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TEORIA | Sobre o direito de ser humano: Uma análise do marxismo filosófico sobre o andamento da história.

Para o homem sair de sua condição de objeto para sujeito histórico, ele deve suprir suas necessidades mais objetivas, materiais e animais. Em um mundo onde as necessidades são mercantilizadas, o homem é impedido de fazer história.

terça-feira 27 de dezembro de 2016 | Edição do dia

“O primeiro pressuposto de toda existência humana e também portanto, de toda a história [...] [é] o pressuposto de que os homens têm de estar em condições de viver para poder “fazer história”. Mas para viver, precisa-se, antes de tudo, de comida, de bebida, moradia, vestimenta e algumas coisas mais.” Marx e Engels. – Crítica da ‘Caracterização de Ludwig Feuerbach’, de Bruno Bauer.

O homem é uma máquina orgânica, como qualquer outro animal, e para manter-se funcional precisa comer, beber e descansar. O que diferencia o homem de sua condição animal e o eleva é sua capacidade de transformar o mundo ao seu redor. Ele será capaz de dar sentido ao seu mundo, fazer arte e entender o outro. Mas para poder fazer todas essas coisas e mais, ele precisa em primeiro momento suprir suas necessidades mais animais.

Em um primeiro momento, o homem para fazer história deve se libertar das limitações materiais: a fome, a sede, o frio, a escassez. Com o avanço das condições humanas de transformação do mundo; como a sedentarizarão e o avanço da agricultura, ele pode se colocar a pensar em novas questões e necessidades; ele pode passar a suprir novas necessidades, necessidades que não existem para os animais: Necessidades inerentemente humanas. Ora, para se humanizar, o homem deve primeiramente superar as condições animais. Na Ideologia Alemã, lê-se que:

“[...] a satisfação dessa primeira necessidade [comida, bebida, moradia, vestimenta e algumas coisas mais] conduzem a novas necessidades – e essa produção de novas necessidades constitui o [...] ato histórico.”

Ele, então, passa de objeto para sujeito histórico. Ele começa a fazer história ao decidir transformar o mundo, ao decidir se relacionar com o outro, seja qual forma. Começa a fazer todo tipo de máquina, desde a roda na antiguidade para a máquina a vapor para minimizar cada vez mais sua condição de animal e emprega seu tempo em questão cada vez mais humanas. Ele pinta, ele dança, ele cria música, arte, representações – ele enxerga subjetividades que um animal sequer reconhece como tal.

O controle, no entanto, sempre existiu. O avanço tecnológico poderia ter permitido que a humanidade, há muito, pudesse ter conquistado sua condição humana, mas ela se limitara às classes dominantes contemporâneas a seu tempo. O homem para ser homem precisava se conter dentro de uma classe, ou seria submetido a transformar o mundo para o outro, e nunca para si mesmo. Nos Manuscritos Econômico-Filosóficos, Marx dirá que:

“[...] o homem (trabalhador) só se sente como [ser] livre e ativo em suas funções animais, comer, beber e procriar [...], e em suas funções humanas só [se sente] como animal. O animal se torna humano, e o humano animal.”

Ora, o que há de mais humano no homem é sua capacidade de transformar o mundo ao seu redor, mas ele não o faz porque quer, empregando a tecnologia de forma a suprir suas necessidades materiais, ele o faz justamente para suprir suas necessidades materiais e animais, pois o produto de sua transformação, o produto de seu trabalho subjetivamente não o pertence. A terra em que trabalha, a máquina que domina é supostamente pertencente a membros de uma classe dominante, que pode nunca ao menos ter a usado. Escravizado pelo Homem que irracionalmente detém os meios de sua produção pela sua fome, sede e cansaço, ele se vê obrigado a fazer o que é mais humano, a transformar o mundo para suprir suas necessidades animais. O homem é impedido de fazer história enquanto tenta fazê-la ao transformar o mundo.

Fazendo o que é de mais humano para suprir suas necessidades animais, algo que deveria propor um ato histórico, o homem é escravizado por suas necessidades quando os meios para supri-las completamente já existem. O homem foi capaz de vencer a gravidade e lançar peças de metais para além da atmosfera, mas não de conquistar seu direito histórico de ser humano.

A luta comunista é a luta pelo direito de ser homem e o direito de fazer história. Pelo fim da escravização do homem pelo homem por intermédio das necessidades. Para poder fazer música, arte e foguetes ao invés de se ver obrigado a trabalhar para vencer sua fome, sede ou cansaço.


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