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POLÊMICA | PSTU comemora o golpe no Senado e segue sendo a quinta roda da direita

Com o golpe consolidado no Senado articulado pelo que existe de mais reacionário e conservador no regime, o PSTU comemora e reafirma a política que fez o partido ser conhecido como a "quinta roda" da direita durante todo o processo do impeachment.

Douglas SilvaProfessor de Sociologia

quinta-feira 1º de setembro de 2016 | Edição do dia

Foto: Esquerda Diário, acampados da FIESP em abril gostaram do cartaz de agitação do PSTU

Desde a abertura do impeachment contra a presidente Dilma viemos debatendo a necessidade de lutar, de maneira totalmente independente do PT, contra este golpe que ataca toda a juventude e a classe trabalhadora. Polemizamos diversas vezes com a política direitista do PSTU, que fazia coro com Bolsonaro, Feliciano e Aécio Neves e, não à toa, era aplaudida pela direita (como a FIESP e os carecas do ABC), enquanto se negava a batalhar por uma política independente de classe no movimento operário (chegando a considerar as marchas reacionárias de 13 de março como “contraditórias”, ou seja: que tinham um lado positivo).

Em meio ao espetáculo de horrores que foi a votação na Câmara dos deputados, com direito a saudação de Bolsonaro ao torturador Brilhante Ustra e toda manifestação reacionária de deputados que votavam por Deus, pelos filhos e pela “moral e bons costumes”, o PSTU dizia desde lá, que “não teve golpe”. Hoje, após a consolidação do impeachment no Senado, a política do partido continua sendo a de negar a existência de um golpe; depois de quatro meses desde o impeachment da Câmara, não encontraram nada melhor a fazer do que seguir enfatizando o “Fora Dilma”. De acordo com o texto de Eduardo Almeida em seu próprio perfil no facebook, “os novos apoiadores do reformismo não conseguem explicar é que a classe operária está aplaudindo o impeachment.” Usando o mesmo método “científico” de Zé Maria, que causou vergonha alheia ao aplaudir o panelaço dos bairros de classe média alta em SP e outras capitais, agora Eduardo Almeida argumenta como se Aécio, Caiado, Aloysio e Cia. pudessem ser "veículos" da vontade operária e popular... O ceticismo com a classe trabalhadora vai ao fundo do poço na medida em que a única forma que enxerga de diferenciar-se do PT é fazer coro com o MBL, a FIESP e demais golpistas, acrescentando depois um “fora todos” para tentar limpar a própria consciência.

Assim, Eduardo Almeida diz que o que motivou um Congresso corrupto e reacionário tirar Dilma foi a ruptura de classes com o PT, e que a classe operária está aplaudindo o impeachment. O desespero de quem se encontra num beco sem saída permite as mais amargas alucinações. Funcional ao golpe na Câmara e no Senado, o PSTU nega o papel da esquerda de ajudar a avançar a consciência da classe trabalhadora para a construção de uma alternativa política independente, à esquerda do PT, que possa derrotar a direita e um impeachment que foi levado até o fim pelos senhores de engenho, ruralistas, escravocratas, Cunhas e Bolsonaros. Sem aprender nada com a história recente, Almeida não consegue enxergar qual o real sujeito político que derrubou Dilma e todo seu caráter reacionário, que mais uma vez se manifestou no Senado.

Dizer que o “impeachment trocou seis por meia dúzia”, como faz agora Zé Maria em sua página oficial no facebook, exemplifica que a única coisa que o PSTU consegue enxergar da realidade é que “o PT é um partido conciliador”. Esta constatação inédita e profunda (sic) é incapaz de esconder que o PSTU defendeu uma política que fortaleceu a direita e confundiu os trabalhadores. Permitir que o Congresso de corruptos sequestre um dos únicos elementos de soberania popular que existem nesse sistema, que é o voto, num processo que foi uma farsa do início ao fim, é estimular a apatia política entre os trabalhadores. Essa política, que escolhe o caminho que parece mais fácil, ao se adaptar à "opinião pública" moldada pelos grandes meios de comunicação (a começar de Rede Globo, Estadão e Folha), na verdade apenas rebaixa a consciência política dos trabalhadores, e os deixa mais vulneráveis à manipulação pela classe dominante. A crítica frontal às políticas de ajuste do PT, à sua conciliação nefasta com a direita burguesa, o combate a essas políticas precisa se dar com os dois pés bem fincados na luta contra o golpismo, mostrando que foi o PT que abriu caminho para o fortalecimento dessa direita, que agora buscará aplicar ataques ainda mais duros do que os que Dilma vinha aplicando, a começar pela aposentadoria e as leis trabalhistas.

Ao se recusar a dar essa luta, e na ilusão de estar "surfando" na onda da opinião pública, o PSTU apenas se isolou ainda mais, desorientou parte da vanguarda e dificultou que pudesse se erguer que uma força real pela esquerda contra o PT. Não contribuiu a organizar uma luta independente, a partir dos locais de trabalho e estudo, e se opôs à vontade de resistir ao golpe de amplos setores da juventude e dos trabalhadores. Uma política para não influir na realidade, salvo se o objetivo for conseguir aplauso de MBL e consortes, ou então criar para si mesmo a ilusão de estar "dirigindo" setores de trabalhadores atrasados, que ainda não saíram da esfera de influência do pensamento conservador dominante.

Que vergonha para um partido que se diz de esquerda, e que insiste em repetir os mesmos erros, o que seguramente lhe custará novas rupturas e o aprofundamento de sua decadência política.




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