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CORONAVÍRUS | Segundo Fiocruz, 9,3 milhões estarão em risco com volta às aulas, mas governos seguem reabertura

Enquanto muitos Estados já começaram o irresponsável retorno às aulas e outros se programam para em breve dar esse passo contrário à proteção da população nesse momento de pandemia, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) calcula – a partir de pesquisas e dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – que esse retorno precoce às aulas pode colocar até 9,3 milhões de brasileiros idosos e adultos em risco.

quinta-feira 23 de julho de 2020 | Edição do dia

Foto: Rivaldo Gomes/Folhapress

A pesquisa da Fiocruz levou em conta dados dos adultos de 18 a 59 anos com diabetes, doenças cardíacas ou pulmonares, e idosos (maiores de 60 anos), ou seja, considerou o chamado grupo de risco. Desses dados, contaram apenas aqueles que vivem com crianças e adolescentes de 3 a 17 anos. Resultado: 9,3 milhões dos adultos ficariam mais vulneráveis à contaminação do novo coronavírus; podendo formar uma fila por leitos de UTI de até 900 mil pessoas; e a possiblidade de 35 mil novos óbitos.

Para um governo que nunca se importou com a vida da classe trabalhadora, sendo está em sua grande maioria negra, esse tipo de pesquisa não muda em nada a decisão de avançar com a reabertura total. Para Bolsonaro, Mourão e os militares a economia sempre esteve acima da vida da juventude e da classe trabalhadora. Não importa se centenas de milhares morrem por todo o país, o que importa é que satisfaçam a vontade dos grandes banqueiros, empresários e o agronegócio.

Mesmo os governadores que no início se opuseram a política da “gripezinha” de Bolsonaro, como Doria e Witzel, hoje deixam claro que suas ações estavam mais ligadas a disputas políticas e eleitorais do que ligadas a uma preocupação com a vida da população. Sem exceção, hoje os governadores e prefeitos pressionam para que tudo volte ao normal, tentando “junto” com o governo federal tentar criar um espírito de “normalização” da situação.

Como exemplo da pressão dessa “normalização” e retorno às aulas para responder ao mercado, o governador de SP e o prefeito da cidade de SP, João Doria e Bruno Covas (ambos PSDB), juntamente com os seus secretários da educação Rossieli Soares (estadual) e Bruno Caetano (municipal), tentam impor um plano irrealizável, sem se preocuparem com a vida da população paulista, onde o próprio Rossieli tentou naturalizar a possibilidade de 1557 mortes entre os estudantes.

Veja aqui: Em defesa da reabertura das escolas secretário de SP relativiza morte de 1557 crianças prevista.

Mas será que para a classe trabalhadora, para os mais pobres e negros, para as crianças e jovens negros que vivem com a crise da pandemia e sob a mira das balas da polícia, para todos os que estão desempregados desde antes da pandemia e agora em decorrência dela – é possível voltar para uma “normalização” enquanto, além de todos os problemas sociais, segue em média por dia mais de 1 mil de novas vidas se esvaindo enquanto o governo tenta aparentar que está com tudo sob controle?

Muitos Estados já retornaram às aulas sem se quer garantir o mínimo para seus estudantes. Pura demagogia quando governadores e prefeitos dizem que farão o possível para a proteção de nossas crianças, sendo que sempre deixaram claro que a educação de qualidade e a saúde nunca foram prioridade, mas sim os ataques contra as mesmas. Ataques contra os alunos, suas famílias, os trabalhadores do chão da escola, etc.

Veja aqui: Prof Grazi Rodrigues rebate projeto de volta às aulas para o Secretário da Educação de SP.

O governo federal e os governadores, com seus planos “particulares”’ mas todos alinhados com o mesmo objetivo de enriquecer o bolso dos grandes empresários, fazem planos irrealizáveis para forçar o retorno às aulas, deixam milhares de educadores sem salário, demitem as trabalhadoras e trabalhadores terceirizados que fazem parte das escolas, deixam nossas crianças sem alimentação sem dar explicações para onde está indo os gastos mensais das merendas, deixam suas famílias sem auxílio emergencial burocratizando o seu recebimento, atacam os direitos trabalhistas para diminuir ainda mais a renda das famílias da classe trabalhadora. Os governos e ricos tentam e aproveitar da pandemia para precarizar ainda mais as vidas daqueles que fazem esse mundo “girar”.

Não existe “normalização” quando hoje se têm 82 mil mortos no país, sendo em sua maioria pobres e negros. É escandaloso esse retorno às aulas seguir enquanto pesquisas apontam que mais 35 mil podem morrer com a reabertura das escolas, ou diante de previsões como do Estado de SP que chega a uma marca de 1557 possíveis mortes de alunos.

Nós do Esquerda Diário e do Movimento Nossa Classe Educação estamos fazendo parte dessa luta contra esse retorno em meio a pandemia, e também seguiremos na luta por uma quarentena racional para que as famílias possam de fato cuidar de seus filhos, recebendo um auxílio emergencial de no mínimo 2 mil reais - uma vez que o governo tem trilhões de reais para repassar para banqueiros e grandes empresas que seguem demitindo - ou em terem licenças remuneradas sem redução de salário.

Para um efetivo retorno às aulas, é preciso que seja uma decisão tirada entre os professores e outros trabalhadores da educação; as equipes de limpeza, cozinha e outras equipe que garantem o funcionamento das unidades escolares; os trabalhadores da saúde que são os verdadeiros heróis da linha de frente pela vida de todas e todos; e pelas alunas e alunos, e seus responsáveis – isso em cada Estado e cidade. É preciso garantir testes massivos, a centralização dos sistemas de saúde público e privado sob controle dos trabalhadores e que a indústria gire para a produção dos insumos necessários para o combate à pandemia.

É preciso uma saída independente da classe trabalhadora. Basta de deixar Bolsonaro, Mourão e os militares fazerem com que paguemos com nossas vidas por essa crise. Sem confiança no Congresso e no STF, é preciso que a classe trabalhadora busque por saídas próprias, impondo nas ruas por uma nova Assembleia Constituinte Livre e Soberana para que seja possível mudar as regras do jogo e de fato as escolhas da maioria prevalecer.




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