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GREVE NA FRANÇA | Os ferroviários franceses endurecem sua luta contra a reforma de Macron

terça-feira 10 de abril de 2018 | Edição do dia

Enquanto se desenvolve a quarta jornada de paralisações contra seu governo, Macron tenta se mostrar duro e se nega a mudar os planos, disposto a levar a batalha até consequências incertas para o seu governo.

Desde a gerência da empresa estatal asseguram que o número de grevistas chega a 29,7%, mas supera os 75% entre os maquinistas, o que impediu a maioria dos trens de circularem. “É estranho. Parece que todos somos ociosos, mas quando realmente deixamos o trabalho, nada circula”, diz um dos grevistas da estação de trem Gare du Nord, de Paris, apontando contra o discurso oficial.

A força da greve se mantém. Apenas um trem de alta velocidade entre cinco circulava, e um a cada três trens regionais e um em cada cinco trens clássicos de longas distâncias. No caso dos trens que viajam até a Espanha, apenas um em cada cinco dos planejados se manteve circulando.

Frente a um movimento de manifestações que endurece, o governo de Macron está disposto a dar uma batalha pela opinião pública, para tentar desacreditar as reivindicações dos trabalhadores ferroviários, uma prática comum contra os grevistas. Macron dará na próxima quinta-feira, às vésperas do quinta dia de greve, uma longa entrevista no noticiário noturno da rede TF1 para explicar sua reforma.

Por sua vez, o presidente da SNDF (Companhia Nacional de Caminhos de Ferro Franceses), Guillaume Pepy, em declarações ao canal de televisão BFMTV assegurou que as greves já custaram 100 milhões de euros, e defendeu, reiterando o discurso governamental, a reforma do estatuto dos trabalhadores ferroviários como imprescindível para o funcionamento da empresa estatal.

Acertadamente os sindicatos denunciam que as reformas que o governo busca implementar são um passo inicial à privatização da empresa.

Mas os trabalhadores ferroviários não se deixam intimidar ante a intransigência oficial. Na assembleia da estação de trem Gare du Nord de Paris, os ferroviários votaram greve por tempo indeterminado a partir do dia 13 de abril. Essa medida aparece como um primeiro sinal de radicalização da greve em resposta à contra-ofensiva de Macron.

O governo reprime os estudantes que lutam contra a reforma universitária

Os estudantes secundaristas e estudantes universitários vêm protagonizando junto aos trabalhadores, a resistência frente aos planos de ajuste de Emmanuel Macron, que leva adiante uma reforma trabalhista chamada “XXL” devido à magnitude das medidas.

Em várias universidades os estudantes votaram em assembleias o bloqueio das mesmas impedindo a entrada, além de mobilizações e da convergência com a luta dos trabalhadores ferroviários e de outros setores.

Nesta segunda-feira, as forças da CRS (Companhia Republicana de Segurança, um destacamento policial que depende da Polícia Nacional Francesa), entraram na Universidade de Nanterre para impedir uma assembleia estudantil que se realizava pacificamente no anfiteatro da faculdade.

Os estudantes desta universidade denunciaram por meio de um comunicado oficial que “na Universidade Paris X Nanterre, houve uma intervenção policial durante a ocupação dos prédios de Ciências Sociais em rechaço à Lei Vidal, mas também à expulsão da ZAD de Notre-Dame-Des-Landes” [1]. O comunicado continua dizendo que “os CRS estão de volta no comando” contra os estudantes e “os acessos estão bloqueados, formou-se um cordão de CRS na entrada da habitação ocupada. Sem entender o que acontecia, tratamos de dialogar com eles. Nenhuma resposta.”. A repressão culminou com uma dezena de estudantes detidos e vários feridos.

Enquanto o governo buscar acabar com a luta estudantil através da repressão, o processo de estende. Na segunda-feira, uma assembleia de 2000 pessoas na Universidade de Sorbonne-Nouvelle votou pela greve e ocupação da universidade, somando essa casa de estudo aos protestos.

As medidas repressivas do governo francês expressam seu desejo de tentar intimidar aqueles que estão lutando, em um momento em que a ira da juventude e dos trabalhadores tem se expressado amplamente nas mobilizações, ocupações de faculdade e greve dos trabalhadores ferroviários para enfrentar os ataques o presidente Macron.

Macron busca subjugar a luta dos ferroviários para favorecer as suas medidas de ajuste. Mas não está claro que isso possa ser alcançado, e a resposta do movimento grevista mostra que há força para derrotar o plano de reformas.

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[1] Na década de 70, uns terrenos de mais de 200 hectares à noroeste da cidade de Nantes, foram declarados pelo governo local como “Zone d’Aménagement Différée” (“ZAD” ou zona de desenvolvimento diferido ou posterior, uma espécie de delimitação de um território que o poder público pode adquirir de maneira arbitrária quando quiser). Nessa região o governo quer construir um aeroporto, passando por cima das comunidades locais, que vivem da agricultura local, e também do fato de ser uma área com um ecossistema com espécies que estão em perigo de extinção. Opositores ao projeto passaram a ocupar a região, os chamados “zadistas”. Há alguns meses atrás o governo havia recuado no projeto, porém, durante essa semana a policia reprimiu os ocupantes para expulsá-los do local.
Fonte: Francia: “ZAD” de Nantes, uma lucha y um triunfo histórico




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