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GOVERNO BOLSONARO | Para enfrentar Bolsonaro será preciso superar a estratégia parlamentar e de conciliação de classes do PT

Bolsonaro venceu as eleições. Seu programa escravista será colocado contra a têmpora dos trabalhadores para que os grandes financistas estrangeiros, os empresários e latifundiários superexplorem as riquezas nacionais e a população pobre.

terça-feira 30 de outubro de 2018 | Edição do dia

As eleições foram completamente manipuladas pelo Poder Judiciário, sob tutela das Forças Armadas, para favorecer os interesses capitalistas mais reacionários do país e do capital estrangeiro. Foram a continuidade do golpe institucional, com a prisão arbitrária de Lula e o absurdo veto à sua candidatura. Ministros das cortes superiores do Judiciário e o próprio comandante do Exército interferiram inúmeras vezes para que os resultados estivessem em sintonia com a aplicação dos ajustes mais brutais contra os trabalhadores.

Mas a parada está longe de ser definida. Não há um cheque em branco para que Bolsonaro aplique sem luta de classes o seu programa escravista.

Agora é o momento de tirar as lições de como foi possível tamanho fortalecimento da extrema direita e traçar novas coordenadas para a luta nos tempos mais duros que se anunciam.

Fica claro que a estratégia do PT, de conciliação de classes e meramente eleitoral, foi absolutamente impotente para enfrentar o golpe institucional e a extrema direita que se beneficiou do golpismo.

A vitória eleitoral da extrema direita, de um personagem sinistro como Bolsonaro, que é adorador explícito de um torturador como Brilhante Ustra, pode ser explicada olhando para a história recente, especialmente desde 2013.

Junho de 2013 foi um sinal de que as aspirações econômicas, democráticas e sociais que o discurso petista de melhoras graduais nas condições de vida alimentava já não podiam mais ser contidas no marco deste projeto. Naquele momento se vivia a ilusão de que a crise econômica tinha sido apenas uma marolinha. O sentido geral de junho, junto com o rechaço à casta política era o de lutas por direitos mais substantivos e estruturais.

Lutava-se pelo direito ao transporte, à saúde e à educação, pelos direitos das mulheres, dos LGBT e contra o racismo, todas as questões que o pacto petista de governabilidade deixava de lado para promover junto com seus aliados de direita um ciclo baseado na expansão do trabalho precário, dos programas sociais e do crédito farto.

Na esteira de junho vieram de um lado os rolezinhos, quando a juventude negra decidiu ocupar os espaços da classe média branca, e de outro as greves salariais ofensivas e anti-burocráticas como a dos garis do RJ e dos rodoviários de Porto Alegre que se chocaram com a estrutura dos sindicatos burocratizados.

Mas a crise não era uma marolinha e já em meados de 2014 e mais intensamente em 2015 ela retornava como tsunami: o PIB nacional caiu 7% entre 2015-2016. As aspirações que haviam ganhado as ruas de forma explosiva em 2013 e 2014 agora se chocavam com a crise econômica, as demissões e a necessidade que a burguesia tinha de impor ataques contra as condições de vida.

O reflexo petista frente às manifestações de junho decorria da lógica de sua estratégia gradualista, mas não deixa de ser por isso um erro fatal. Como não estava disposto a se enfrentar com sua base de apoio nos partidos fisiológicos do centrão que lhe garantiam a governabilidade, identificou o movimento explosivo da juventude por mais direitos, como um movimento que faz o jogo da direita.

Enquanto o PT se chocou com as aspirações da juventude em nome de suas alianças com a direita, essa direita tirava outras conclusões e buscou direcionar esse movimento difuso de insatisfação contra o PT e a corrupção, esvaziando as aspirações por mais direitos.

A partir do segundo governo Dilma a contradição entre as aspirações de junho e os ajustes que a burguesia pedia explodiu. Dilma traiu suas promessas de campanha e iniciou um ajuste anti-operário para atender a burguesia. Mas, se foi o suficiente para despertar mais uma vez a insatisfação em amplos setores, não o foi para satisfazer a burguesia. Março de 2015 foi um marco de viragem no sentido contrário de junho. A direita encheu as ruas contra a corrupção petista.

A partir daí a estratégia petista foi mostrando sua completa impotência para enfrentar a direita que se tornou ativa nas ruas. O PT foi entregando cada uma das posições na esperança de acalmar os mercados e manter sua base parlamentar. Nas vésperas do golpe, em fevereiro de 2016, votou a lei de entrega do pré-sal com José Serra para satisfazer a embaixada norte americana. Cortou o orçamento da saúde e da educação. O movimento derradeiro do PT foi tentar um acordo com Cunha, para evitar o impeachment.

