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SANTIAGO MALDONADO | Sergio Maldonado: “Reconhecemos as tatuagens, estamos convencidos de que é Santiago”

Depois de mais de dois meses de acobertamento, pistas falsas e operações de inteligência, revelou-se o pior cenário. Transformemos a revolta em uma grande luta para que sua morte não seja impune.

sexta-feira 20 de outubro de 2017 | Edição do dia

Sergio Maldonado, irmão de Santiago, confirmou na tarde desta sexta-feira a pior hipótese.

“Reconhecemos as tatuagens, estamos convencidos de que é Santiago”, confirmou diante das mídias que se encontravam presentes na sede do Necrotério Judicial, na Cidade de Buenos Aires.

A confirmação comove o país, como não podia ser de outra forma. Para milhares de pessoas, que por toda a Argentina pediram por sua aparição durante quase 80 dias, significa uma notícia terrível.

Esta confirmação põe no centro das atenções responsabilidades políticas do Governo nacional que fez todo o possível para desviar as atenções da Gendarmería - espécie de polícia militar argentina-, que efetuou uma ação de repressão, que após isso, Santiago desapareceu.

Desde a manhã desta sexta estava sendo realizada a autópsia do corpo encontrado na terça feira passada no rio Chubut. O lugar onde foi encontrado o corpo já havia sido averiguado em três ocasiões anteriormente, como ressaltou a família em um comunicado.

Justamente por isto, que desde o primeiro momento, tanto a família de Santiago como organismos de direitos humanos que haviam participado das buscas, sustentavam que existia a possibilidade de que o corpo pudesse ter sido plantado no lugar.

A autópsia continuará no transcorrer da noite de hoje e durante o dia de amanhã. Ainda resta determinar a forma como Santiago faleceu e quanto tempo o corpo permaneceu no local onde foi encontrado.

80 dias

O irmão de Santiago assumiu a frente a luta pela aparição de seu irmão há quase três meses. Hoje, diante dos veículos de comunicação, afirmou que “isto não os absolve, a responsável é a Gendarmería”.

Santiago desapareceu no dia 1º de agosto, após um episódio de brutal repressão levado a cabo por essa corporação. A força operacional havia sido comandada por Pablo Noceti, chefe de Gabinete do Ministério de Segurança Nacional que está a cargo de Patricia Bullrich.

A repressão nesse dia tinha como objetivo impor uma derrota exemplar aos integrantes da comunidade mapuche Pu Lof, em Cushamen. Foi uma operação orquestrada a serviço do grupo empresário Benetton, dono de centenas de milhares de hectares no sul do país.

Desde o momento do desaparecimento, do Governo aos meios de comunicação, foi feito todo o possível para desviar as atenções da instituição que havia atuado nessa repressão. A ministra Patricia Bullrich defendeu publicamente a Gendarmería em múltiplas oportunidades, tanto na mídia quanto no Congresso Nacional. “Não devemos estigmatizar a Gendarmería”, repetiu em mais de uma ocasião, a funcionária cuja renúncia foi exigida em diversas oportunidades.

Apesar disto, Bullrich foi apoiada publicamente pelo conjunto do governo. Esses apoios foram explícitos por parte de funcionários como o chefe de gabinete, Marcos Peña, ou a candidata a deputada nacional Elisa Carrió.

Desde o momento do desaparecimento, ainda que os testemunhos dos integrantes da comunidade mapuche denunciassem que Santiago foi levado pela Gendarmería, o governo e mídias como Clarín e La Nacion, lançaram uma campanha de demonização da comunidade mapuche e ,inclusive, do jovem desaparecido.

Durante quase três meses se dedicaram a construir todo o tipo de pistas falsas e manobras, destinadas sempre a desviar o foco da corporação que havia atuado na repressão.

Trata-se da mesma força que, como foi denunciado, durante todos esses meses espiou a família de Santiago Maldonado e às organizações que exigiam seu aparecimento.

A responsabilidade da Justiça

O primeiro juiz da causa foi Guido Otranto. Como definiu a família, ele atuou como “o advogado da Gendarmería” desde o primeiro momento. O juiz de Esquel demorou um tempo enorme até avançar nas perícias que envolviam a Gendarmería, e se negou sistematicamente a convocar a depor Pablo Noceti.

Ao mesmo tempo, em que ele atuou em conjunto com o Ministério de Segurança Nacional. Gonzalo Cané, funcionário de confiança de Bullrich, atuou de forma coordenada com o juiz para preparar os testemunhos dos policiais que atuaram durante a repressão. Quando vieram a público esses depoimentos, mostraram profundas incoerências e contrariaram afirmações iniciais da ministra Bullrich.

Por sua explícita parcialidade Otrando foi destituído do julgamento. A acusação feita pela família e por organismos de direitos humanos foi aceita após o juiz manifestar abertamente, em uma reportagem do diário La Nacion, que Santiago “havia se afogado”.

Lutar para que não haja impunidade

A revolta já percorre as redes sociais e seguramente se manifestará em todos os âmbitos da sociedade. Essa revolta tem que se transformar em organização e luta para que não haja impunidade, para que os responsáveis materiais e políticos paguem.

As enormes mobilizações do dia 1º de setembro e do dia 1º de outubro mostraram que havia uma enorme disposição de amplos setores da sociedade para lutar pela aparição de Santiago. Agora temos de convertê-la em luta, para que não haja impunidade.




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