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NEGOCIAÇÕES PARA FORMAR GOVERNO | Podemos consultará suas bases, mas consulta tem armadilha

Podemos perguntará a seus militantes, entre os dias 14 e 16 de abril, se concordam em facilitar um Governo entre o PSOE e o Conselho cidadão. Mas a consulta deixa aberta a possibilidade de uma abstenção.

Diego LotitoMadri | @diegolotito

terça-feira 12 de abril de 2016 | Edição do dia

A equipe negociadora do Podemos compareceu esta sexta à imprensa depois da primeira reunião tripartite com o PSOE e Cidadãos, ocorrida na quinta.

“Decidimos ser muito claros e honestos com os cidadãos espanhóis, que não merecem que joguem com eles. Ontem nos perguntaram se estamos dispostos a apoiar um governo de Rivera presidido por Pedro Sánchez”, disse Iglesias antes de anunciar a decisão de romper as negociações e convocar uma consulta a suas bases. “O PSOE deixou muito claro que não quer um governo proporcional e o Cidadãos se mostrou contrário a qualquer forma de governo que inclua a presença do Podemos”, acrescentou.

Pablo Iglesias, declarou-se “muito decepcionado” diante do encontro e se lamentou porque disseram “não” para seu partido em tudo. "Caso alguém rompeu alguma coisa são aqueles que responderam tudo com "não”, disse ele.

Entre o dia 14 e 16 de abril a militância poderá responder a duas perguntas:

“Querem um governo baseado no pacto Rivera-Sánchez?” e “Estão de acordo com a proposta do governo de mudança que define Podemos, em Comú Podem e em Marea”? Os resultados se farão conhecer dois dias depois, segunda (18).

O líder da formação segue apostando em um governo de coalizão com o PSOE, IU e o apoio de outras forças soberanas – sem a presença de Cidadãos -, e assim votará na consulta, adiantou.

Por isso, Iglesias vinculará o resultado do referendum à continuidade de sua direção: se a militância decide que o Podemos apoia um governo formado por socialistas e liberais, Iglesias assumirá “responsabilidades políticas”.

"Sem dúvida, eu assumirei a minha responsabilidade" se ganhar a opção PSOE-Cidadãos, disse em sua aparição na mídia.

Em sua proposta de 20 pontos apresentada esta quinta para facilitar a negociação, o Podemos havia dado um novo salto na cessão de demandas sociais e democráticas básicas. “Vamos apresentar-lhes uns documentos de concessões que fazemos porque em política há que ceder, além disso que fizemos já hoje vamos propor fazer mais algumas, disse Iglesias antes da reunião de ontem. No entanto, apesar de no novo lote de “concessões” nas quais entraram temas tão candentes como o salário mínimo, aposentadoria aos 67 ou a lei eleitoral, entre outros, a negociação acabou encalhando.

A resposta do PSOE ao Podemos não tardou. O porta-voz socialista, Antonio Hernando, também deu por rompidas as negociações com Pablo Iglesias e responsabiliza o Podemos de “fechar a porta para a mudança”, situando a formação no mesmo campo de interesse do PP, que deseja que haja novas eleições.

“A equipe de imprensa de Pablo Iglesias nos deixou trabalhando sobre seu documento, acrescentou Hernando. Importa muito a eles nossa opinião", concluiu.

Uma consulta na qual as bases do Podemos não decidem

Ainda que tudo indique que as negociações se romperam quase definitivamente, as perguntas da consulta do Podemos a suas bases – que recordamos, se fará como em outros casos por internet entre todos os “inscritos” da formação, um método muito questionado por sua falta de credibilidade - , tem uma armadilha e deixa aberta a porta a uma terceira opção: a abstenção.

Com efeito, pelo conteúdo das perguntas, o resultado da consulta que fará Podemos não definirá o sentido do voto do grupo parlamentar, posto que não estabelece se o grupo deve votar sim, não ou abster-se. Essa decisão o próprio grupo parlamentar adotará.

Antes do Conselho cidadão estatal que se celebrou no passado sábado, Iglesias anunciou que “se devemos tomar uma decisão importante, estará nas mãos dos inscritos”. No entanto, as perguntas e o método de consulta deixam a decisão final nas mãos do grupo no Congresso e não na “militância”.

Pablo Iglesias assegurou que, se as bases assim o quiserem, se absteriam na votação, o que seria uma das posições possíveis a tomar num provável resultado negativo da consulta sobre apoiar um governo socialista-liberal.

Quanto às organizações que são parte do mesmo grupo parlamentar com Podemos, fontes de Em Comú e de Em Marea sinalizaram que não assumiriam o resultado da consulta e que serão suas próprias direções as que debateriam e resolveriam o destino de seu voto em uma hipotética sessão de consulta. “Vamos considerar isso, mas tomaremos nossa decisão”, sinalizou um deputado de Em Comú ao Esquerda Diario.

A pressão que se coloca sobre o Podemos frente a convocatória de novas eleições, que levariam a reabrir a discussão de listas e confluências em meio as crescentes tensões internas de seu partido e com previsões demoscópicas que se apresentam piores que os resultados do 20D, é um fator de peso a hora de definir uma possível abstenção no debate da consulta. Nesse caso, a possibilidade de que haja um governo socialista-liberal ou que se vá a novas eleições, está ainda por definir-se.
Nesse meio tempo, um projeto de um “governo a valenciana” do Podemos parece haver naufragado definitivamente. Um projeto que, concessão sob concessão ao PSOE (e até aos liberais de Cidadãos), se demonstrou com uma farsa que não tem nada para oferecer à maioria dos trabalhadores, à juventude e aos setores populares que colocaram sua confiança no Podemos.

Como disse Santiago Lupe ao editoral do Esquerda Diario de sexta, “ antes que essa fraude chegue a se consumar ou não, é urgente começar a construir uma alternativa política que se proponha retomar a luta por todas as demandas sociais e democráticas que o Podemos está convertendo em cartas para trocar em um pacto entre elites. No fim de semana passado ocorreu o II Encontro da iniciativa No Hay Tiempo que perder, um passo humilde mas auspicioso nesse sentido. A esquerda que se reivindica anticapitalista, junto aos setores de trabalhadores e jovens que começam a fazer uma experiência com o novo reformismo, deve por em pé uma alternativa que se proponha enfrentar a operação de restauração do regime de 78 em curso.

As ilusões na via de Podemos podem desvancecer-se tão rápido ou mais que as que gerpu Syriza na Grecia. Frente a essa situação ganha peso a importância de propor aos milhões que consideram que é possível resolver os grandes problemas por uma via democrática impulsionar a luta para abrir processos constituintes livres e soberanos em todo o Estado e nacionalidades. Processos em que se pode discutir e abordar toda a agenda democrática e social que se está desenvolvendo”.

Avançar nesse caminho é um desafio em que não podemos contar nem com as novas variantes refomistas nem com qualquer outro projeto de autorreforma do Regime. Haverá que ser imposto com a força da mobilização dos trabalhadores, das mulheres e da juventude.

Tradução: Milena Baghetti




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