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ESPECIAL DIA DO ESTUDANTE | Por que ser um estudante de luta?

Nesse dia 11 de agosto comemoramos o dia dos estudantes a partir de uma ótica das lutas. Diante de diversos ataques do governo golpista de Temer à juventude e à classe trabalhadora, da repressão aos movimentos sociais, estudantes declaram o por quê de ser um estudante de luta.

quinta-feira 11 de agosto de 2016 | Edição do dia

Essa semana, na Unicamp, começamos nossas aulas de “reposição” do semestre. Minha primeira aula se resumiu a uma conversa a respeito dos caminhos que nosso próximo semestre tomaria, além de uma revisão da participação estudantil na greve – que teve seu fim nessa terça-feira, dia 09/08, para os alunos do Instituto de Artes.

A primeira coisa que meu professor disse foi: “Me espanta ver que a vanguarda dessa greve tenha sido estudantil”.

Não me espanta em nada, no entanto, o espanto do docente diante da mobilização estudantil ter alcançado tamanha proporção. Esse susto vem da inconformidade diante do questionamento. A greve estudantil, que durou pouco mais de três meses, escancarou as muralhas de mármore com as quais se vestem as estruturas meritocráticas da universidade. Escancarou a irredutibilidade daquelas que tentam estabelecer uma espécie de sistema patronal dentro de vias públicas. Escancarou o medo daqueles que temem ser tratados da mesma forma que tratam o resto do
mundo.

Esse medo nasce quando um estudante nega ser uma caixa vazia e obediente. Nos esperam vazios para que sejamos assim preenchidos, embalados e prontos para despejar o mesmo conteúdo em qualquer outra vasilha aberta. Esses docentes querem ver uma universidade cheia de caixas, para se pouparem da desesperada fuga diante da palavra “Educador”.

Meu professor se espanta de ver não-caixas, com um brado forte, no meio do grandioso sistema educacional presencial-a-distância da Unicamp.

Aleph, estudante de Artes Cênicas na Unicamp

Ser uma estudante negra e pobre é uma situação delicada. Não é só conseguir estudar o conteúdo, mas se manter em pé. As pedras no caminho vão sendo colocadas diariamente. E a gente ouve que só depende da gente, o sucesso é individual. Você não conseguiu ascender? Bom, precisava se esforçar mais. Bem feito.

Também pouco sabia sobre ser negra, e aprendi que a história dos negros acaba com Princesa Isabel, agora somos todos iguais. Iguais? Mas por que não tenho quase nenhum colega da minha cor na minha classe? Um dia eu vi uma greve pelos salários das terceirizadas da limpeza, tempos depois descobri que a história dos negros é de resistência. Hoje não consigo ver minha vida sem lutar contra o capitalismo, porque as reformas não vão dar conta de reparar o crime contra os meus. E num momento de crise, como o de hoje, todas elas são arrancadas. Não existe capitalismo sem racismo e como Trotsky dizia se o capitalismo é incapaz de satisfazer as reivindicações que surgem infalivelmente dos males que ele mesmo engendrou, então que morra!

Giovanna Milhã, estudante de Letras da USP

As olimpiadas acontece mas o povo se entristece com tanta ilusão
É investimento em esporte mas não em educação
Repressão, indignação, revolta da nação
Tem fogo pra tocha mas não tem fogo Pro fogão
O gás acabou
A paciência esgotou
O Rio faliu
Mas Os impostos novamente subiu

Assistimos ao Pão e Circo ao vivo e a cores
a hipocrisia Nos causa dores
E o espirito esportivo foi atingido
Pela bala perdida do tiroteio na favela
Mais um tiroteio entre becos e vielas
Já não a mais espirito nos corpos
Mas isso não é mostrado nas telas
A violência é ignorada nos jornais e substituída pelos esportes e novelas

Nas escolas os alunos produzem redações sobre o assunto
E o estado continua mudo diante de escolas sucateadas, falta de livros e professores
O prejuízo tem novo significado é chamado de legado
O legado do relatório da divida publica federal

Que importa a gloria dos atletas
Se não podemos ter diante dos olhos outra vista
Além do governo golpista

Constituição mal constituída
já não amada
Já não idolatrada
Salvem o povo pois já não os resta nada

Tuany, estudante secundarista de Campinas

⁠⁠⁠Porque ser um estudante anticapitalista? Não vejo na realidade como não ser, em um mundo que nao te dá absolutamente acesso a nada e te impõe a cada dia uma maior precarização das suas funções, não existe para mim uma outra saída do que ser um estudante de luta! É necessário nesse mundo de miséria capitalista que além da precarização do trabalho nos impõe uma precarização de vida, quando não nos da acesso a transporte para aproveitar a cidade, não da acesso a cultura pois os eventos quase não ocorrem, não nos deixa amar livremente quem nós quisermos, seja homem, mulher ou o que a pessoa desejar, mas nem isso podemos escolher nesse mundo. Por isso acho importante ser um estudante anticapitalista que desde agora se coloca em luta para ir de encontro a esse sistema que SÓ nos reprime e não nos permite nem que estudemos o que queremos em prol da gente.

Por isso serei até o fim uma estudante anticapitalista pronta para qualquer tipo de batalha para que consigamos o mundo que queremos!!

Alicia Noronha, estudante de Ciências Sociais da Unicamp

Passar pela imensa barreira do vestibular foi um dos maiores desafios que ja vivi, e, ao entrar na universidade esperando um espaço perfeito, descobri na verdade um "microcosmo" que incluia os mesmos erros administrativos e até de convivência de fora dela: corrupção, burocracia, desigualdades, preconceitos.

