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ELEIÇÕES EUA | EUA | Primárias de Iowa: O prólogo para uma eleição fraudada?

As desastrosas eleições primárias de Iowa apontaram a possibilidade do establishment do Partido Democrata organizar uma eleição fraudada.

quinta-feira 6 de fevereiro de 2020 | Edição do dia

Usuários de redes sociais e especialistas políticos profissionais compartilharam de indignação na noite de segunda-feira sobre a falta de resultados das primárias de Iowa. Passaram meses (e meses e meses!) de antecipação e agitação para as primárias de Iowa. Aconteceram numerosos debates, as pessoas passaram fins de semana inumeráveis fazendo campanha para seus candidatos favoritos, incontáveis profundos artigos foram escritos, e finalmente, as primárias de Iowa estavam em nossa frente e a temporada de primárias havia começado. Sanders está subindo nas pesquisas, com Elizabeth Warren chegando a picos alguns meses cedo demais e caindo rapidamente.

Pete Buttigieg, outro preferido do establishment (com uma alta quantidade de doadores corporativos) que tentou se vender como intelectual pragmático que inicialmente parecia estar se segurando com tudo em um quarto lugar parece ter tido uma boa noite em Iowa. À frente há algum tempo, Joe Biden, também não pareceu ter sido capaz de segurar a onda Sanders, e a mídia e o Partido Democrata começaram a perceber. Clinton afirmou que “ninguém gostava de Sander” e artigos sobre sua inelegibilidade começaram a aparecer na mídia mainstream. E esse era o contexto das primárias de Iowa, que pretendia armar o palco para os próximos meses de eleições primárias.

Eleitores saíram do trabalho cedo, pegaram folgas, e entraram em filas para votar no Iowa, vista para muitos como a primária mais importante de todas. E depois de votar, era a hora de esperar pelos resultados.

Horas passaram sem os resultados serem anunciados, com a exceção de estimativas informar reportadas por eleitores de Iowa dos arredores no Twitter. Enquanto os resultados iniciais mostrando uma forte demonstração de Sanders começaram a se tornar públicos, o Partido Democrata de Iowa (IDP, na sigla em inglês) parou de reportar resultados por “controle de qualidade”. Relatórios começaram a ser publicados de que, aparentemente, o novo aplicativo para transmitir os relatórios da região começaram a falhar.

Seja incompetência ou má conduta, o tremendo manuseio incorreto da (falta de) transmissão de resultados representa uma crise para o IDP e o Partido Democrata nacionalmente. Na verdade, até a mídia mainstream começou a criticar o IDP e nisso as chamadas para que estes percam seu status de “primeiros da nação” parece ganhando adesões. Esta crise vai colocaram uma sombra em cima de quaisquer resultados que sejam reportados de Iowa (independentemente de quando isso aconteça) e vai restringir severamente a habilidade de qualquer candidato que ganhe de usar essa vitória como impulso para as votações restantes. No entanto, é possível que não apenas os resultados de Iowa, mas os resultados de toda a eleição sejam manchados com a controvérsia em torno de como os resultados foram transmitidos.

O IDP atuou terrivelmente mal frente à resposta à suspensão de transmissão de resultados. Eles desligaram na cara de um presidente de distrito ao vivo na televisão, deixaram recintos em espera por horas e fizeram uma série de declarações vagas que pouco explicaram o porquê de segurar os resultados e o que estariam fazendo para resolver a situação. As primárias de Iowa foram um evento eleitoral dos mais aguardados e foi um desastre absoluto em frente a uma enorme audiência televisiva, e as pessoas estão responsabilizando o Partido Democrata. Em uma eleição que está sendo definida por um candidato do establishment do partido (Joe Biden) batalhando com um candidato quase que difamado pelo establishment partidário (Bernie Sanders), ter o partido falhando na realização de uma eleição neste nível só vai servir para reacender antigas tensões entre apoiadores de Sanders e o Partido Democrata.

As reações dos eleitores de Sanders, de levantar a sombrancelha ao caos em Iowa até a crença entre alguns de que de alguma forma o DNC (Comitê Nacional Democrata, NdT) está tentando fraudar as eleições, não são infundadas. Existem provas documentadas de que em 2016, o DNC colocou seu peso na campanha de Hillary Clinton contra Bernie Sanders. Também existiu o caso de Donna Brazile dando perguntas do debate para Clinton, existiram emails do DNC expostos pelo Wikileaks no qual oficiais supostamente “imparciais” discutiram como apoiar a campanha de Clinton e derrotar Sanders. E tudo isso não inclui nem mesmo o aparalhamento eleitoral na forma de superdelegados, o que dá ao establishment um peso desproporcional nas eleições.

Isso acontece em um contexto no qual existe um questionamento de massas sobre as instituições do regime: onde o Presidente sofre um impeachment e o próprio Presidente questiona a autoridade do FMI. Os democratas eram aparentemente o partido que tentava sustentar a legitimidade das instituições do Estado, mas talvez isso possa mandar os Democratas para um questionamento similar das assim chamadas instituições democráticas.

O Partido Democrata está tentando retomar a Casa Branca, e para fazer isso, eles precisarão manter um forte controle de sua base votante, tanto a ala progressista, quando a ala do establishment. Isso está se tornando um círculo cada vez mais difícil de fechar, enquanto as divisões entre o campo de Biden e de Sanders parecem apenas crescer, como pode ser visto na última polêmica em torno de Rashida Tlaib vaiando Hillary Clinton em um evento de Sanders e a subida dos ataques midiáticos a Sanders. Dado que os apoiadores de Sanders ainda estão ressentidos com como o Partido Democrata colaborou na campanha de Clinton para atuar nas eleições de 2016, as questões sobre Iowa e a forma que os resultados foram transmitidos poderia ser mais uma barreira entre as duas frações.

Esse escândalo pode se tornar um grande problema para os democratas que tentarão montar uma campanha contra Donald Trump com base na defesa das instituições e da democracia. Republicanos como Donald Trump Jr e Ann Coulter já começaram a denunciar o Partido Democrata por como lidaram com esta eleição. Mas a questão não é que um partido é mais corrupto que o outro, mas que ambos são partidos burgueses corruptos em seu design. Porque estes não estão para garantir a real vontade política dos eleitores, mas sim para a manutenção do statuos quo e a proteção do capital.

As eleições já estão fraudadas no lado dos ricos e poderosos; Mike Bloomberg (Candidato democrata virtualmente sem popularidade, NdT) essecialmente pagou seu caminho para a relevância. Lhes dão peso desproporcional para alguns dos estados mais brancos do país: Iowa e New Hampshire. E também ao establishment político pelo meio dos superdelegados. Isso não é um processo democrático desde o começo.

Quem sabe o que acontecerá hoje? Quem sabe quais serão os resultados? Independente disso, o fato de que tantos apoiadores de Sanders estão prontos para aceitar a manipulação contra Sanders demonstra uma importante verdade sobre o Partido Democrata: é um partido do lado do capital com um establishment político poderoso que não se pode “democraticamente” tomar de assalto por dentro. Não existe nenhum candidato, nenhum movimento, nenhuma pequena mudança estrutural que pode desfazer o fato elementar de que o Partido Democrata vai sempre fazer o que faz: proteger o establishment e apoiar o capital. Até mesmo se Sanders terminar ganhando as primárias, esta eleição é um símbolo da corrupção é que inerente ao Partido Democrata (ou Republicano).

Está claro que não há chance de mudanças políticas reais por meio dessa "democracia" para os ricos. O que está em jogo, então, é construir uma alternativa política independente do partido capital, que realmente represente a classe trabalhadora e os oprimidos.




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