Consumado o golpe o PT se colocou como oposição parlamentar ao governo Temer. A cada um dos ataques atuou não para derrubar Temer, mas para desgastá-lo. Assim foi com a onda de ocupações estudantis e a luta contra a PEC do teto dos gastos. Essa história se repetiu com a luta contra a reforma da previdência e trabalhista em 2017.

Depois da greve geral de 28 de abril, e frente à maior crise do governo Temer, acuado pela mobilização de massas e pelas denúncias de Rodrigo Janot, o PT atuou para arrefecer o movimento. As centrais sindicais dirigidas pelo PT de Fernando Haddad (CUT) e pelo PCdoB de Manuela D’Ávila (CTB) contiveram o movimento de massas nas fábricas, empresas e universidades, fragmentaram as lutas em curso e garantiram governabilidade ao golpe institucional. As burocracias sindicais petistas desmoralizaram profundamente amplos setores de trabalhadores que queriam se enfrentar com as medidas de Temer. Essa traição foi responsável pela aprovação da reforma trabalhista e da terceirização irrestrita.

Qualquer resistência séria estava descartada; o PT já apostava suas fichas na eleição de 2018 contra um governo Temer impopular.

Dessa forma, quando o golpe institucional se aprofundou prendendo Lula e o deixando inelegível, o PT foi incapaz de oferecer qualquer resistência séria. Mais uma vez apostou na via judicial, esperando que o mesmo judiciário golpista pudesse impedir o aprofundamento do golpe. Lula e o PT se ajoelharam diante do judiciário golpista que manipulou cada centímetro das eleições a serviço do golpe.

Desmoralizando sua própria base e contendo as mobilizações que poderiam fugir do seu controle, apostando nos acordos parlamentares e tentando apaziguar a luta de classes, o PT foi incapaz de impedir o crescimento da extrema direita. Agora já anuncia sua posição de ser a principal oposição parlamentar ao governo Bolsonaro, mantendo sua estratégia eleitoral. Repetindo o mesmo caminho que permitiu o fortalecimento da extrema direita, o PT preparava novas e maiores tragédias para o futuro.

Haddad em seu pronunciamento após o resultado das eleições tinha um verdadeiro arsenal de denúncias para fazer e atuar para transformar a militância que se expressou nos últimos dias em uma verdadeira potência de combate à Bolsonaro e ao golpismo. Mas ele preferiu outro caminho: seu discurso seguiu a tentativa de mostrar o político responsável com a democracia capitalista e suas instituições.
Em primeiro lugar agradeceu a seus antepassados e todos os 45 milhões de brasileiros que participaram da “festa da democracia”, que segundo Haddad tomou o país na última semana. O problema é que a festa não será para que os trabalhadores possam dançar e sim para preparar o sapateado dos grandes empresários e capitalistas sobre os nossos direitos e liberdades democráticas.

Não podemos confiar nosso futuro a uma futura oposição parlamentar petista que já deixou claro que tem em seu DNA a governabilidade burguesa, e foi incapaz de frear Bolsonaro. Precisamos desde já organizar uma força militante com independência de classe, à esquerda do PT, para realmente fazer com que os capitalistas paguem pela crise.

É preciso enfrentar os ataques de Bolsonaro não com os métodos eleitorais e parlamentares de alianças com os partidos e personagens do regime burguês. São os métodos históricos de luta da classe trabalhadora, as greves, as mobilizações de rua, os comitês de auto defesa, que podem derrotar os ataques de Bolsonaro e do judiciário golpista apoiado pelo exército.

É preciso mobilizar para a luta todos os setores que serão atingidos pelo reacionarismo de Bolsonaro. Os sindicatos e as organizações da juventude, do movimento estudantil e dos movimentos sociais precisam desde já começar a se organizar, traçar um plano de luta sério, esperando que os ataques possam começar antes mesmo de 2019. A CUT e a CTB, assim como a UNE, deveriam organizar milhares de comitês de base para organizar a luta em todos o país e convocar assembleia nos locais de trabalho e estudo para organizar as próximas manifestações e medidas de luta mais contundentes.

A mais ampla unidade na luta de classes vai ser necessária, mas isso não significa em nenhum momento abrir mão das críticas ao PT, pelo contrário. A política do PT tem que ser duramente criticada, porque ela é responsável pela situação em que estamos e prepara novas derrotas. Ela tem que ser criticada por que é uma necessidade urgente a superação pela esquerda do PT, para avançar na construção de uma alternativa política revolucionária que esteja à altura dos acontecimentos que estão por vir.




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