Flávia ToledoSão Paulo
sábado 26 de setembro de 2015 | 00:46
Nessa semana aconteceram as eleições de delegados para o XII Congresso de Estudantes da USP, que é a instância máxima do movimento estudantil. No curso de Letras, um dos mais precarizados da universidade e que vai sofrer bastante com o recente corte de 20% no orçamento, nove chapas apresentaram seus programas para que os estudantes decidissem que ideias representariam o curso no congresso.
A chapa Por Isso Me Grito, composta por militantes da Juventude ÀS RUAS! e estudantes independentes, teve uma expressiva vitória com 117 votos, cerca de 36%, levando 8 delegados para o congresso. Em segundo lugar, a chapa Compor e Ouvir, de setores governistas como o Levante Popular da Juventude e a Juventude do PT, com 73 votos (22%). A chapa Ousadia e Alegria, de setores do PSOL, teve 45 votos (13,8%), e a Pra Além dos Muros, do PSTU, 40 votos (12%). As demais chapas tiveram entre 2 e 20 votos.
A vitória da Por Isso Me Grito é expressiva por alguns motivos. Em primeiro lugar, porque os estudantes da Letras mostraram que já não acreditam mais nas promessas vazias do governismo. Ao todo, foram 244 votos, mais de 75%, nas 7 chapas que abertamente são contra o governismo e levantam a necessidade de se criar um novo campo político de atuação independente dos trabalhadores e da juventude, sem se atrelar ao governo federal e muito menos à direita reacionária.
O fato de quase metade dos estudantes que entendem a necessidade dessa terceira via terem votado na Por Isso Me Grito, entre 7 chapas, mostra a urgência de se repensar a atuação no movimento estudantil. Desde o começo do ano, estamos colocando a necessidade de as entidades estudantis participem organicamente da vida dos estudantes e estejam ligadas aos trabalhadores em luta na universidade, trazendo debates profundos sobre a situação nacional, internacional e da universidade para o cotidiano dos estudantes que estão cada vez mais politizados. É fundamental que os problemas enfrentados na universidade sejam pensados como resultados de um projeto de educação que está a serviço do lucro das grandes empresas, e não da população. Já não basta olhar para as consequências e apresentar falsas soluções imediatas para elas; é preciso pensar as causas de cada uma das questões da universidade e atacá-las.
Essa é a principal linha de intervenção da Juventude ÀS RUAS! no XII Congresso de Estudantes da USP: é fundamental lutarmos por Universidade aberta, viva, a serviço dos trabalhadores e que produza conhecimento de acordo com as necessidades da população. Para isso, o movimento estudantil tem de mudar radicalmente os seus métodos para se fortalecer e poder atacar essa estrutura de poder absolutamente autoritária e burocrática, que entrega a universidade pública para os interesses privados das grandes empresas, que é gerida por uma casta de corruptos que se negam a abrir os livros de contas da universidade para mostrar de onde vem a tal crise orçamentária, colocando a culpa dela nos salários dos funcionários e deixando de responder a respeito dos próprios supersalários. É preciso que o discurso de aliança entre estudantes e trabalhadores saia do papel e se mostre na prática, como os membros da Por Isso Me Grito mostraram ser possível ao estarem, mesmo durante a semana de eleições, construindo uma campanha de apoio à greve dos trabalhadores dos Correios e formando um bloco no ato que aconteceu em São Paulo.
Nessas eleições, ficou claro que os estudantes da Letras querem ir por mais. Querem um movimento estudantil em aliança com os trabalhadores, que discuta a fundo as questões que mais nos tocam, que esteja presente no seu cotidiano e que emerja como um sujeito político real, dentro e fora da universidade, dialogando com os anseios de toda a juventude que, frente à importante crise econômica, política e social, politiza-se cada vez mais.
Nós, da Por Isso Me Grito, agradecemos a cada estudante que participou desse processo, principalmente aos 117 votos que recebemos, e convidamos a cada estudante para participar do XII Congresso de Estudantes da USP, que acontecerá nos dias 1 a 4 de outubro.
