A liderança da Conaie se senta para negociar com o governo, que anunciou concessões mínimas diante dos protestos.
terça-feira 28 de junho de 2022 | Edição do dia
A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) e outros grupos que impulsionam os protestos contra o governo equatoriano reuniram-se nesta segunda-feira com representantes do Executivo e de outros poderes do Estado, embora sem a presença do Presidente Guillermo Lasso.
A Igreja Católica, juntamente com o presidente da Assembleia Nacional (parlamento) serviram de intermediários para a reunião.
O presidente da Conaie, Leônidas Iza, junto com as lideranças das demais organizações que promovem a paralisação nacional, iniciada há 15 dias contra o aumento do combustível e do custo de vida, liderou a delegação que se reuniu com as autoridades. A reunião começou por volta das 15h30 (horário do Equador) com a intervenção de Iza, que relembrou em detalhes os 10 pontos levantados pelo movimento indígena como condições para cessar a mobilização nacional.
#ParoNacionalEcuador
Ausente @LassoGuillermo se instala la reunión de la CONAIE, @confeniae1, ECUARUNARI, FEINE, FENOCIN con los poderes del Estado, el movimiento indígena sostendrá las decisiones colectivas para garantía de resultados para os 10 puntos.
Las bases en vigilia. pic.twitter.com/UXP1eQ9HKz— CONAIE (@CONAIE_Ecuador) June 27, 2022
Após várias horas de reunião, os representantes do governo foram convocados pelo presidente Lasso para avaliar o que foi debatido e encontrar uma forma de chegar a um acordo. A liderança da Conaie disse esperar um avanço nas negociações, mas que vai continuar as manifestações em Quito até que se chegue a um acordo.
🔴#URGENTE Presidente de la @AsambleaEcuador, @VSaquicelaE informa que ministros fueron convocados al Palacio de Carondelet para analizar propuestas de la @CONAIE_Ecuador y movimientos indígenas. En las próximas horas se emitiría una respuesta, señaló. 👇🏼 pic.twitter.com/iZdxPTAUSU
— Ecuadorinmediato (@ecuainm_oficial) June 28, 2022
Leônidas Iza, líder da Conaie, afirmou que "reconhecemos o esforço do governo nacional" e acrescentou "temos insistido em dois pontos, se como povos e nacionalidades insistíssemos no restante dos pontos, estaríamos sendo irresponsáveis com o momento atual". Afirmou ainda que estava disposto a negociar dizendo que "nós propusemos no primeiro ponto (em relação ao aumento dos combustíveis) reduzir 40 centavos, o Governo propõe 10 centavos. Por isso, pedimos que façam um esforço para que exista um meio termo, e que de um lado para o outro podemos ganhar e perder".
#ATENCION
Se retoma la reunión de la CONAIE, @confeniae1, ECUARUNARI, FEINE, FENOCIN con los 5 poderes del Estado. @LassoGuillermo no asistió y en exteriores las bases de Sierra, Amazonía y Costa permanecen movilizadas.#ParoNacionalEc#conaie https://t.co/lqmtjDoipy— CONAIE (@CONAIE_Ecuador) June 28, 2022
A reunião ocorre depois que o presidente do Equador anunciou um corte nos preços da gasolina e anulou o estado de emergência que havia sido imposto em seis províncias, duas medidas mínimas no contexto das reivindicações que alimentaram as manifestações.
A redução de preço anunciada no domingo baixa o valor do combustível em 10 centavos por galão, abaixo da exigência da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) para reduzir o preço em dólares de $2,55 para $2,10 por galão e o diesel de US$1,90 para US$1,50.
Asumimos el compromiso de resolver los problemas de todos los ecuatorianos. Escuchamos a todos los grupos sociales y pensando en el bien común, tomamos esta decisión por el bien de los ecuatorianos. pic.twitter.com/5Hym7oIQcP
— Guillermo Lasso (@LassoGuillermo) June 27, 2022
A mesa de negociações acontece depois que o governo e as lideranças do movimento indígena tiveram os primeiros contatos no sábado, em um quadro de tensão resultado da repressão, que segundo organizações de direitos humanos, registra pelo menos 6 mortos e mais de 200 feridos.
