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“Se não trabalhamos, não comemos” – 0,05 centavos por máscara, a dura realidade dos imigrantes em SP

Em recente matéria da Folha foram relatadas situações que beiram regimes escravos de trabalho para os imigrantes, sobretudo bolivianos e paraguaios, do setor têxtil da cidade de São Paulo. Uma trabalhadora chegou a dizer que estão pagando R$ 0,05 centavos por máscara produzida, um produto essencial nessa pandemia.

domingo 19 de julho de 2020 | Edição do dia

Foto: Kisie Ainoã - CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

A precarização do trabalho já é uma realidade cruel há muito tempo nesse setor e que cada vez mais tem incorporado os imigrantes que com esperança de melhores condições de vida e fugindo da crise em seus países acabam se submetendo a condições degradantes para sobreviver no Brasil. Num cenário internacional de desemprego massivo e informalidade são sobre essas pessoas, muitas das quais mulheres e cada vez mais jovens, que recai essa parte fundamental do combate a pandemia que é a produção dos EPi’s.

Segundo uma trabalhadora que deu entrevista ao jornal se fosse levar na ponta do lápis os custos de mão de obra e material não compensaria trabalhar por uma remuneração tão baixa de pouquíssimos centavos por peça, mas com a situação a equação se tornou ainda mais simples: “Se não trabalhamos, não comemos”. Os intermediários que realizam as encomendas se apoiam na alta demanda por EPI’s e na ampla oferta de mão de obra para baratear os pagamentos e força-los a trabalhar sem receber quase nada, sendo que são muitos os casos relatados de calotes que recebem as famílias após a produção e entrega de milhares de peças.

Cerca de 79, 6% dos homens imigrantes que trabalham na indústria têxtil na região metropolitana de São Paulo são bolivianos, segundo o censo 2010; no caso das mulheres, o número é de 73,9%. 20% da imigração para a cidade de São Paulo nos últimos 20 anos vem da Bolívia e muitos desses trabalhadores tem medo e muito receio de realizar denúncias, seja por sua condição de imigração ou pela bagunça que é a rede de fiscalização no setor, abrindo espaço pra essa superexploração.

Quando resolvem se queixar de que seria muito pouco, são rebatidos com ameaças por parte desses “intermediários” que pressionam a produzir em prazos absurdos. As jornadas de trabalho chegam a durar quase 24 horas nos casos mais extremos, e uma rotina de trabalho em sete dias da semana das 7h até as 23h. Muitos tem crianças e dizem que se pudessem não trabalhariam assim, mas que sem aceitar tais condições ficam sem receber e passam fome.

Um caso bárbaro foi o da encomenda feita pela subprefeitura de Itaquera que encomendou de uma oficina em Guarulhos 10 mil máscaras e 10 mil aventais e que os trabalhadores nunca receberam seu pagamento. A questão é que a encomenda foi feita de maneira terceirizada, com a intermediação da dona do local, a prefeitura alegou não ter recebido o material e por isso não efetuou o pagamento, mas é provável que a verba foi repassada para a intermediária que simplesmente deu um calote nos trabalhadores.

Isso mostra como a política de Estado em todos os níveis é não só conivente com essa superexploração dos imigrantes como inclusive é dependente da existência para seu próprio funcionamento. Os governos de Covas no município e de Doria no Estado de SP (PSDB), e o governo Bolsonaro a nível federal tem um discurso alinhado a extrema direita profundamente racista e xenofóbica que sustentam essa barbárie. Além de chantagear essas famílias entre aceitar essas condições ou morrerem, a trabalharem incansavelmente sem medidas sanitárias garantidas pelo Estado se arriscando para suprir de maneira insuficiente ainda os EPI’s dos setores da linha de frente do combate a pandemia nos hospitais, ainda por cima muitas vezes não se responsabilizam por pagar esses trabalhadores.

Uma resposta dos explorados e oprimidos contra esse projeto assassino da extrema direita racista e xenofóbica é possível e deve se apoiar na força da luta negra internacional que explodiu em justiça por George Floyd e por seus iguais em cada país, vítimas da violência e brutalidade da polícia e do Estado. Um exemplo de muita força que vemos se desenvolver no Brasil e em SP é a luta dos entregadores de aplicativo que estão em condições muito semelhantes e que também integram essa parcela dos “perdedores absolutos” nessa crise.

Nesse sentido é necessário fortalecer a luta dos entregadores, batalhando pela conquista de suas reivindicações mínimas e também contra esse projeto de precarização do trabalho e da vida, batalhando pela unificação da classe trabalhadora e de sua auto-organização de maneira democrática para que possa se contrapor com um projeto próprio e de independência de classe, que lute pelo Fora Bolsonaro e Mourão, sem qualquer confiança no Maia, no STF e que permita alterar as regras do jogo através de uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana imposta pela luta, permitindo as massas opinarem nas principais decisões do país e que se choque com a sede de lucro dos capitalistas, evidenciando a necessidade de um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo. É com essa perspectiva que iremos construir a paralisação dos entregadores nesse dia 25.




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