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Em um discurso incomum e há poucos dias do início da campanha de candidatos para a Constituinte fraudada, Maduro pediu "lealdade absoluta" dos militares frente a supostos planos para criar fissuras dentro do exército.

sexta-feira 14 de julho de 2017 | Edição do dia

Maduro disse durante uma formatura de oficiais em Caracas, transmitida pela rádio e televisão nacionais, que: "Nas próximas horas eu vou fazer anúncios muito contundentes das conquistas que obtivemos na luta contra o complô, a conspiração e tentativa de criar fissuras na nossa FANB". É que o país entrou na contagem regressiva para 30 de julho, quando as eleições para constituinte são realizadas, e a oposição está se preparando para manifestações contra ela, enquanto está chamando um referendo para 16 de julho .

Neste contexto, há muitos rumores de um forte mal estar que surge no seio das forças armadas e do estado de deliberação interna, que pressagiam eventuais ruídos de relâmpagos que venham agitar o furacão tempestuoso da política. Por isso, o controle rigoroso de inteligência doméstica foi aperfeiçoada para evitar tais movimentos, especialmente na gerência média ou dos militares que têm tropas sob seu comando direto. Quando Maduro refere-se "às conquistas que obtivemos" provavelmente estava se referindo aos incêndios que estaria apagando de levantes militares.

Então, quando falou aos jovens soldados pedindo "vigilância máxima, estado de alerta, lealdade máxima para derrotar a tentativa de um complô contra a paz do país que procura impedir as eleições de 30 de julho", não se dirigia apenas aos militares que se graduaram mas dava uma mensagem para a própria oposição que anulando qualquer plano sobre o qual se incidiam membros da chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD). Portanto enfatizou que os militares fossem "fiéis sempre, traidores nunca" e que fossem aos quartéis e unidades militares "para garantir a absoluta lealdade das Forças Armadas".

Como é sabido, da eleição de 30 de julho não participará a coalizão da MUD que ao invés disso, convoca a que se impeça essa disputa e convocou a participação no plebiscito de 16 de julho, que não é obrigatório, onde dirão se estão ou não de acordo com um novo ordenamento jurídico. Maduro advertiu que esses planos da oposição são ilegais e ameaçou com penas de prisão aqueles que incorram em “delitos eleitorais”.

Para a MUD, seu referendo será “o maior ato de desobediência civil” que já foi realizado. No referendo se espera que os convocantes se expressem sobre a eleição dos membros da ANC, assim como se demandam que as Forças Armadas e os funcionários públics devem cumprir a atual Constituição e as decisões da Assembleia Nacional, controlada pela oposição. Além disso, os votantes do referendo podem dizer sim à renovação dos Poderes Públicos e “a realização de eleições livres e transparentes, assim como a conformação de um Governo de união nacional para restituir a ordem constitucional”.

A oposição sustenta que mais de 50 mil voluntários serão mobilizados para tentar que a votação seja um “êxito” nas supostamente mais de 14 mil zonas eleitorais habilitadas em mais de 1700 prédios de grupos civis e religiosos de todo o país e que inclusive os venezuelanos fora do país poderão votar também em mais de 200 cidades de todo o mundo. Para além de saber se estes números podem ser ou não reais, é certo que a oposição se lança nesse dia com uma mobilização enorme, há mais de três meses de aberta a crise, e busca incidir mais ainda em direção ao interior das Forças Armadas.

Como já era previsível, o chavismo não ficaria de braços cruzados frente ao referendo chamado pela MUD, e anunciou nesta sexta-feira a celebração de uma simulação de votação para ver a mobilização frente à Constituinte, um ensaio convocado para o dia 16 de julho, o mesmo dia em que a oposição fará seu plebiscito. De acordo com os dirigentes do chavismo, o simulacro dos oficialistas servirá para “ensaiar o voto e dessa maneira garantir que as pessoas vão em segurança escolher seus constituintes”, mas na verdade tenta boicotear diretamente o chamado ao referendo da oposição.