No entanto, ingressei em um ano de crise econômica em que a administração da Universidade declarou, arbitrariamente, um grande corte de verbas, e ante a esse estopim, seria contraditório esperar a passividade dos estudantes que logo se mobilizaram, mostrando o quanto a "crise" era heterogênea: existia pra uns e não para outros. Para reajustar o salário dos trabalhadores, por exemplo, não havia verba, no entanto para manter salários acima do teto para a reitoria, havia.

O movimento estudantil se mobilizou fortemente depois do anúncio de corte de 40 milhões: ocupou um prédio público, fez greve em quase todos os institutos com piquetes diários e mostrou que o seu limite não era a legalidade (e nem deveria ser, ja que esta quase nunca está do lado dos que lutam contra estruturas de poder).

Essa luta, que durou alguns meses na Unicamp, saiu vencedora em muitos aspectos
de acesso e permanência (sendo assim, o ciclo de luta não acabará tão cedo), mas sobretudo, mostrou todo um velho mundo a se destruir e um novo a se contruir: nesse "mundo", todos, sem exceção, poderão ser universitários e todos os universitários terão voz e vez.

Ananda, estudante de Engenharia Civil da Unicamp

Ser estudante é, viver em meio a cobranças, incertezas e sonhos.
As cobranças vão além do que nossos familiares esperam de nós, ela vem de dentro. Alias que estudante não se encontra todos os dias cobrando mais de si, em meio a loucura que é, fazer o que se ama, fazer algo que faça a diferença onde se vive ou porque não no país e no mundo. Sim, no mundo! Por que não sonhar em fazer a diferença, em mudar o mundo? Nossa geração é movimentada por sonhos, e é por eles que levantamos todas as manhãs. Mesmo com tudo que venha a nos barrar, são professores que só fazem "numero" , greve, ônibus lotado e não ter um real no bolso. Eu poderia listar uma lista, mas pra que? Isso não nos trava, temos um objetivo e vamos lutar a cada nascer do sol, e vamos adormecer todas a noites com a certeza de que um dia realizaremos o que almejamos.

Ser estudante é ser sonhador, de olhos abertos, pés no chão e se movimentando a todo instante.

Bárbara Petronílio, estudante de Veterinária da FAJ

"...Coração de estudante
E há que se cuidar da vida
E há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes: plantas e sentimento
Folhas, coração, juventude e fé..." (Milton Nascimento)

Não tem como não se lembrar dessa música, que animou a geração dos anos de 1980, pós ditadura militar assim como também não tem como não se emocionar com as últimas cenas protagonizadas pelos estudantes, que pra quem imaginava adormecido, o movimento estudantil desponta defendendo as escolas públicas tão maltratadas pelo abandono de um dos estados mais ricos do país, São Paulo. Os meninos e meninas que foram pras ruas com as carteiras, enfrentando o braço armado do estado, denunciando quem lhes roubava a merenda.Como esquecer da menina que disputava com o policial a sua carteira escolar? Aqui na Unicamp, presenciamos o levante dos estudantes como não se via há anos. Ocupação da reitoria, a única forma se se fazer ouvir, ocupar, assim como os artistas o fizeram, ocuparam outros espaços em defesa da democracia. Em 20 anos de trabalho na Unicamp, pela primeira vez presenciei uma luta estudantil que comove, que apaixona por que sai das reivindicações domésticas, como impressoras, bebedouros etc... Olharam para o entorno, viram a desigualdade, o racismo, olharam para a cidade, para o país, para o mundo. Reivindicaram cotas étnico-raciais, moradia, e permanência. Enfrentaram a estrutura de poder dentro da universidade, a direita, que agora organizada, sai da toca, urrando de ódio e com desejo de punição e castigo exemplar. A ocupação da reitoria foi sim exemplo de organização e responsabilidade com o bem público, a ocupação da reitoria foi exemplo de resistência, noites de frio e plenárias intermináveis. Quanto aprendizado, que nenhuma aula poderia substituir. Vivemos tempos de retrocesso, um inverno frio e escuro, e acho que os estudantes pela energia e vigor da juventude poderá nos dar alguma esperança de prosseguir nessa luta. 1968 lutou por vagas e essa luta continua, é preciso vagas para todos, 1968 lutou por liberdade e essa luta tem que continuar e hoje se faz mais complexa, uma vez que não temos tanques nas ruas, mas temos outras prisões nos corações e mentes. Lutar contra o golpe, golpe não somente institucional, mas o verdadeiro golpe que é o que esta sendo dado nos trabalhadores, espero ser o papel dos estudantes.

Maria, trabalhadora do IFCH - Unicamp

Ser uma estudante anticapitalista é lutar por uma educação de qualidade que nos liberte e nos construa. Por uma educação livre de um pensamento de mercado, pela autonomia de educadores e educandos, por um conhecimento que esteja a favor da juventude e da classe trabalhadora, para que estudar não seja um privilégio. Ser estudante anticapitalista é resistir todos os dias a ser engolido pelo sistema capitalista, a sucumbir à um sistema educacional que nos adoece (sobreviver a academia é doloroso, né? Não deveria!) Ser estudante anticapitalista é estar do lado de quem faz e trabalha na educação. Ser estudante anticapitalista é ser de luta!

Aline Souza, estudante de Pedagogia da USP




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