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UNESP | Racismo na Unesp de Ourinhos

sexta-feira 11 de setembro de 2015 | 00:05

No dia 27 de agosto, outro caso de racismo ganhou evidência na Unesp, dessa vez na Faculdade de Geografia de Ourinhos. A data marcava a primeira reunião do Coletivo Negro que se formou por lá. Não por acaso, no mesmo dia surgiram pichações racistas e homofóbicas no banheiro do bloco B da unidade. Uma das frases dizia: "Pretos Fedidos".

No mês de Julho, no campus de Bauru, pichações com o mesmo teor também apareceram. Em um dos banheiros pixaram as frases: “Unesp cheia de macacos fedidos”, “Negras fedem” e “Juarez Macaco”. Esta última frase fazia referência ao Professor Juarez, único professor negro do curso de comunicação, fato abordado aqui. Não devemos esquecer também, o absurdo do trote da turma de Medicina da Unesp Bauru ocorrida este ano, onde os ditos "veteranos" aplicaram o trote Ku Klux Klan nos ingressantes do curso. Usando trajes e tochas acesas, com os ingressantes amarrados. Uma facada no peito dos estudantes provindos da classe trabalhadora, principalmente as negras e negros. Os racistas argumentaram que na realidade não era uma referência ao KKK, mas sim à ideia de um carrasco, o que também seria um absurdo. No entanto, um estudante mais velho no curso esclareceu o fato e informou que o trote do carrasco, era uma forma de repetir o primeiro trote ocorrido anos atrás, que era escancaradamente chamado de KKK, dessa vez trocando apenas o nome e a cor dos trajes para evitarem "polêmicas". Ou seja, mudaram a forma mas o conteúdo continuou o mesmo! Na Unesp de Araraquara também aconteceu outro violento caso – pixaram em uma das paredes a frase: "Macacos voltem para África", direcionada aos estudantes intercambistas.

As universidades públicas no Brasil são um dos tantos termômetros que existem nesta sociedade para medir o racismo institucional presente em nosso dia-a-dia. Começando pelo vestibular , que faz com que milhares de estudantes pobres e, principalmente, negros e negras fiquem só na porta dos tais centros de excelência. Filhas e filhos da classe trabalhadora, principal financiadora dessas universidades, são barrados pelo apartheid invísel no formato de uma prova. Essa máquina de seleção, que gera lucros e mais lucros aos cursinhos e colégios particulares, é o primeiro obstáculo nessa difícil trajetória. Aos estudantes que conseguiram passar por esse filtro do vestibular, prova que de justa não tem nada, sentem na pele a precarização da vida, do trabalho e da educação na quebrada e o que tivemos que lutar para estar nesses espaços. Sentimos também na pele esses ataques, que se manifestam em olhares, gestos, atitudes, piadas e posições políticas, cotidianamente em nossas vidas.

É necessário refletirmos muito bem sobre todos esses casos, principalmente nesse momento em que o número de negras e negros vem aumentando nas universidades, por conta da política de cotas. Os racistas, acostumados com a universidade branca, começam a ficar cada vez mais absurdamente incomodados, e resolvem se expressar de forma mais direta.

Não podemos esquecer que a política de cotas que temos hoje na Unesp é fruto da luta que os estudantes travaram muito bravamente, com o seu auge na histórica greve de 2013, onde vários campi entraram em greve, realizaram ocupações de direção, duas ocupações de reitoria, e resistiram a tropa de choque da PM, para a política racista da Reitoria e do Governo de São Paulo, chamada PIMESP.

Com o aumento no número de estudantes negros e negras nas universidades, outro fenômeno vem ocorrendo na Unesp: a formação de vários coletivos negros em alguns campi e a reestruturação de outros que já existiam mas não estavam funcionando. Os/as poucos/as negros/as que sofriam de forma isolada o racismo dentro desses espaços se veem mais fortalecidos com a entrada de mais dos seus e começam a se organizar para dar uma resposta. Após o caso de racismo de Bauru, por exemplo, o coletivo negro Kimba fez uma campanha colando cartazes de combate ao racismo pelo campus.

Isso são germes e sinais do que poderemos enfrentar mais pra frente, com o avanço da crise na educação e na economia em geral. Hoje são pichações em banheiros, cartazes, trotes... Amanhã poderemos ver grupos, organizações, etc. Na medida em que a elite da universidade se sentir mais ameaçada em perder seus privilégios, maior serão os ataques que têm como alvo as/os estudantes mais pobres, sobretudo negros e negras. O movimento estudantil também deve se posicionar, tendo a luta contra as opressões como ponto central, fortalecendo as ações tiradas dos coletivos negros que visam combater o racismo, retomando o espírito de luta de 2013 e travando uma luta exemplar contra o racismo.




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