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MÉXICO | Os trabalhadores bancários entre a precariedade e a exploração

Trabalhar em um banco, com terno e gravata, sentado o dia todo em frente a um monitor deixou de ser um trabalho de relativa estabilidade e com ganho médio acima de outros empregos, para ser cada vez mais precarizado com ritmos e jornadas exaustivas.

sexta-feira 22 de julho de 2016 | Edição do dia

Um caixa começa sua jornada bem cedo, atendendo clientes o mais rápido possível uma vez que a produtividade é medida por operação/autenticação e muitas vezes o salário depende da quantidade de atendimentos realizados. Em dias de pico, ou de muito movimento de pessoas, a meia hora habitual de pausa para refeição se reduz ainda mais ou simplesmente se extingue até o horário de fechamento do banco. As jornadas duram em média de 10 a 12 horas, e para os tesoureiros pode ser ainda maior.

Em dias de maior fluxo são freqüentes discussões e conflitos entre clientes e funcionários, pois a patronal prefere contratar menos pessoas para reduzir gastos com salários do que assegurar um atendimento eficiente e de qualidade aos clientes e usuários. Ou pior, os bancários são instruídos, muitas vezes pressionados, a atender com prioridade em detrimento dos demais clientes, àqueles que possuem contas e investimentos maiores e isso indigna (com razão) aos clientes e usuários que frequentemente chegam a passar mais de 1 hora na fila.

Para um caixa, manejar centenas de milhares de pesos mexicanos e atender a centenas de clientes é uma atividade muito estressante, no limite porque se você erra o troco ou realiza um depósito errado o banco te cobra diretamente a falta de caixa. É muito comum ver caixas e tesoureiros endividados com o próprio banco, fruto dessas situações.

As prestações com o banco a taxas de juros “diferenciadas”, com empréstimos pessoais, financiamentos de automóveis e imóveis, cartões de crédito e todo o tipo de “produtos” que fazem com que os trabalhadores contraiam enormes dívidas com seu patrão.

Quando se trabalha em um banco tem-se o “direito” a taxas de juros menores do que as oferecidas pelo mercado, no entanto, se o trabalhador pede demissão ou então é demitido (por não bater as metas impostas para a venda de cartão de crédito, por exemplo), sua dívida se multiplica ao ser corrigida para a taxa de juros corrente aplicada aos demais clientes. Este custo elevado para alguém que perde o emprego implica que é preferível para muitos se manter nesse trabalho do que sair, ainda que as condições de exploração aumentem.

É preciso mencionar também, que em caso de assalto ou roubos, os trabalhadores devem seguir um protocolo que os obriga a não dar dinheiro em espécie (ou dar uma pequena quantidade) ao assaltante, em caso de “entregar demais” o trabalhador deverá pagar, inclusive pode ser investigado e acusado de ser cúmplice do assaltante. Isto sem se importar que a vida dos trabalhadores do banco e dos usuários.

A terceirização ganha terreno

Segundo as estatísticas da Comissão Nacional Bancaria y de Valores (CNBV), atualmente no setor bancário do México são mais de 220 mil trabalhadores, destes, cerca de 70% são postos de trabalho terceirizados. O avanço da terceirização significou ataque aos direitos dos trabalhadores deste setor, dentre eles o direito a uma aposentadoria digna com o salário integral, mais de duas semanas de férias remuneradas, benefícios e co-participação em serviço médico particular.

Todos esses direitos estão sendo atacados aceleradamente como resultado da entrada de empresas que contratam por fora do banco, e em muitos casos os trabalhadores se vêem obrigados a pedir demissão para serem recontratados sob salário e condições de trabalho mais precarizados.

Ao mesmo tempo, os salários (que neste setor estavam muito elevados em relação a outros) tem diminuído, enquanto os horários de saída e o ritmo de produtividade exigidos pela patronal aumentam. Além disso, os trabalhadores terceirizados sofrem com uma exploração muito maior, com salários miseráveis e condições de trabalho muito mais precárias.

Um setor estratégico que pode se organizar

Assim como trabalhadores de serviços muito importantes como as telecomunicações ou o transporte, os trabalhadores bancários cumprem um papel destacado na reprodução da sociedade capitalista. Deles dependem o funcionamento da esfera de circulação financeira da economia. Não sabem a enorme força que tem.

O sindicato dos bancários agrupam unicamente os trabalhadores efetivos e são organizações que não defendem sequer o mínimo dos trabalhadores de sua base. O máximo que chegam a fazer é organizar grandes eventos sociais onde os donos dos bancos despejam o discurso de quão “afortunados” são os trabalhadores de seus bancos. Organizam grandes festas anuais ou distribuem alguns ingressos pro teatro ou cinema.

Mas os trabalhadores deste setor também podem começar a se organizar e defender seus direitos. Em países como Argentina ou Brasil, os bancários são um setor de trabalhadores que organiza assembleias para discutir suas condições de trabalho e saem às ruas para lutar pelos seus direitos.

No México, os trabalhadores deste setor também podem começar a se organizar, atrás dos guichês dos bancos as conversas fluem todos os dias, e algumas destas podem começar a ser mais políticas e discutir sua situação. Em todo o mundo trabalhadores de distintos setores começam a lutar, e alguns setores estratégicos podem também despertar das mãos do enorme descontentamento que se sente com os governos a serviço dos grandes empresários e banqueiros.

Tradução: Thais Oyola

[Nota da tradutora]: Conhecer as condições de trabalho ainda mais precárias em outras partes do mundo dizem muito sobre onde o governo golpista de Temer quer chegar com os ataques aos direitos trabalhistas. Por outro lado, ajuda a reduzir as distâncias entre os trabalhadores de diferentes países para percebermos que a nossa luta é uma só.




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