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Violência contra as mulheres | Por que levar a luta contra a violência às mulheres aos locais de trabalho?

Marília LacerdaDiretora de Base do Sindicato dos Trabalhadores da USP-HU

quarta-feira 28 de julho de 2021 | Edição do dia

No último dia 18, o Brasil foi surpreendido por cenas absurdas de violência doméstica por parte do cantor Dj Ivis, que vinha há algum tempo repetindo essas agressões contra sua ex-esposa Pamela que recentemente havia tido um bebê. A violência que Pamela sofreu é vivida cotidianamente por milhares de mulheres, como vemos no trabalho nossas colegas chegarem com marcas de violência pelo corpo. 

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A violência contra as mulheres é individualizada como se a responsável fosse a própria vítima, que se sente envergonhada. Mas a sociedade que, naturalizando que serviços de limpeza, cuidado e cozinha são "tarefas de mulher", se apoia nessa concepção patriarcal para rebaixar os salários e as condições de trabalho dessas funções é responsável por toda a violência sofrida pelas mulheres. Como o escandaloso caso do patrão de Francieli que jogou ácido em seu rosto.

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A sociedade é responsável por fazer com que, desde meninas, as mulheres se contentem com pouco porque tem medo de não serem amadas, medo de envelhecer, medo de ficar sozinhas. Sozinhas para cuidar dos filhos de algum homem que se sente à vontade para abdicar da responsabilidade da criação. A sociedade é ainda responsável por não garantir creches de qualidade para o desenvolvimento da criança, uma condição fundamental para que as mulheres possam trabalhar e ser independentes economicamente, para não se submeterem a nenhuma relação que as diminua, que seja violenta física ou psicologicamente. A sociedade é responsável por essa violência quando só apresenta para as mulheres trabalhos precários, mesmo em funções fundamentais como a limpeza do hospital em que trabalho.

“É preciso enfrentar as agressões machistas de DJ Ivis com a nossa luta e organização", diz Maíra Machado

Por isso, entendo que a violência contra uma mulher é uma violência contra todas nós. Assim como se super exploram as mulheres terceirizadas dentro do hospital, é uma problema de todas as trabalhadoras efetivas do HU da USP. Aqui vemos muito claramente a divisão entre efetivas e terceirizadas, mas os patrões também nos divide criando competição para eleger a funcionária do mês, como fez recentemente a administradora do contrato da Higienix no HU. Muito distante de um reconhecimento pelo trabalho, o objetivo é naturalizar que cada trabalhadora terceirizadas tenha que higienizar 3, 4 ou até 5 setores por dia, sozinhas. Após a superintendência ter reduzido drasticamente o número de funcionárias. 

Isso mostra que mulheres como essa que administra o contrato estão junto com os patrões para nos oprimir e explorar. Nossa unidade deve ser entre nós que trabalhamos lado a lado, não podemos cair em competição entre nós mesmas, temos que estar unidas, nos apoiando para enfrentar a opressão e exploração capitalista. 

Devemos estar atentas para cada sinal de agressão sofrida pela colega ao lado, pela amiga, a mãe, entre tantas e tantas que muitas vezes ainda não se deram conta que estão sofrendo violência e que por medo, receio, falta de consciência ou proteção acabam caladas.

O caso da Pamela, mais uma vez, traz à tona a situação de milhares de mulheres que estão nessa situação e que ninguém fica sabendo. Não importa quantas vezes tenha se repetido a violência, a culpa não é da mulher e é preciso dizer NÃO a este e qualquer tipo de violência.

Sabemos que não é uma luta de um ou outro, mas precisamos estar unidas e organizadas para impor que o Estado garanta casas abrigos com uma equipe multiprofissional, com médicos, psicólogos e toda rede de apoio necessária para a mulher retomar sua vida em segurança. E que seja obrigatória a concessão de licença remunerada e garantia de emprego até que se resolva a situação.

No meu local de trabalho construo a Secretaria de Mulheres do Sintusp e sou parte do grupo de mulheres Pão e Rosas com um feminismo socialista para por fim a toda opressão e exploração.

Basta de violência! Basta de feminicídio!
Que todas as mulheres possam viver livres de toda opressão e exploração!! Por um mundo sem a miséria do capitalismo!

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