Até o momento não se conhecem ainda estimativas de participação nas eleições, as prévias mostram um forte rechaço à Constituinte, por isso o próprio Maduro já pediu à equipe de campanha para implementar distintos mecanismos para pressionar a participação. Em um discurso transmitido obrigatoriamente em todas as rádios e televisões, Maduro pediu ontem para usar as listas de funcionários e “chamar todos os trabalhadores” e aos “que tenham cargos públicos do país e organizar a forma como vão votas às 5:00 do domingo, 30 de julho”, para que os funcionários em todos os níveis se dirijam a votação “sem desculpas”. Uma obrigatoriedade que não caiu nada bem entre os funcionários da administração pública.
Entretanto, a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), que está localizada em uma oposição aberta ao governo de Maduro, ainda que em teria não expressaria a posição do Vaticano, qualificou a eleição da Assembléia Constituinte como a instauração de uma “ditadura militar”. “Esta assembleia será imposta pela força e seu resultado será a constitucionalização de uma ditadura militar, socialista, marxista e comunista”, afirmou o presidente da CEV, Diego Padrón, durante a instalação da Assembleia Plenária do Episcopado do país.

Até o momento, não é muito clara a situação interna das Forças Armadas, mas tudo indica que há movimentos nos quartéis pelo impacto da magnitude da crise nacional. Quando Maduro se refere ao “complô” ou “conspiração” que estariam sendo controlados, não se refere a outra coisas que não esses possíveis movimentos que poderiam estar sendo disfarçados. É que a oposição, apoiada no imperialismo e todo o direitismo internacional, evidentemente não se detém em utilizar demagogicamente apenas questões sobre “democracia” como é o caso de seu chamado ao referendo, mas pressiona com força para que as Forças Armadas terminem por tomar as rédeas da abrupta crise política, ou seja, empurre a uma saída pela via da força militar, ou que algum setor importante da mesma termine de romper o empate catastrófico que mantém com o chavismo.

Por isso Maduro bem apontando um maior controle nas Forças Armadas, não apenas com as recentes mudanças no Estado Maior, mas também com o posicionamento de militares de maior confiança nas zonas de maior concentração de armamento, assim como nas 24 Zonas de Defesa Integral e as 7 Regiões Estratégicas de Defesa Integral. É que ter o controle completo de toda a cadeia de mando é chave para Maduro, pois para superar a crise nessas semanas, os militares são os únicos que poderiam dar uma sobrevida a Maduro, como também o contrário, cortar seus prazos.

No país se vivem momentos críticos e de alta instabilidade que muito dificilmente possam seguir no tempo. Em um momento político onde a oposição não acaba por se impor e derrotar o governo, e este não consiga dar um xeque-mate na direita com suas constantes mobilizações, a mão militar cada vez mais se faz presente, em um contexto onde tanto Maduro como a oposição da MUD se lançam a uma saída que inclua as FANB. Por isso, nesses dias, os olhos estão postos no comportamento que se pode dar nas Forças Armadas ou em movimentos internos da mesma, e daí vem as afirmações de Maduro, inclusive sobre os anúncios que sustenta do que faria nos próximos dias.

Dos militares não pode surgir nada de progressivo, pelo contrário, haja visto como sejam seus próximos movimentos, inclusive de algum setor deles. Seja pela via da força com ações próprias das FA, ou por terminar de decidir as forças políticas em relação a Maduro terminando de impor sua farsa constituinte ou por girar sua vontade a uma saída da MUD, os trabalhadores e o povo pobre não podem esperar nada a favor desses setores que, além de estar levando adiante a forte repressão, se enriqueceram nos últimos anos em torno da administração diretas das principais empresas e do controle dos recursos do país. Portanto, se faz cada vez mais necessário brigar por uma alternativa dos trabalhadores e do povo pobre, que seja independente do governo de Maduro e da oposição de direita, assim como opor-se a qualquer ação dos militares.




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