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PORTO ALEGRE | Quem são os empresários bolsonaristas que fizeram o pedido de impeachment de Marchezan?

sexta-feira 7 de agosto de 2020 | Edição do dia

Porto Alegre foi surpreendida pela aprovação do pedido de impeachment de Marchezan nessa quarta-feira. Numa pitoresca unidade de vereadores do PSOL, PT, NOVO, Republicanos, PDT, Solidariedade e outros partidos de direita e burgueses, a votação foi quase unânime. O pedido teve como base jurídica o uso absurdo de parte do fundo municipal de saúde para a publicidade da prefeitura, um descalabro sem tamanho em meio a uma pandemia crescente na cidade e no estado. O que pouco se falou é o que há por trás do pedido de impeachment de Marchezan, quais são os atores da peça jurídica, seus interesses e os setores da sociedade que foram pra cima do tucano alguns meses antes da eleição. A verdade é que as carreatas bolsonaristas, o terraplanismo olavista, os críticos do uso de máscara e os empresários que querem que as pessoas morram para não diminuir seus lucros saíram das redes sociais e foram até a câmara dos vereadores para derrubar o prefeito.

Encantados com as árvores, não conseguem ver o bosque, como já dizia um velho marxista. Compartilhamos da raiva contra Marchezan junto a trabalhadores e jovens portoalegrenses que vibram frente a possibilidade de Marchezan cair. Afinal, esse é o prefeito que acumula uma lista de ataques antipovo que precisaria de um texto a parte. Mas é no mínimo ingênuo, para não dizer desastroso, achar que esse impeachment necessariamente trará algo de bom. Primeiro por uma questão óbvia: seu vice, Paim, do PP, entraria sob pressão empresarial moralizada para abrir ainda mais o comércio, a despeito dos índices altíssimos de internações. Seria equivocado achar que Marchezan está sendo derrubado porque atacou trabalhadores, afinal os setores que organizaram o impeachment são os mesmos que estão demitindo a rodo, reduzindo salários, expondo trabalhadores ao vírus diariamente e avançando num negacionismo típico do terraplanismo. E ainda fazem demagogia com dinheiro da saúde, num típico populismo de direita, como se os defensores do estado mínimo estivessem se importando com a saúde pública… Basta ver os perfis dos proponentes do pedido de impeachment e dos atos que organizaram nas últimas semanas contra o prefeito.

Andrea Pires Weber, empresária que já liderou a Associação de Moradores e Empresários do Moinhos de Vento, notório bairro nobre da capital, desfila no facebook com um filtro terraplanista com os dizeres: “Saia de Casa. Desobediência Civil Já”. Em sua rede social, a bolsonarista defende que transgêneros é uma pandemia e recentemente publicou o Manifesto Pela Reabertura de Porto Alegre, assinado por inúmeras entidades patronais, de capital volumoso, pedindo a abertura de praticamente tudo na capital. Não é brincadeira, trata-se de uma operadora empresarial que veio com tudo contra o PSDB, a despeito da vida de milhares, tudo com um requinte obscurantista e terraplanista do tipo que denuncia a mamadeira de piroca.

Carlos Frederico Brandt, empresário e engenheiro com uma empresa de capital social de quase R$ 100 mil, participou recentemente de ato em frente a prefeitura onde se defendia a cloroquina, isolamento seletivo, lamentos pelas mortes de CNPJ’s (não de vidas…), falas contra a União Soviética e Cuba, entre outros delírios bolsonaristas. Carlos participou ativamente das carreatas bolsonaristas contra o STF e pela abertura do comércio, negando a pandemia.

Nair Berenice Silva, publica em sua rede social fotos com Sergio Moro, perfil “fechado com Bolsonaro”, em atos pró-impeachment da Dilma e em defesa de Bolsonaro e uma curiosa foto com os dizeres “Je Suis Weintraub”, em referência ao detestável ex-ministro da educação que saiu fugido do país com medo dos processos. Em defesa do fechamento do STF e mais outras pérolas bolsonaristas, Tuty, como é chamada, acredita que medidas de isolamento social são “totalitarismo” e, em defesa do lucro patronal, é a terceira propontente do pedido de impeachment de Marchezan.

