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UNIVERSIDADES | Por um movimento estudantil que retome a ocupação dos espaços com cultura e política contra Bolsonaro

Enquanto Bolsonaro quer impor à juventude desemprego, precarização e repressão, é necessário ao movimento estudantil retomar a ocupação dos espaços nas universidades contra o fortalecimento ideológico da extrema direita e o produtivismo das reitorias. As atividades culturais, como festas, saraus e apresentações artísticas, historicamente promoveram integração e debate político. A serviço de retomá-los, a Faísca, na USP e na UNICAMP, promoverá, junto a estudantes independentes, atividades de vivência nos campi nesta semana.

quarta-feira 24 de abril de 2019 | Edição do dia

O governo Bolsonaro, apoiado no golpismo institucional e autoritarismo judiciário, oferece miséria, desemprego e censura à juventude. Apoia-se em uma bancada fundamentalista que busca fortalecer o conservadorismo e o obscurantismo contra a Ciência, as ideias marxistas e subversivas e a liberdade sexual e artística. Não à toa, diz querer uma “garotada” que não se interesse por política, que os centros acadêmicos são “ninhos de ratos” e que devem ser “aparados”. Bolsonaro e o Judiciário golpista, que censurou faixas nas universidades durante as eleições, temem o potencial de uma geração que desperta à vida política na crise capitalista, com jovens, mulheres, negros e LGBTs à frente, e que podem ser aliados poderosos da classe trabalhadora. Com Moro, Bolsonaro quer aprofundar a repressão à juventude negra a partir de seu pacote “anti-crime”.

Como resposta, nossas entidades devem servir como ferramentas de auto-organização, enfrentando os ataques à educação e lutando por uma universidade a serviço da classe trabalhadora e da população, para derrotar a Reforma da Previdência para que sejam os capitalistas a pagarem pela crise e impor justiça à Marielle. Para isso, mais do que nunca, o movimento estudantil que busca construir uma oposição à extrema direita precisa retomar seus espaços, com atividades sociais, culturais e políticas, para preencher a universidade de subversão e liberdade, ligando-se à maioria da juventude barrada pelo filtro social do vestibular e assim também fortalecendo a luta contra os ataques.

Para isso, retomar as festas, que vieram sofrendo medidas de repressão e encontraram em entidades burocratizadas um desligamento em relação aos espaços dos estudantes e trabalhadores, é parte fundamental do desafio de fortalecer as entidades pela base, também servindo como fonte de financiamento independente do movimento estudantil. A maioria dos Centros Acadêmicos, DCEs e mesmo a UNE seguem nas mãos dos aparatos das burocracias estudantis, como UJS (juventude do PCdoB, que apoiou Rodrigo Maia na Câmara) e PT (cujos governadores apoiam Reformas da Previdência em seus estados). Assim, parte fundamental de construir um movimento estudantil anti-burocrático passa por se apoiar no fortalecimento dos espaços estudantis ligados à base dos estudantes de maneira auto-organizada.

Na Unicamp, no ano passado, o Ministério Público Federal reabriu uma liminar que ameaça multar a universidade quando festas ocorrerem. A reitoria, que sempre proibiu as festas na universidade e segue punindo os estudantes que lutaram pelas cotas na greve de 2016, apoia-se nessa decisão do Judiciário para cercar espaços como o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e avançar na repressão ao movimento estudantil, ao mesmo tempo em que se diz “democrática” e “inclusiva”. As festas são parte de uma tradição do movimento estudantil que historicamente serviu como ligação com a juventude que é de Campinas.

Há duas semanas, a guarda patrimonial agrediu uma mulher trans e negra no campus. O debate de segurança está novamente em pauta entre os estudantes da Unicamp, sendo o “Campus Tranquilo”, nada mais do que um programa da reitoria para impedir a vivência e organização estudantil no campus e aprofundar o produtivismo da universidade-empresa.

Também na USP, a reitoria vem atacando sistematicamente a organização dos estudantes, fechando espaços estudantis, processando estudantes que organizam festas, colocando câmeras nas faculdades, além de manter a PM dentro do campus, que, muito longe de garantir a segurança, está lá para reprimir manifestações dos estudantes e dos trabalhadores e impedir a entrada dos moradores (principalmente os negros) da São Remo e da região ao redor. Neste ano, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), a polícia federal entrou nas salas de aulas do curso de Letras, fortemente armados, ameaçando estudantes e professores em uma operação dirigida por Sérgio Moro.

Contra todo o reacionarismo e conservadorismo dos governos Bolsonaro e Dória e o produtivismo das reitorias, nós, da Juventude Faísca, estamos organizando atividades culturais na USP e na Unicamp para ocupar o campus com cultura e política. Uma universidade viva, com atividades culturais e artísticas, debates e festas é também uma forma garantir segurança na Universidade, combatendo as saídas reacionárias como a polícia no campus. Os casos de opressão e estupros, muitas vezes encobertos pelas reitorias, intensificam-se na medida em que a universidade se esvazia, quando não há iluminação e nem podas adequadas das árvores, e que os setores oprimidos e no movimento estudantil não se auto-organizam.

Enquanto oposição ao atual Centro Acadêmico da Letras da USP, que não promove espaços de integração no campus e também é parte da atual gestão do DCE com o PT, faremos uma festa nesta sexta-feira, para mostrar que a universidade precisa estar aberta a toda a população. Na Unicamp, como parte da gestão minoritária do CACH “Por Moas e Marielles”, junto a estudantes independentes, realizaremos uma feijoada com samba para ocupar a cantina com cultura e política nesta quinta-feira.

Achamos que essas iniciativas devem ser tomadas pelo conjunto das entidades do movimento estudantil, para enfrentar o projeto de universidade das reitorias que está a serviço das empresas e fechado à população. Assim como fortalecer uma juventude que, com suas ideias, coloca medo em Bolsonaro e no Judiciário. Os DCEs que o PSOL dirige, como na Unicamp, e seus Centros Acadêmicos também deveriam levar adiante esse enfrentamento, sem nenhuma confiança na reitoria e na burocracia acadêmica. É essa concepção de entidade que defendemos e queremos discutir com cada estudante, com a perspectiva de uma juventude marxista, revolucionária e anti-burocrática, que quer disputar suas ideias, programa e estratégia rumo ao 57º CONUNE.

Ver: As perspectivas para uma juventude marxista e revolucionária rumo ao 57º Congresso da UNE




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