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Ser contra o golpe precisa ser um "Volta Dilma"?

Será que para se colocar contra o governo ilegítimo de Temer é preciso apoiar o PT, que carrega todo seu impecável histórico de traição à classe trabalhadora?

sábado 3 de setembro de 2016 | Edição do dia

Por que a burguesia se deu ao trabalho de fazer esse golpe contra o PT, que foi extremamente funcional a ela? Afinal, o PT que vinha aplicando ataques à classe trabalhadora que nele confiou. O PT que manteve a nossa classe inerte com base em programas sociais mínimos, possíveis de se conceder sem prejuízo à burguesia em períodos de vacas gordas, porém que precisam ser cortados em momentos de crise. O PT que, apesar dos seus botons LGBT na campanha, foi o governo que barrou o kit contra homofobia nas escolas. Apesar de ter uma presidente mulher, foi o governo que não legalizou o aborto. Que colocou as UPPs nas favelas, promovendo todos os dias o genocídio da comunidade preta e pobre. Que aprovou a Lei Antiterrorismo, utilizada para reprimir manifestações, que inclusive chegou a ser usada para manifestações contra o golpe, como vimos nas olimpíadas.

Foi o governo que, buscando tornar possível o impossível da conciliação de classes, alimentou toda essa direita que hoje está, oficialmente, com o poder em suas mãos. Não podemos ter ilusão de que um “Volta Dilma” barra o avanço da direita. Se a direita avançou, é também por responsabilidade do PT, do seu imobilismo, dos seus acordões parlamentares, de não ter confiado na classe trabalhadora o poder de barrar os ataques da burguesia e agora o golpe, com greve geral, paralisações, ocupações, ou seja, confiado na classe trabalhadora e seus métodos de luta. Preferiu se manter no campo dos acordões. Não confiou, não chamou mobilização.

Agora voltemos à pergunta inicial: por que então a direita se deu ao trabalho de dar esse golpe? Por que, mesmo com o PT sendo tão bom para ela, resolveu tirá-lo do poder? Bem, não estamos no período de vacas gordas. O mínimo do mínimo mantido pelo PT, durante uma crise capitalista, não pode continuar sem trazer problemas para a burguesia. Para manter a burguesia bem, para a manutenção da ordem do capital, é PRECISO que a jornada de trabalho aumente para 60 horas semanais. É PRECISO "modernizar a CLT". Das duas uma: ou o PT largava da parte direita de sua política de conciliação de classes e não aceitava passar os ataques, ou largava da parte esquerda e os passava. A primeira opção que não é.

Sobra a segunda. Por que o PT simplesmente não passou as ataques? De acordo com seu histórico, sabemos que intenção não faltava, então por que não o fez? Bem, o PT é o freio da classe trabalhadora. O é porque fez com que esta acreditasse que seu governo, desse jeito que é, era a única opção possível para impedir que ataques mais profundos que os que já sofre todos os dias passassem. A fez acreditar que precisavam jogar o jogo da direita para que isso não acontecesse. Como falaria para sua base, para aqueles que acreditaram que ele era o menos pior exatamente porque manteria esse mínimo do mínimo, que isso teria que ser tirado?

A mão direita ajustadora de Dilma não vencia mais o peso dos ajustes, precisaria usar a esquerda, e para isso largar os dois dedinhos que, com nojo, se dedicavam a segurar nossa classe e dar ao seu governo a cara de esquerda que o elegia. Não poderia. Se o fizesse, o que seguraria a classe? Será que os trabalhadores que nele confiam, frente a esses absurdos, mesmo com todo o discurso e aparato imobilizador do petismo, se manteriam inertes? Ou aquele freio tem limites? Tem limites, a classe trabalhadora não é boba nem nada como alguns setores insistem em acreditar, e é arriscado brincar com ela. O PT sabe disso. Mas os ajustes precisam ser passados de qualquer jeito. Esse jeito foi o golpe.

Ao fim e ao cabo, esse golpe foi na classe trabalhadora e veio de ambos os lados. Tanto do lado da direita, que vai conseguir passar os ajustes, como do lado do PT, já que não é de todo mal para ele. Pode voltar de cara lavada em 2018, sem o peso de ter sido a mão ajustadora da crise, novamente se colocando como a única opção possível, com o “poderia ser pior, não viram?”. Ser contra o golpe hoje não é necessariamente acreditar que o PT é essa opção, mas sim saber que o que ocorreu é um retrocesso, tanto nos direitos como na consciência de que o PT não está ao nosso lado e do que é necessário para construir uma alternativa da classe trabalhadora independente.

O golpe é um retrocesso, mas não sejamos pessimistas. A tarefa da esquerda agora é mostrar que não se muda as regras do jogo apenas mudando os jogadores, e são elas que estão erradas. Mostrar que o Fora Temer é necessário, compor as ações contra o golpe, mas deixando claro que apenas um “Volta Dilma” não é efetivo para barrar os ataques da direita, como ficou bem evidente com esse golpe, que não teve resistência nenhuma por parte do PT. É mostrar sua força nas lutas contra esse governo ilegítimo e contra a reforma na previdência, contra as privatizações, contra o teto para educação e saúde, contra a reforma política que restringe a esquerda... Enfim, romper com o imobilismo do PT construindo uma forte greve geral contra todos os ataques que a burguesia quer implementar, que já aconteciam antes e que agora vão vir com mais força.

Uma resposta efetiva para que a crise dos capitalistas não recaia nas costas da classe trabalhadora só pode ser alcançada de forma independente tanto da direita como do PT. Organizando a resistência, o ódio de classe que cresce junto com os ataques pode servir para erguer nossa voz anticapitalista contra a burguesia, seus governos e contra todo esse sistema político que nada de bom tem a nos oferecer.




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