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UFRJ | Sob ataque do MEC, UFRJ começa a racionar de recursos e cancelar de serviços hoje

Sofrendo com o esgotamento de recursos, fruto dos cortes inflingidos pelo governo Bolsonaro, a Universidade Federal do Rio de Janeiro anunciou que suspenderia uma série de serviços para conseguir manter as portas abertas.

segunda-feira 9 de setembro de 2019 | Edição do dia

Na última quarta feira, 04, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) anunciou, em nota oficial publicada em seu site e enviada por e-mail aos estudantes, que suspenderia uma série de serviços, como forma de lidar com a falta de verbas resultante dos cortes sucessivos promovidos pelo governo Bolsonaro, e seu ministro da educação Abraham Weintraub, contra a instituição. A partir desse segunda feira, 09, as novas medidas entraram em vigor.

A universidade, maior federal do país, é alvo prioritário do ódio de Bolsonaro. No primeiro semestre, junto ao anúncio de corte de verbas de todas as instituições federais de ensino, a UFRJ recebeu um corte maior ainda que a média - 44% da verba de custeio sofreu contingenciamento do governo. Em uma recente entrevista, a reitora Denise Carvalho afirmou que a UFRJ poderia ter que interromper suas atividades ainda na virada de agosto para setembro, por falta de recursos. A reitora já anunciou que o dinheiro liberado pelo MEC para o custeio (R$16 milhões) só cobre metade do que seria necessário para manter a universidade funcionando regularmente.

Agora, para manter a UFRJ aberta, a reitoria começa a racionar recursos em uma série de áreas. Dentre as medidas anunciadas, estão o racionamento do uso de veículos oficiais, o que dificultará saídas ao campo, além da interrupção na compra de passagens internacionais e limitação de viagens e diárias nacionais para trabalhos de campo para estudantes de graduação, prejudicando seriamente a formação e a suspensão de serviços como custeio de telefonia móvel para os ocupantes de cargos de representação da Reitoria, das pró-reitorias, decanias e unidades. Também foi anunciada a “redução do quadro de auxiliares de processamento de dados”, o que se traduz em demissões, remanejamento, e piores condições de trabalho aos que ficam. Além disso, mais uma vez, os setores mais precarizado da universidade, as trabalhadoras terceirizadas, sofrem primeiro. Foi suspenso o contrato de serviços terceirizados de manutenção externa e jardinagem para os campi, levando várias trabalhadoras a perderem seus empregos e trazendo uma concretude trágica a uma declaração anterior da reitora, de que “mato vai crescer na Ilha do Fundão” e o campus se tornará “um lugar de desova de cadáveres”.

Além das perdas que sentirão, os funcionários e estudantes, com os racionamentos já anunciados, a reitoria ainda adicionou que terá de refazer a licitação para os ônibus intercampi “para atender à conjuntura orçamentária”, como afirma a nota. Outras medidas, ainda, estão sendo estudadas e, segundo a reitoria, devem ser anunciadas mais à frente.

Esse definhamento da universidade a nível de graduação acompanha outro recente ataque do governo à educação, [

o corte de mais de 5 mil bolsas de pesquisa da Capes

e o anúncio de que mais nenhuma bolsa será oferecida esse ano. Trata-se da mais flagrante destruição destruição do ensino e produção científica no país, promovido por um governo comprometido com o projeto capitalista de privatização e mercantilização do ensino e completa subordinação tecnológica e intelectual do país ao imperialismo.

Em recente assembléia universitária, a UFRJ recuso-se a ceder à chantagem do MEC e reprovou a adesão da universidade ao programa. Contudo, não se trata, nem de longe, de uma vitória tão grande quanto foi considerado por certos setores do movimento estudantil presentes na reunião. Além de que a universidade segue sofrendo as consequências dos cortes do MEC, também na nota, assim como em inúmeros pronunciamentos, a reitora Denise Carvalho se diz “à disposição do MEC para dialogar”, e insiste que, embora o programa “como está” não seja aceitável, ele poderia vir a ser aceito mediante mudanças pontuais no texto. Além de um posicionamento franco, vindo de uma reitora que já se reuniu e, inclusive, foi elogiada por Bolsonaro, a nota também expressa que, embora o movimento estudantil tenha força para, junto a setores de professores e técnicos, impor pressão e forçar a rejeição do programa grotescamente privatizante do governo, a batalha ainda não está vencida. Deixa em aberto a adoção do programa do governo, talvez em condições mais favoráveis aos altos cargos da universidade. Devemos rejeitar o Future-se como um todo e por princípio, recusando qualquer tentativa de “reforma” do projeto, que seguiria sendo a realização do sonho do capital financeiro de entregar a pesquisa e a educação nas mãos do “mercado”, mediante ameaças de cortes contra os estudantes!

