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CORONAVÍRUS | Querem fazer testes em africanos para combater Covid-19: corpos negros não são cobaias!

Em um programa transmitido na última quarta-feira (1°), o chefe da unidade de terapia intensiva do hospital Cochin em Paris, Jean-Paul Mira, propôs o seguinte em relação a possíveis vacinas contra o novo coronavírus: "Por que não realizar estudos na África, onde não há máscara, tratamento nem reanimação?".

Luno P.Professor de Teatro e estudante de História da UFRGS

quarta-feira 8 de abril de 2020 | Edição do dia

Com a repercussão rápida e negativa de sua fala, Jean-Paul Mira resolveu se desculpar por ter proposto que os testes de vacina contra o novo coronavírus fossem feitos no continente africano. Em recente entrevista ele tornou a se desculpar por suas "perguntas idiotas", embora defenda que foi mal interpretado por quem o criticou, se dizendo preocupado com a África.

Acontece, porém, que defender esse tipo pensamentos que a África e os africanos, em sua maioria negros, podem servir como cobaias para experimentos não é fruto de mera má interpretação: é fruto do racismo. A África é vista pelos europeus há séculos como um pedaço de terra sub-desenvolvido cujo único potencial é ser espaço para desapropriação sistemática de seus recursos naturais e da exploração da força de trabalho das populações de todo o continente africano.

A fala de Jean-Paul Mira não pode ser facilmente perdoada, já que ela não é um engano, uma confusão de palavras nem mesmo um ato de benevolência porque, enquanto estão em período de testes, vacinas e medicamentos podem causar sérios e inesperados efeitos colaterais. Sendo assim, sugerir que os testes sejam feitos primeiramente na África é reforçar a ideia de que pessoas negras são descartáveis e possam ser subjugadas aos interesse dos imperialistas que mostram novamente com essa proposta que os corpos negros são vistos como menos importantes para o capital.

Diante da epidemia que ameaça a África, vemos que o imperialismo francês não faz parte da solução, mas, pelo contrário, parte integrante do problema. São os anos de racismo, dominação e submissão dos países africanos que os tornam mais vulneráveis ​​às crises que os ameaçam mas que também criam essa ideologia de ver corpos negros como meros ratos de laboratório.

É preciso exigir o cancelamento da dívida dos países africanos, que servem como mecanismo de submissão pelo imperialismo, para que se possa investir em saúde, assim como se faz necessário converter a produção sob controle operário de todos os países para garantir todas as medidas e equipamentos necessários para o combate do vírus.

Mais do que nunca se faz necessário exigir a retirada de todas as tropas francesas da África e de todos os territórios onde estão implantados para proteger os interesses das grandes fortunas, já que sua presença militar permanente não é apenas uma fonte de arbitrariedade, crimes, violência, violência de gênero e sexual, humilhação; é também, no contexto atual, uma possível fonte de contaminação para as populações locais.

Corpos negros não são cobaias! Que nenhum país careça do equipamento necessário para enfrentar a epidemia!




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