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EDITORIAL DE EDITORIAIS | Política de aluguel: sobre o que dizem os jornais após a reforma ministerial

domingo 4 de outubro de 2015 | 15:16

Depois de semanas e meses com editoriais falando sobre o “impeachment ou não impeachment” do governo, mudaram um pouco a música: a sensação nos jornais era de transmitir uma pequena vitória do governo com a última reforma ministerial. Como o governo está no fundo do poço, o se poderia chamar “vitória” no caso é uma ultramodesta recomposição, embora no curto prazo importante, num momento em que as contas no TCU serão julgadas e o fantasma do impeachment voltava a rondar.

A síntese das opiniões editoriais do final de semana pode ser resumida em uma frase: a era da comodato (expressão utilizada no O Globo de sábado e Estadão deste domingo, que significa empréstimo de algo não descartável que pode voltar). É como se a imprensa atestasse como efetivas para Dilma as manobras do governo na reforma ministerial, que aumentou decisivamente o peso do PMDB no governo, mas - com a imprensa - se vendo obrigada a contar o segredo do sucesso: política de aluguel, comodato, venda de perspectivas, programas, estratégias...governabilidade ao sabor da venda de qualquer ideia.

Aliás, venda de todas as ideias a serviço de apenas uma que unifica todos os partidos do regime: a aplicação feroz do ajuste fiscal.

O mesmo O Globo e o Estadão frisam da mesma forma o que está por trás, do ponto de vista do PT, do aumento dos pactos: Lula. Diz O Globo “Dilma reconheceu que não pode prescindir do criador, Lula, e este admitiu que de alguma forma seu futuro continua ligado ao do governo Dilma”.

É mais que evidente que com a saída de Mercadante que vai para o ministério da educação, substituído por Jaques Wagner, além de Berzoini agora mais próximo da articulação política (secretaria do governo), a força de Lula aumenta no governo. Juntando isso, o fortalecimento do PT nos acordos com o líder da câmara Leonardo Picciani e com o principal opositor, Eduardo Cunha, na mira da Lava-Jato, é o que dá o tom de um pacto que dê um fôlego ao governo.

A Folha de São Paulo, concordando com a vitória tática da coalização dilmista, opta menos pela análise crítica, mas para alertar sobre os perigos vindouros: no editorial de domingo insiste nas pedaladas fiscais, comenta o decreto do Dilma que diz que regulariza as coisas daqui em diante, mas ainda alerta para o julgamento do TCU e as possíveis atitudes de Cunha. Como se fosse um sinal de: o governo venceu uma batalha, mas na guerra continua bastante debilitado.

A verdade é que essa vitória tática só aprofunda uma contradição maior. Dilma visa estabilidade aumentando o peso do PMDB tendo em vista os quatro polos (Temer, Calheiros, Picciani, Cunha). No entanto, nada indica que essa “estabilidade” durará mais que o próxima indicador de que a economia vai mal, que sempre que aumenta a preocupa do capital financeiro nacional e internacional. A estabilidade se baseia na entrega completa de qualquer concepção política do PT em prol de aplicar um dos mais poderosos ataques concentrado à classe trabalhadora, retirando direitos trabalhista, fazendo-os sofrer com inflação, custo de vida, desemprego etc.

À maneira burguesa, os editorias dos principais jornais expressam o mesmo, para defender seus interesses politiqueiros contra ou a favor do governo, demonstram a podridão da política atual. Duas palavras mais sintetizam essa situação para os jornais: o editorial do Estadão se intitula “Ministério do contubérnio”, que significa algo como ministério do concubinato, dos acordos, da junção entre diferentes no mesmo teto. A outra palavra chave dos editorias foi o “fisiologismo” na política, que por analogia a biologia, trata da interação indiscriminada e de trocas de favores entre os partidos.

Como disse o Estadão na síntese dessa análise: “o país todo já sabe que a reforma ministerial resultou do formidável contubérnio entre Lula e a fina flor do fisiologismo, com o objetivo de enfrentar a tempestade política e judicial que se avizinha”.

Comodato, contubérnio, fisiologismo...difíceis palavras para os editoriais reclamarem da tentativa de recomposição de Dilma Rousseff, que nada mais é do que a forma geral da política burguesa.




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