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REPRESSÃO E RACISMO | Sobre Rafael Braga, Kelvin Eliandro e tantos outros presos políticos

O sistema carcerário brasileiro é um ótimo termômetro para medir o nível do racismo que vigora para manter o capitalismo neste país e no mundo. Ao mesmo tempo em que o sistema judiciário está dando o que falar, com a farsa da Lava Jato a serviço dos interesses das nações mais ricas, vale lembrar-se de tantos “Rafaeis Bragas” que estão trancados, por motivos absurdos, enquanto os bandidos donos do poder continuam com seus vários privilégios.

segunda-feira 5 de junho de 2017 | Edição do dia

O caso de Rafael Braga é emblemático para exemplificar para quem serve as cadeias no país do penta. Trabalhador preto e favelado que em 2013 foi preso nas manifestações contra o aumento da passagem no Rio de Janeiro, na qual nem estava participando, foi acusado de portar duas garrafas de desinfetante, que para os racistas da lei virou material explosivo, em 2016, já cumprindo o regime semi-aberto, foi preso novamente por polícias da “unidade de polícia predatória” (UPP) da Vila Cruzeiro-Rj, forjado no tráfico de drogas, com o famoso kit flagrante, que muito a PMERJ utiliza para criminalizar a população dos morros cariocas. Hoje condenado a pagar 11 anos e 9 meses, mais uma multa de quase dois mil reais, demonstra muito bem a serviço de quem está a lei!

As populações das quebradas de todo o Brasil, sabem muito bem que esse tipo de prática, forjamento de crimes por partes de polícias, é muito recorrente e cotidiana. 44% dos presos no país ainda nem passaram por julgamento, muitas vezes ficam anos trancados, e só depois o Estado reconhece que a pessoa era inocente ou decreta a pena.

Desses tantos presos, em Marília temos mais um caso. O poeta Kelvin Eliandro de Aguiar, 20 anos, preso há um ano ainda aguarda julgamento. Foi acusado pela polícia por tráfico de drogas, o motivo da acusação? A cor de sua pele! A mãe afirma que os entorpecentes encontrados não pertenciam ao seu filho. É como diz o Maestro do Canão, “uma mentira deles, dez verdades”.

Hoje seus familiares fazem uma campanha por sua libertação, como também para expor seus poemas. Kelvin desde muito cedo escreve poesias, e já escreveu seu primeiro livro, ainda não publicado. Suas poesias descrevem o cotidiano das favelas, repressão, desigualdade social e hoje sobre a situação de estar privado de sua liberdade.

Erika e Esmeralda, responsáveis pela campanha.

Vivemos no país com a quarta maior população carcerária do mundo, com uma quantia aproximadamente de 622 mil presos, e uma taxa de crescimento superior aos países que ocupam o topo dessa macabra lista, que são os Estados Unidos (2.217.000), China (1.657.812) e Rússia (642.444). No entanto o Brasil vai à contra mão dessas três nações, com políticas de estado que cada vez mais trancam as pessoas, em poucas décadas se nada fizermos, o país do povo gentil e cordial irá ocupará o primeiro lugar do "pódio".

Desses 622 mil presos, por volta de 273 mil (44%), estão em condição provisória, aguardando julgamento. Outra face triste do sistema penitenciário é a superlotação. Estudos revelam que faltam mais 250 mil vagas nas penitenciárias brasileiras, resultando em condições mais absurdas ainda, como no Rio Grande Sul, onde estavam usando ônibus inativos como celas, ou mesmo como as chacinas que ocorreram no início deste ano, dentro de presídios do norte e nordeste do país, e a nova tendência de privatização dos presídios, onde o lucro é proporcional a lotação, bem nos moldes das cadeias dos Estados Unidos.

A justiça que libera políticos que furtam milhões de reais em esquemas de
corrupção, com a desculpa esfarrapada de delação premiada para que esses fiquem privados de sua liberdade em mansões luxuosas, é a mesma que tranca milhares dos nossos iguais por crimes que não cometeram.

É um dever de todos os movimentos sociais, partidos, sindicatos, artistas e etc., levantarem a bandeira pela liberdade de tantos Rafaeis Bragas e Kelvins! Pois a divisão entre preso político e preso comum é muito perigosa, se maioria que está presa é por conta de sua cor e sua classe, então todo preso é um preso político.

Cabe aqui também ressaltar a campanha levantada por Rafael Braga organizada em SP, “30 dias por Rafael Braga”, que teve início na última quinta (01),, e que no próximo dia 28, em Marília, ocorrerá um debate dentro do Quartas Intenções (evento mensal de Hip Hop), sobre o sistema penal brasileiro, onde falaremos sobre o Rafael Braga e o poeta Kelvin.

A justiça te joga em uma cela e te esqueces
O tempo me enlouquece
O Deus eu já fiz tantas preces
A saudade, crônico incômodo
Em um coração se decompõe.
Se é a esperança a última a morrer
Desejo ser sepultando
Pois a mesma a tempos me deixou,só
Habitando nas ruínas de um feliz passado.
Creio que a crença seja a recompensa
Para os que padecem assim como eu,
Sei que o saber já não tem mais essência
Minhas convicções a dor corroeu
A felicidade no se encontra distante
Todos os dias eu a vejo zombar de mim
Sopra o vento alem da muralha
Suspira meu peito implorando o fim.

Kelvin Eliandro




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