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SAÚDE | Reflexões sobre a epidemia de sifilis

segunda-feira 14 de novembro de 2016 | Edição do dia

A principal importância em termos de saúde pública relacionado a sífilis é sua transmissão vertical, ou seja, da mãe para o feto, podendo infectá-lo manifestando-se na forma de sífilis congênita. Em média, em 50% dos casos os recém-nascidos não apresentam sintomas até as 3 primeiras semanas, mas que ao longo dos primeiros meses de vida podem se manifestar como feridas no corpo, cegueira, deformações na arcada dentária, pneumonia, malformações ósseas, surdez e retardo mental. Assim, a sífilis, em 2010, foi considerada umas das prioridades dos países da América Latina e Caribe, tendo como meta uma diminuição para 0,5 casos por cada mil nascidos vivos até 2015. Em 2011, o governo federal brasileiro criou a “Rede Cegonha” visando garantir a assistência pré-natal, durante o parto, pós-natal e infantil, tendo entre suas medidas, a implantação de diagnósticos rápidos de sífilis e HIV.

Entretanto, o último boletim de sífilis lançado em 2015 mostrou através de estudos estatísticos com dados coletados em 2014 e panoramas traçados comparando anos anteriores que houve um aumento no número de casos de sífilis congênita. O boletim, por sua vez, não deixa em evidência a possível causa para que tenhamos caminhado contra a meta estabelecida em 2010, entretanto, os dados indicam que houve um aumento de em torno de 78% em 2013 no acesso de gestantes à consultas pré-natal. A análise do perfil socio-econômico também evidencia um recorte de classe esperado, segundo os mesmos estudos: mulheres auto-declaradas pardas e negras, indígenas, de baixa escolaridade e de baixa renda.

Em nota informativa de março de 2016, o Ministério da Saúde afirmou que havia um número crescente de casos de sífilis desde o segundo semestre de 2013, e dentre as estratégias de saúde pública para reversão e controle deste quadro. Entre tantos fatores que atenuam a situação, está a produção da benzatina, o antibiótico usado no tratamento da sífilis. Já em 2014, o governo admitiu estar com dificuldade de compra do medicamento das empresas produtoras no Brasil, sobrevivendo à compras emergenciais, de tal forma, que pela escassa quantia de medicamento, fosse priorizado o tratamento de gestantes e seus parceiros.

Finalmente, em outubro de 2016, o governo brasileiro assumiu que o país enfrenta uma epidemia de sífilis. Junto à essa declaração oficial, recebemos também a notícia da PEC 241, sobre o congelamento de gastos do orçamento da União, agora chamada de PEC55, para a criação de um teto para gastos. Atualmente, o Brasil investe em em torno de 8% de seu orçamento para saúde, sendo um dos países que menos investe neste setor quando comparado com a média mundial. Os cortes na saúde, ocasionando sucateamento do serviço público de saúde e dos programas que trabalham com a prevenção de doenças, podem aumentar ainda mais casos de doenças como dengue, zika e sífilis, tornando comum o quadro epidêmico. Essas mudanças de orçamento afetam principalmente os mais pobres que necessitam de forma quase que unânime do serviço público de saúde e educação, além de atentar diretamente contra direitos básicos do cidadão.




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