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CRISE NA VENEZUELA | Os comitês de abastecimento de Maduro podem solucionar a escassez?

O governo anunciou os Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP) diante da escassez, porém não é mais que um novo sistema de racionamento que está longe de dar uma solução de fundo.

sábado 11 de junho de 2016 | Edição do dia

Nesta quinta-feira (10), Maduro voltar a falar uma vez mais dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP) sustentando que são para “garantir o abastecimento que é atacado todo todos os dias pelo capitalismo que conspira e ataca o povo”. Pura verborragia e foi praticamente o mesmo discurso de toda semana incluindo uma marcha que será realizada na quarta-feira em apoio aos ditos comitês. As CLAP são supostamente para distribuir os produtos básicos que escasseiam, onde os produtos seriam distribuídos casa a casa, mas não é outra coisa que um novo sistema de racionamento.

É que se vive uma agoniante crise econômica, um país em recessão aberta, uma redução brutal das importações para garantir os compromissos de uma extenuante dívida externa, uma escassez que golpeia da maneira mais severa o povo e enquanto os preços sobem de maneira desmedida ao mesmo tempo que o poder aquisitivo da população encontra-se em queda vertiginosa. Não são adjetivos para descrever uma situação que escrevemos aqui, é sim uma realidade palpável que se vive na Venezuela e quem paga mais profundamente é o povo trabalhador e os pobres em uma situação que já tem mais de três anos e se agravou com o passar dos meses.

Entre os produtos que mais faltam contam-se leite, carne bovina e de frango, café, manteiga, azeite, açúcar, macarrão, farinhas de trigo e de mandioca e ovos, assim como artigos de higiene pessoal como fraldas, xampu e sabonete, só para mencionar aqui alguns dos produtos básicos mais sensíveis, e um povo tendo que realizar longas filas para tentar consegui-los. Na quarta-feira, o ministro para a alimentação, Rodolfo Marcos Torres, informou que “a produção de alimentos melhorará com a chegada de 515 mil toneladas de matéria-prima, milho branco e amarelo, arroz paddy, trigo duro e trigo padeiro, torta de soja”, porém nunca se vê a manteiga na torrada.

E enquanto tudo isso acontece, o governo de maduro vem autorizando cada vez mais aumentos nos preços de produtos da canasta familiar como parte da aceleração de suas concessões aos empresários. E já se acordaram novos preços a umas 50 categorias da cesta básica e artigos de primeira necessidade, entre eles carne, frango, leite, farinhas, pastas e outros alimentos, além de vários medicamentos e produtos de higiene pessoal. Esses anúncios significam outro duro golpe para as finanças das famílias operárias e populares, demonstrando-se o governo orienta a sua política econômica para ajustes maiores.

O governo lança os CLAP a mesmo tempo que se surgem protestos contra a escassez em diferentes lugares do país e agora também na capital Caracas, a cidade supostamente “mais abastecida”, como aconteceu na semana passada no próprio centro e nos atos ocorridos em partes da região leste da cidade nos últimos dias.

O governo alega, como sempre, que é a direita que organiza esses protestos, esquecendo a cruel realidade da vida de um povo que se esgota mais que a paciência. E não pode-se silenciar a realidade do profundo mal-estar social, dessa raiva e cansaço do povo contra as condições agoniantes que enfrentam e as precárias condições de vida. Que a direita se aproveita da situação, isso já se sabe, e sobretudo com um discurso mais que demagógico, pois o que trazem na manga são planos que também faram o povo pagar a crise.

O governo chegou a desfaçatez de proibir que as lojas das cinco principais avenidas de Caracas vendam qualquer dos produtos essenciais com o argumento que os chamados “bachaqueros” vinham até o centro da cidade para comprar, por isso que se formavam longas filas, mas a verdade é que busca ocultar uma realidade da paisagem que reina no centro da cidade por causa da escassez: As intermináveis filas buscando adquirir um produto essencial. Porém o problema migra para os bairros mais pobres, onde as filas dobraram nos pequenos comércios e centros comerciais.

Porém é um fato que a política do governo para superar a escassez e o desabastecimento fracassou em todos esses anos, com todos os velhos planos e o CLAP agora e toda a suposta luta oficial do governo contra o desabastecimento não respondem minimamente à situação desesperadora e a catástrofe que cada vez mais se avizinha. E o mesmo governo se contradiz sobre uma política que nem eles tem clara, com dirigentes políticos que falam que 70% dos produtos seriam distribuídos pelos tais CLAP. Enquanto que outros falam de 50% por essa via e 50% através das redes de comercialização privadas, inclusive falam de plano-piloto, mostrando o total improviso do que dizem que vão executar.

Esse CLAP do qual o governo faz alarde agora seriam organizados pelo povo, segundo o discurso oficial, mas está longe da realidade. Na verdade, trata-se dos já montados e cooptados conselhos comunitários – mais um braço do estado - que não tem estrutura nem capacidade para administrar toda uma rede de distribuição a toda a população, além de que organizam-se de maneira burocrática, prestando-se a todo tipo de favoritismos e interesses políticos do governo, não fazendo outra coisa que gerir os planos governamentais.

Porém isso tampouco é a tal “organização popular”, na verdade os CLAP que desenvolvam estarão sob a tutela e direção de uma burocracia estatal que se mostrou mais que corrupta, como já ficou demonstrado no caso dos mercados Bicentanários onde a própria corrupção os tragou, e agora onde haverá menos controle, mais se prestarão a realizar tais arranjos. Sobre o tão falado “poder popular”, que de popular tem pouco ou nada, como já escrevemos em outros artigos.

Para enfrentar a escassez: Comitês de Abastecimento populares

Na realidade, frente a escassez, o desabastecimento, o mercado negro e a especulação, que faz justamente com que os produtos básicos e sensíveis para a população, é necessário que sejam realmente os trabalhadores e os setores populares que tomem em suas mãos a distribuição de alimentos e bens básicos. Mas não da maneira enganosa que quer fazer o governo e suas CLAP, mas sim impondo verdadeiros Comitês de Abastecimento populares por bairros, por áreas habitacionais, porém democraticamente constituídos e que tenham um verdadeiro controle, sem nenhuma ingerência do estado.

Diante das queixas dos empresários a respeito dos gastos de produção, de transporte e de comércio, os trabalhadores e trabalhadoras e todos os consumidores devem exigir-lhes: Mostrem os livros de contabilidade, exigimos o controle sobre a política dos preços, mas feitos pelos próprios trabalhadores e o povo pobre, com punição imediata para os que especulam com os alimentos básicos e de primeira necessidade.

Esse comitês, junto com o controle operário da produção, além de um salário mínimo móvel de acordo com as necessidades e a repartição das horas de trabalho sem perda salarial, são as primeiras tarefas de um Plano de Emergência operário e popular para responder a esta situação. Lutamos por uma existência digna para todos os trabalhadores e trabalhadoras, os camponeses e o povo pobre.

Como parte dessa luta é fundamental que operários e setores populares e camponeses consigam confluir em uma grande aliança capaz de pôr em xeque aos responsáveis dessa situação exasperante, parando a mão dos ajustes que o Governo e os empresários descarregam sobre o povo e também os planos que prepara a oposição de direita do MUD. Essa é única saída progressiva aos padecimentos que sofre o povo.

Tradução: Pedro Rebucci de Melo




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