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ELEIÇÕES EUA | Para os latinos a saída contra Trump é votar nos democratas?

Segundo dados do Pew Center, ao redor de 27,3 milhões de latinos terão direito a voto em 2016, uma cifra superior aos 19.5 milhões de 2008.

sexta-feira 1º de abril de 2016 | Edição do dia

A bravata xenofóbica do milionário, na qual jura que construirá um muro que o México pagará não cessa. Ninguém esquece as ofensivas declarações ao lançar sua pré-candidatura pelo partido republicano, quando afirmou que os mexicanos eram “estupradores”, “traficantes de drogas” e “criminosos”.

O certo é que a grotesca verborragia do magnata da indústria imobiliária e hoteleira impulsionou uma grande parte da comunidade latina a registrar-se para participar da eleição do novo presidente da maior potência mundial no próximo novembro.

Ben Monterroso, diretor executivo da organização defensora de migrantes Mi Familia Vota, declarou a Univision Noticias que “de 18 de janeiro a 25 de março registramos 11.750 cidadãos para votar. E vimos mais jovens, mais gente se voluntariando para nos ajudar nessa campanha”.

São o que têm residência os que reúnem os requisitos exigidos pelas instituições eleitorais estadunidenses.

Dos residentes permanentes que podem naturalizar-se estadunidenses, 3,4 milhões residem na Califórnia e a maioria são mexicanos. Outros 1,7 milhões moram em Nova York, 1,3 milhões vivem no Texas, e também 1,3 milhões de moradores legais permanentes na Flórida.

De acordo com o Conselho Nacional da Raça (NCLR, por sua sigla em inglês), a organização hispânica mais importante nos Estados Unidos, diz que neste país há cerca de 28 milhões de cidadãos de origem latina e que cerca de 12 milhões não se registraram para votar neste ano.

É possível frear os ataques aos imigrantes com o voto?

Os republicanos Donald Trump e Ted Cruz propõem deportar os 11 milhões de migrantes sem documentos junto com um pacote de medidas anti-imigrantes que inclui aprofundar a política de encarceramento e deportação desenvolvida pelas duas administrações de Barack Obama, democrata.

Rocío Sáenz, vice-presidenta do Sindicato Internacional de Empregados e Serviços (SEIU, por sua sigla em inglês), declarou à Univision noticias “Está nas nossas mãos decidir quem será o sucessor de Obama e o futuro da reforma migratória.”
Ah, sim? Barack Obama havia prometido à comunidade latina uma reforma da imigração que nunca chegou. Seus defensores alegam que “é que os republicanos o impediram, porque dominam nas câmaras”.

Em 2014 Obama impulsionou as ações executivas migratórias, DACA e DAPA – que deixariam em suspenso 5 milhões de deportações –, freadas por 26 governadores republicanos e que estão sendo revisadas pela Corte Suprema de Justiça estadunidense.

E em paralelo a isto, ao longo de suas duas administrações se transformou no “deportador chefe”, com mais de dois milhões de pessoas deportadas – mais deportações que as que realizou Bush –, o que traz como consequência a separação de famílias e a perda do trabalho. E isto se somou à abertura dos centros de detenção para imigrantes, operados por empresas privadas em muitos casos, como explicamos aqui.

Agora Hillary Clinton e Bernie Sanders também têm uma série de promessas para os imigrantes, que incluem dar alívio migratório aos 11 milhões de pessoas que não têm residência legal no vizinho do norte.

Dá pra acreditar neles? Vejamos. Em 2003, quando concorria como senadora pelo partido democrata a senhora Clinton afirmou estar contra os imigrantes. Em uma entrevista radiofônica na estação WABC: “Está claro que temos que tomar algumas decisões difíceis como país, e uma delas deve ser dar com um sistema melhor de entradas e de saídas, porque vamos deixar que a gente entre para fazer o trabalho que de outro modo não seria feito, teríamos que ter um sistema que siga os passos destas pessoas”. Leia-se: vigilância sobre imigrantes.

E Bernie Sanders? Dizem os que apoiam Hillary Clinton que em 2007 votou contra uma reforma migratória, mas os vistos de trabalho contemplados na mesma incluíam piores condições que as do Programa Bracero. Lhe acusam de também não ter participado das manifestações pelos direitos dos imigrantes.

Mas pra além disto, o certo é que frente à política de criminalização e perseguição dos imigrantes levada a cabo por Obama, só fizeram fracas declarações sem maiores consequências. Os latinos que residem nos Estados Unidos seguem temendo as deportações, e as duras condições de vida que enfrentam são aproveitadas pelos empresários que os contratam por salários muito baixos e precárias condições de trabalho.

Nem Hillary Clinton nem Bernie Sanders põem em questão o status quo no qual os imigrantes sem documentos, mantidos na ilegalidade por Obama, constituem a mão de obra mais precarizada dos Estados Unidos. Nem questionam o caráter antidemocrático do sistema eleitoral estadunidense, que não só impõe inumeráveis restrições à participação das organizações de trabalhadores e de esquerda nas eleições, senão que até diluem a expressão do voto popular por meio do voto indireto. E assim, pelo sistema dos superdelegados, pode terminar candidato quem não tenha obtido a maioria dos votos, assim como pode ser eleito presidente alguém que não tenha obtido a maior quantidade de votos, como explicamos aqui.

Nem o partido democrata nem o partido republicano têm nada a oferecer aos imigrantes. A conquista de plenos direitos sociais, políticos e sindicais para os imigrantes nos Estados Unidos não virá destes partidos. Só se poderá conseguir conjugando a força dos imigrantes com a dos trabalhadores que lutam pelo aumento do salário mínimo para 15 dólares/hora, a comunidade afro-americana que enfrenta a violência policial. Criando laços com a classe trabalhadora e a juventude anglosaxãs que também sofrem os abusos das grandes empresas. Este é o desafio.

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