Para chegarmos até aqui, o movimento estudantil, primeiro setor a se levantar massivamente no governo Bolsonaro, tomando as ruas em mobilizações que reuniram milhões no país inteiro, sofreu uma série de derrotas. Essas derrotas, especialmente aquelas que são fruto de batalhas não dadas, fortaleceram o governo em sua guerra contra os estudantes para implantar seu programa. Um enorme papel nesse processo foi cumprido pela UNE, que, seguindo a política dos partidos de sua direção majoritária, o PT e o PCdoB, fizeram questão de isolar as pautas dos dias de mobilização, tratando puramente dos cortes sem dar a batalha para alcançar outros setores de trabalhadores, sem encampar a luta contra a reforma da previdência ou o pacote de genocídio de Moro, insistindo em um caráter principalmente estudantil para os atos. Além disso, desde o primeiro ato, dia 15, a UNE se esforça para “domesticar” o movimento espontâneo dos estudantes. Marcando atos a partir de sua direção, e não chamando nem construindo assembleias em universidades, a UNE desinfla a auto organização dos estudantes, e mantém uma rotina de atos convocados desde cima, sem programa claro e construído nas bases, o que cansa a vanguarda e falha em se materializar como resistência efetiva ao governo. A reforma da previdência foi votada em primeiro turno na câmara dos deputados ao mesmo tempo que a UNE realiza seu congresso em Brasília. Mesmo assim, nenhum ato teve lugar, e o ataque foi aprovado sem nada mais do que algumas falas de lamento na abertura do congresso da UNE, na UNB, a alguns quilômetros de distância da votação. Isso não foi acidental. As direções majoritárias da UNE subjugam a entidade a suas políticas e sua estratégia, que passa pela resistência puramente parlamentar e contida do PT e PCdoB na câmara, e do apoio que os governadores desses partidos dão, abertamente, à reforma, em nome do “equilíbrio fiscal”. Essas vitórias mudaram a correlação de forças, e fortaleceram o governo para avançar mais agressivamente contra o movimento estudantil e abrir caminho para seu programa de destruir a universidade pública.

Leia mais: Por que os governadores do PT e PCdoB apoiam a Reforma da Previdência?

Em várias universidades do país, estudantes e trabalhadores seguem em luta contra o avanço autoritário, que atenta contra a autonomia universitária e a liberdade de cátedra, contra o desmonte e o projeto privatista, e contra a imposição, pelo governo, do projeto Future-se! Em universidades como a UFC o movimento estudantil luta bravamente, inclusive sendo atacado diretamente por Bolsonaro e seus interventores. Na UFSC uma assembléia reuniu milhares de estudantes para rejeitoar o projeto do governo e mostrar sua disposição à luta! Essas lutas devem nos servir de inspiração, e ser um chamado a que, em todas as universidades, resistâmos aos cortes não com negociações, mas com luta! Que nos posicionemos fortemente contra esse projeto elitista, privatista e subordinado, representado pelo governo Bolsonaro, e que lutemos para nos defender de todos os ataques que virão, logrando passar para a ofensiva contra o governo! Para que esse potencial de mobilização e luta que os estudantes demonstram, mesmo em meio à desmoralização, não seja desperdiçado, é essencial que esses processos de luta em diversas universidades não fiquem isolados. Que eles se massifiquem e que se espalhe a resistência. Por isso, se a UNE realmente quiser lutar contra os ataques de Bolsonaro, deve construir, em todas as universidades, assembléias massivas, chamando todos os universitários à luta! Deve promover a criação de um comando nacional de delegados, eleitos pela base nas assembléias, para coordenar nacionalmente e luta, e para que seus rumos sejam decididos desde a base! Só assim poderemos fazer frente ao projeto de Bolsonaro e Weintraub de destruir a educação e impor a nós que paguemos pela crise capitalista!

Leia nossa declaração da Faísca: Contra os cortes e o Future-se de Bolsonaro: ampliar e coordenar a luta pela educação




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