Para fechar os quatro cavaleiros do negacionismo e da morte, a cientista política e jornalista Fernanda Barth ilustra seu perfil de facebook com a defesa “da família e dos direitos fundamentais à vida, à liberdade e à propriedade”. Ideóloga do conservadorismo, foi uma das lideranças da pitoresca marcha na câmara dos vereadores durante a votação na quarta-feira (5). Num revival estético dos atos pelo impeachment da Dilma, Fernanda defendeu o “direito de trabalhar” dos empresários e criticou que empresários tenham que bancar testes para os funcionários.

Os quatro empresários formam a base social clássica do fascismo: a pequena-burguesia prejudicada pela crise capitalista. Na história, os setores da sociedade que encorajaram o fascismo na Itália e na Alemanha foram justamente setores médios que se arruinaram diante da crise capitalista e passaram a atacar o movimento operário, os comunistas, os homossexuais, etc. Fisicamente esses empresários não enveredaram por esse caminho, mas nas palavras sim, como ilustram os posts contra a esquerda, transexuais, etc. Com retórica antissistêmica, assim como o fascismo fez, na verdade estão intimamente atrelados ao grande e médio capital da cidade – com o objetivo principal de abrir a economia para garantir os lucros dos proprietários. O resultado, se vingar? Mais mortes, em especial dos trabalhadores sem EPI’s usuários do transporte público e incapazes de um leito emergencial em caso de colapso total.

Foto dos empresários favoráveis ao impeachment na quarta-feira em frente à câmara municipal.

Chama atenção a cegueira do PSOL ao apoiar o impeachment dessa forma, criticando apenas os políticos que até ontem compunham a base de Marchezan e que hoje votam a favor. É preciso olhar a movimentação das classes, não apenas a retórica da câmara. Por um lado esses políticos demagógicos de direita buscam desgastar Marchezan visando novembro, quando chegam as eleições. Por outro lado, veem que talvez com Paim algumas negociações saiam benéficas para os empresários. Disso tudo, os trabalhadores não ganham nada. Ao invés de defender uma abertura medieval da economia, expondo a maioria da população, deveríamos cobrar os sonegadores e taxar os milionários da cidade para garantir renda básica aos desempregados e trabalhadores, bem como mais contratações na área da saúde, com maquinário adequado, EPI’s e proteção. As linhas de ônibus devem voltar para impedir a superlotação, com readmissão dos rodoviários demitidos e a estatatização de toda a rede privada, sob controle dos trabalhadores. Essas e outras medidas vão no sentido dos ricos pagarem por essa crise que eles mesmos criaram, e não a maioria trabalhadora, como propõem esses empresários, Bolsonaro e o próprio Marchezan.

Marchezan deve ser derrubado, mas pela força da classe trabalhadora organizada, junto da população negra da cidade, das mulheres e LGBT’s que estão sendo ainda mais prejudicados em meio a pandemia. Como dissemos, a lista de maldades de Marchezan mereceria uma derrubada violenta, com trabalhadores auto-organizados em defesa dos seus direitos. Mas é impossível separar as ações de seus agentes, e o impeachment não foi feito porque Marchezan cortou linhas de ônibus, permitiu demissões, parcelou salários, quer privatizar o DMAE, atacou o carnaval e a juventude, arrasou com os vendedores de frutas e imigrantes como sugere a companheira Karen Santos, do Alicerce, em vídeo declarando seu voto favorável… O impeachment tem o objetivo de abrir ainda mais o comércio, sem proteção, visando os lucros dos empresários. E já vem ganhando frutos: não passaram nem 24 horas da aprovação do impeachment e o prefeito já anunciou abertura de shoppings, centros comerciais, salões de beleza, comércio de rua e prometeu reunião com empresários para planejar reabertura gradual. A votação deu frutos para os ricos, mas são os pobres que vão pagar a conta…




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