos, nos orientando não para um trabalho e vida desgostosos, mas para uma vida plena em sentido, em comunidade. “O homem enfim começara a harmonizar seu próprio ser”, como disse Bronstein escrevendo sobre literatura e a perspectiva comunista de sociedade.

Os que seguimos esse legado também sentimos um pouco o gosto de viver pra transformar o mundo, de acordar todos os dias com um grande ideal e sentir em nossos ombros um pouco da responsabilidade e da poesia que é ser parte de pensar e agir pelo futuro da humanidade.

Por isso nós decidimos não apenas assistir a essa peça da vida de modo passivo, sentados na plateia. Nos decidimos atuar para essa mudança, e nesse caminho nós elegemos os mais encorajadoras personalidades para nos orientar política, teórica e praticamente em como agir. Nossa referência, no caso, é Bronstein. Um revolucionário russo que se consagrou com o nome de “leão”, e com um apelido dos tempos em que os ditadores da Rússia antiga queriam calar suas ideias numa prisão. O apelido era Trotski. Assim se consagrou essa referencia inestimável para nossa geração, Leon Trotski.

Que podemos querer senão seguir essa perspectiva elevada de vida e de luta, da transformação radical da sociedade e seu avanço mais pleno, o comunismo?


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Trotsky    Teoria



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