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PAZUELLO | Pazuello e seus negócios obscuros na Amazônia blindados pela CPI

O ex-ministro da saúde, general Pazuello, centro das atenções nas últimas semanas com o seu depoimento na CPI da COVID, depois posando ao lado de Bolsonaro no ato em apoio ao seu governo, tem sido poupado pelos obscuros negócios familiares na região amazônica.

Ítalo GimenesMestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

quarta-feira 26 de maio de 2021 | Edição do dia

A Amazônia tem sido palco de uma violenta cena de garimpeiros contra os povos yanomamis. Palco da fome e falta de assistência à saúde, e agora de assassinatos, tiroteios, bombas de gás lançadas de balsas. Cenas de um fortalecimento de bandas paraestatais, ligadas aos interesses das mineradoras, madeireiras e da agropecuária, interessadas na expansão do extrativismo e da fronteira agrícola, com cumplicidade do governo Bolsonaro.

Veja também: A invasão das terras Yanomami, a devastação ambiental e a geopolítica dos EUA

O Exército nunca escondeu seus interesses na região. O vice-presidente Mourão, chefe da Comissão da Amazônia, até poucos meses liderava tropas na região para um suposto “controle ambiental”. Mas é evidente que esses militares lucram obscenamente com a destruição das florestas e tem relações orgânicas com as madeireiras e os latifundiários do Norte e Centro-Oeste do país, além de outros negócios obscuros.
Dentre eles, o general Pazuello, teve seus podres negócios familiares revelados pelo portal De Olho Nos Ruralistas, com base em arquivos de jornais dos anos 90.

Ainda durante o governo Bolsonaro, quando secretário-executivo da Saúde, se tornou sócio da J. A. Leite e Navegação, uma empresa de logística dos rios da região. A empresa pertencia ao seu pai Nissim Pazuello, que morreu em 2018. A companhia foi criada no século XIX durante o ciclo da borracha e era uma das mais fortes de atuação no setor desde de 1968, quando adquirida por seu pai, tendo sido beneficiada pelas políticas de Roberto Campos, o primeiro ministro do Planejamento da Ditadura.

Além disso, é irmão e sócio de um empresário acusado nos anos 90 de encabeçar grupos de extermínio na região de Manaus. Grupos herdeiros da ditadura, que contavam com apoio ou conveniência de autoridades estaduais, e que passaram a compor as atuais milícias. Alberto Pazuello foi acusado de participar de “A Firma”, grupo que contava com a participação de policiais civis e militares, e que em 1996 virou notícia no Estadão: “Sexo, drogas e videoteipe. Assim vivia o empresário Alberto Pazzuelo, 42 anos, em sua residência, numa área nobre de Manaus, com adolescentes mantidas em cárcere privado. Elas eram atraídas com anúncios em jornal oferecendo R$ 350 para copeiras e domésticas”.

Alberto Pazuello foi preso sob a acusação de porte de drogas e de armas, estupro, atentado violento ao pudor e cárcere privado. Esta era a segunda que o irmão de Eduardo Pazuello era preso.

Junto dele, tomam conta da empresa herdada do pai além de duas outras fundadas por eles, a Petropurus Representações e Comércio de Petróleo (uma rede de postos de combustível) e a N Pazuello E Cia Manaus. Além deles, outros irmãos e parentes têm participação nos negócios.

Em novembro de 1971, Nissim e os filhos — entre eles Eduardo e Alberto Pazuello — apareciam como sócios da S.B. Sabbá – Crédito, Financiamento e Investimento S/A., controlada por Samuel Benayon Sabbá. Em uma ata, a família aparece representada na empresa por Artur Soares Amorim, chefe de gabinete do ministro do Planejamento, Roberto Campos, durante o governo Castello Branco. Era o início da ditadura no Brasil — o regime apoiado pelos clãs Pazuello e Sabbá — e as famílias multiplicavam seus tentáculos empresariais.

Esses escândalos que revelam a profunda relação entre os militares e a burguesia mais entreguista, que transforma a Amazônia e o país em uma suja prisão para os povos indígenas, trabalhadores e o povo pobre da região. As pretensões do imperialista Joe Biden aparecer como preocupado com a floresta, não passa de demagogia para fazer valer seus interesses na Amazônia, disputando mercado com o agronegócio brasileiro.

E nada disso a CPI da COVID tem o interesse em apontar. A participação de Pazuello no ato de Bolsonaro ridicularizou essa comissão, que nunca teve como propósito salvar vidas, mas preservar os atores políticos, entre eles, o Exército, que são responsáveis pela sustentação de Bolsonaro. O alvoroço da mídia em torno da pretensa punição ao general da ativa, que quebrou hierarquia ao sair em palanque eleitoral, é funcional a essa operação de salvar os militares de responsabilidade sobre o governo Bolsonaro, alegando que há um setor “racional” nas forças armadas, a mesma ladainha pregada desde a ditadura.

Portanto, nenhuma resposta aos crimes capitalistas da pandemia podem vir de uma CPI. Pois são os mesmos capitalistas com os quais Pazuello e outros militares sempre mantiveram relações macabras como a que descrevemos. E eles não sentam nos bancos da CPI pois todos, não só o agronegócio, todos são responsáveis, junto com cada governador que também priorizou seus lucros em detrimento da vida da população. Nenhum madeireiro, sojeiro, pecuarista, responsáveis pelo agravamento da violência contra os yanomamis será alvo dessa investigação.

A única via de punir os crimes capitalistas da pandemia, contra os povos indígenas e as condições de vida do conjunto da população, só virá da unificação da força desses setores pelo Fora Bolsonaro, Mourão, os militares, e todo esse regime político do golpe institucional. Nessa semana em que está sendo chamado uma mobilização no 29 de Maio contra Bolsonaro e seus cortes na educação, é necessário que seja um primeiro dia para organizar essa força para barrar as privatizações, reformas e todo o avanço do agronegócio e do imperialismo, apoiados pelos militares, contra a Amazônia e os povos indígenas. Por isso viemos exigindo das Centrais Sindicais e da UNE que rompam a divisão dessas lutas e convoquem em cada local de trabalho e estudo assembleias organizar essa batalha.

E para fazer frente ao fortalecimento do papel dos militares em tutelar o regime, nossa luta não pode ter como o objetivo pressionar a CPI para favorecer o impeachment, que joga nas mãos do Centrão e do STF o destino de Bolsonaro, que seria no máximo dar lugar a Mourão na presidência, fortalecendo ainda mais os militares. Por isso defendemos uma nova Constituinte Livre e Soberana que varra todas as heranças das ditaduras e os poderes especiais dos militares, assim como os seus gordos privilégios, aumentados no regime do golpe. Para fazer justiça às mortes em Manaus, das quais certamente Pazuello é responsável, é necessário impor pela luta o juri popular com juízes eleitos e revogáveis, recebendo o salário de uma professora, abolindo os tribunais militares.

Editorial: Novos ares de mobilização e a adaptação à agenda da CPI: confiar nas forças da nossa classe e da juventude




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