“Por decisão coletiva das estruturas da Conaie, Feine (organização de indígenas evangélicos no Equador) e Fenocin (Confederação Nacional de Organizações Camponesas, Indígenas e Negras) aceitamos o convite feito para o encontro com os 5 poderes do Estado”, comunicou a Conaie.
A liderança indígena divulgou um comunicado antes da reunião dizendo que apesar de lutarem pelos 10 pontos originais de seu programa inicial, já conseguiram algum tipo de acordo em 5 deles. Que embora os 10 centavos sejam insuficientes, mostra que a mobilização serviu. Essa concessão nas demandas originais que motivaram os protestos foi confirmada durante a negociação.
Enquanto isso, eles também pedem ações solidárias e “em paz” de acordo com o pedido do governo repressivo de Guillermo Lasso.
🔴 #ATENCIÓN | @CONAIE_Ecuador anuncia que reducción de USD 0,10 en precio de combustibles es una decisión insuficiente y sin garantías, por lo que se reunirán con las bases para tomar una decisión colectiva y definir qué medidas adoptarán en los próximos días. pic.twitter.com/zFx1zBR6KP
— Radio Pichincha (@radio_pichincha) June 27, 2022
As lideranças indígenas também exigiram controle de preços de produtos agrícolas e um orçamento maior para educação, embora tenham demonstrado flexibilidade na negociação com os representantes do governo.
Por duas semanas, os protestos paralisaram o transporte no Equador, com bloqueios em 19 das 24 províncias do país rico em petróleo.
A lista original de dez demandas incluía a exigência de preços mais baixos de combustíveis, moratória das dívidas dos pequenos agricultores e garantia de preços mínimos para seus produtos. Mas a Conaie também teve que cobrar demandas sentidas pela sociedade que incluem o fim da flexibilização trabalhista e a garantia de um orçamento maior para educação e saúde, que estão em grave crise.
O governo de Lasso, que segue os ditames de um acordo com o FMI, não está disposto a ceder a essas últimas demandas, que considera estruturais, e como ficou demonstrado na reunião de segunda-feira, procura limitar a negociação a algumas das três primeiras demandas da Conaie.
A rebelião que começou com o pedido das organizações indígenas por preços de combustíveis, como aconteceu em 2019 quando o ex-presidente Lenin Moreno havia decretado a retirada dos subsídios, e se espalhou pelos principais centros urbanos e nas diferentes regiões, quando milhares de jovens da bairros populares de Quito juntaram-se ao apoio expresso por milhares de estudantes que fizeram parte dos protestos. Organizando sua solidariedade com os manifestantes, ergueram barricadas e enfrentaram a Polícia, colocando o governo em xeque.
Como naquela época, a OEA (Organização dos Estados Americanos) junto com outros representantes internacionais e a liderança eclesiástica desempenharam o papel de criminalizar os manifestantes e exigir o diálogo.
De forma semelhante ao ocorrido anos atrás, as lideranças indígenas, que em 2019 fecharam o acordo com o ex-presidente Lenin Moreno que estava na corda bamba, novamente param as mobilizações para buscar um acordo relegando parte das demandas.
As mobilizações atuais mostram que a crise continua e que as demandas profundas de setores inteiros da sociedade equatoriana são mais válidas do que nunca. De acordo com a Aliança de Organizações para os Direitos Humanos, 64 violações de direitos humanos, cinco mortes, 166 feridos, 108 detenções e cinco desaparecidos foram registrados até a tarde de sexta-feira. O governo de Lasso, como o de Moreno na época, tentará chegar a um acordo parcial, deixando a maior parte das demandas sem solução. A mobilização popular, à qual as organizações de trabalhadores também devem aderir com uma greve por tempo indeterminado, é fundamental para evitar que suas reivindicações sejam frustradas novamente.