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REPRESSÃO | Perícia inicial não encontrou marca de tiros no Helicóptero caído na Cidade de Deus

segunda-feira 21 de novembro de 2016 | Edição do dia

Foto: EFE
A perícia da polícia civil apontou que os corpos dos quatro policiais mortos na queda do helicóptero nos arredores da Cidade de Deus no sábado (19) não tinham sinais de perfuração de armas de fogo. Já a perícia inicial da aeronave, levada adiante pela Aeronáutica, até o momento não encontrou sinais de perfuração no helicóptero.

O Secretário de Segurança do Estado, Roberto Sá, declarou ontem que "O laudo de necropsia dos quatro policiais que estavam no helicóptero já saiu, a perícia foi muito rápida e muito eficiente, não há perfuração por arma de fogo nos corpos. A perícia está sendo feita pela Delegacia de Homicídio e pela Aeronáutica. Na aeronave, até o momento, não se encontrou nenhum tipo de perfuração, mas é muito cedo ainda para qualquer conclusão. A perícia vai levar mais tempo, para ser uma perícia conclusiva. Então, não se descarta nada até o presente momento".

Leia mais: Corpos de 7 jovens executados são encontrados na Cidade de Deus

Na entrevista de ontem, Roberto Sá declarou solidariedade “à família de todos” sem fazer qualquer menção às 7 vítimas da retaliação organizada pela polícia na Cidade de Deus. 7 jovens mortos, encontrados com sinais de tortura e espancamento em uma área de mata próxima à favela. Sem mesmo a comprovação ainda de que o helicóptero tenha sido abatido pelo tráfico, o Secretário da Segurança responsabilizou as mortes ao sistema penal que, segundo ele, solta quem deveria ficar preso.

O discurso do secretário de segurança desvia do problema de fundo, que é a guerra às drogas, a criminalização da pobreza e o racismo com o imenso aparato repressivo policial que até o momento faz operações na Cidade de Deus, mesmo após a escandalosa notícia dos 7 jovens mortos.

Pelos 4 policiais militares, o golpista Temer se pronunciou em solidariedade, e Pezão decretou luto oficial de três dias. Já pelos 7 jovens, nem uma palavra sequer. Era de se esperar destes políticos defensores de um estado penal que encarcera e mata todos os dias os pobres e os negros.

O fato de a polícia não ter nem mesmo esperado a perícia comprovar o abatimento do helicóptero é flagrante da repressão racista cotidiana no Rio de Janeiro, que condena os negros e favelados sem necessidade de nenhum julgamento, o que é natural para uma polícia acostumada à forjar autos de resistência, desaparecer com corpos e assassinar jovens.

O primeiro passo para acabar com esta guerra civil é no sentido oposto ao enrijecimento do sistema penal, mas a legalização de todas as drogas, tirando o negócio lucrativo do tráfico que financia suas armas que são em sua maioria contrabandeadas da própria polícia.

E para fazer justiça e por fim às mortes, não só de “todas as famílias” dos policiais como disse Roberto Sá, mas de todas as famílias dos sete jovens da Cidade de Deus, dos Amarildos, Cláudias, DGs, dos 111 tiros em Costa Barros, dos familiares dos 3.250 autos de resistência realizados de 2010 até 2015, é preciso acabar com a impunidade policial, punindo o gatilho fácil com o fim dos tribunais especiais e julgamento dos policiais por júris populares e organizações de trabalhadores e moradores, investigação de todos autos de resistência por comissões de trabalhadores e moradores das favelas, dissolução das UPPs, das tropas especiais, BOPE, CORE, CHOQUE e de todas as polícias.

“Manifestante” Policial tenta tirar proveito da chacina

Um áudio circulou pelo Whatsapp, de um suposto policial circulando uma versão própria da história.

Segundo ele, que não de praxe faz menção nenhuma sequer aos 7 jovens encontrados mortos, presume ainda sem provas que o helicóptero foi abatido pelo tráfico e ainda afirma que os policiais foram executados após a queda.

Em sua versão, a culpa é do governo do Estado por não investir no enorme aparato policial existente no Rio de Janeiro, que segundo ele, seria responsável por “defender o estado”. O suposto policial defende a desmilitarização da polícia e melhores condições materiais para seguir na guerra às drogas, ou seja, melhores condições para fazer o que a PM está fazendo hoje na Cidade de Deus.

Esta é mais uma prova que os trabalhadores que hoje se mobilizam contra o pacote de ataques de Pezão e da Alerj não tem nada em comum com as reivindicações de melhorias exigidas pelos policiais. Como desenvolveu Simone neste texto: “A polícia não pode ser considerada parte da classe trabalhadora. O fato de serem assalariados, e pagos pelo Estado, mesmo empregador do conjunto do funcionalismo público não os igualam aos trabalhadores da Saúde e da Educação, por exemplo. Isso porque a função da polícia é proteger a propriedade privada, os capitalistas e sua ordem, através do uso da violência contra os trabalhadores, a juventude, e o povo, sobretudo os pobres e negros. Sua função social, portanto, é a manutenção violenta da ordem elaborada em prol dos ricos, contra os trabalhadores e os pobres. Não ensinam, como os professores, não salvam vidas, como os trabalhadores da Saúde. O “produto” do seu trabalho, sobretudo em grandes cidades como o Rio de Janeiro é bem explícito: crianças, mulheres, trabalhadores e jovens negros e pobres humilhados cotidianamente e assassinados. Isso os coloca em oposição aos trabalhadores, pois seu papel é contrarrevolucionário por definição.”

Leia mais: A polícia é aliada dos trabalhadores no combate aos ataques do Pezão?




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