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Tragédia capitalista | Organizar a luta para impor um plano emergencial contra as enchentes em Natal e região

Ontem ocorreu uma reunião de emergência da CSP-Conlutas para debater a situação das enchentes que ocorreram neste fim de semana em 114 cidades do RN, em que famílias perderam tudo e a cidade deteriorada. Foi convocada uma plenária aberta para construir uma ampla campanha em solidariedade às famílias e mobilizar trabalhadores, estudantes e os movimentos sociais para responder a essa situação. Chamamos todos a participarem, ela será no Sindsaúde-RN nessa quinta-feira, 7, às 15h.

Ítalo GimenesMestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

Camila CampeloMestranda em Psicologia pela UFRN e militante da Faísca Revolucionária

terça-feira 5 de julho de 2022 | Edição do dia

Na reunião da CSP-Conlutas, Marie Castaneda, coordenadora do CACS e militante da Faísca Revolucionária se solidariza com as vítimas dessa tragédia, e em defesa de um plano de emergência imposto pela mobilização

A região da Grande Natal, sobretudo a capital e Parnamirim, foram as cidades mais atingidas, que além de desalojamentos - até agora não se sabe quantos - lagoas de captação transbordaram inundando casas, outras cederam terreno, crateras se formaram nas ruas, pessoas ficaram feridas.

Segundo os governos e a imprensa oficial como Tribuna do Norte, Agora RN e G1, no domingo choveu em 12h metade do volume esperado para o mês de julho, que somado às águas das últimas 96h, já ultrapassou essa previsão. Isso é associado ao fenômeno Ondas de Leste, um distúrbio que eleva a pressão atmosférica e a incidência de chuvas, sobretudo no litoral dos estados do Nordeste. Desde meados de maio esse fenômeno tem se manifestado, observado e estudado pelo menos desde 1940.

Mas a tragédia está longe de ser “natural”. Todos os anos em Natal e no RN, na época de chuvas, é o mesmo problema. Há poucas semanas em Recife foram 126 mortes, e milhares de desalojados fruto dos deslizamentos e enchentes, Alagoas hoje tem 40 mil desalojados. Bahia, Ceará, Piauí, Tocantins, Minas Gerais e Rio de Janeiro também enfrentaram essa situação esse ano. Isso se deve por conta de Bolsonaro, que, enquanto destina milhões para seu orçamento secreto com o Centrão, corta mais de 75% da verba destinada ao combate a desastres ambientais como as enchentes no país.

Seu negacionismo de extrema-direita está em defesa da destruição desenfreada dos biomas como Cerrado e a Amazônia em favor do agronegócio, as mineradoras e de grandes capitalistas que garantem seus lucros devastando o mundo todo, levando a mais tempestades, furacões, e outras tragédias. Bolsonaro chega ao ponto de dizer que “Um país continental tem seus problemas”, sendo responsável, junto aos governos estaduais e prefeitos, pelas 478 mortes por enchentes até julho de 2022, o maior número em 10 anos.

O prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), e de Parnamirim, Coronel Rosano Taveira (Republicanos), compartilham com essa política, inclusive o prefeito da capital ameaça despejar a ocupação Palmares, que teve dezenas de famílias atingidas. O mesmo prefeito que não fez mais que tapar buracos da cidade para se eleger, e impôs um Plano Direto a serviço dos empresários do turismo, da hotelaria e da construção civil, atacando diretamente o meio ambiente. E que não responde ao déficit habitacional de 70 mil famílias sem casa em Natal, despejou várias vezes moradores de rua no Viaduto do Baldo, assim como a estrutura precarizada em bairros da Zona Oeste e Zona Norte.

Mas também o governo de conciliação de classes do PT no Estado, através de Fátima Bezerra, é responsável, por exemplo, pela rede de saneamento da CAERN, sucateando a empresa e favorece interesses privatistas. Fátima sairá aliada nessas eleições com ninguém menos que os Alves, tendo Carlos Eduardo Alves como candidato ao Senado, ex-prefeito de Natal por vários anos, que teve Álvaro Dias de vice. Essa conciliação que garante o lucro dos grandes empresários, por exemplo, não cobrando os R$8 bilhões de dívida ativa que tem com o estado, não pode dar uma resposta à tragédia colocada.

Se mostra urgente a necessidade de impor a esses governos com a força da mobilização a execução de um plano de emergência coordenado e controlado por representantes das famílias atingidas, junto aos trabalhadores da construção civil e saneamento, aos sindicatos e entidades estudantis. Um plano de socorro com brigadas de trabalhadores e populares, que mobilize recursos para gerar abrigo e alimento às famílias, socializando salas de hotéis e resorts de luxo e expropriação de imóveis ociosos para ocupar as famílias desocupadas. Que imponha um plano de obras públicas controlado pelos trabalhadores e controle popular, que reconstrua as casas destruídas, aprimore as existentes e construa moradias populares seguras e de qualidade; promova um sistema de armazenamento e drenagem nas vias e lagoas de captação para prevenção das áreas afetadas e as que sofrem possibilidade de inundação, e também melhoras e ampliação do saneamento urbano para bairros, sobretudo da ZO e ZN, que dê dignidade às famílias e despolua as praias e rios, também gerando emprego e renda frente a essa crise. Que preserve e revitalize as zonas de proteção ambiental, as comunidades tradicionais pesqueiras, ribeirinhas e indígenas, contra a proposta de Porto de Natal do Senador Jean-Paul Prates. Todo corpo técnico e científico das universidades e institutos federais do estado e de outras regiões devem se colocar a serviço monitorar as chuvas e locais de risco e de construir esse plano ao lado dos trabalhadores e população, envolvendo arquitetos, engenheiros, cientistas sociais, invertendo as prioridades do conhecimento produzido hoje voltado ao desenvolvimento de patentes e tecnologia para dar lucro pros empresários.

Marie Castañeda, coordenadora do Centro Acadêmico de Ciências Sociais da UFRN e militante da Faísca Revolucionária, comentou o papel das entidades estudantis aliado aos trabalhadores neste plano: “O CACS está mobilizando junto aos estudantes do curso uma campanha de doações e solidariedade às famílias atingidas pela tragédia capitalista em Natal, que inclusive são as casas dos próprios alunos. E estamos construindo essa plenária que acontecerá na quinta-feira da CSP-Conlutas para debater a construção de um plano de emergência que os sindicatos e entidades estudantis têm papel decisivo que aconteça. Por isso na reunião de ontem debati uma exigência a que a CUT e a CTB, que dirigem centenas de sindicatos no RN e milhares pelo país, estejam nessa plenária e se responsabilizem por organizá-la nas bases das categorias, convocando reuniões, comitês, para que a enorme força de trabalhadores potiguares mostre que não é a direita ou os conciliadores com a burguesia que estão preocupados com a situação.

Defendemos a construção de um forte ato para exigir dos governos esse plano de emergência, para que esses sindicatos, assim como as entidades estudantis dirigidas pela UNE, controlados pelo PT e PCdoB, rompam a sua paralisia em favor do acordo de paz com Bolsonaro em favor de uma transição para um governo Lula-Alckmin em 2023. E desde o CACS, chamamos o DCE da UFRN, que se diz crítico aos conciliadores, que então assuma a tarefa de organizar pela base os estudantes nessa luta. E que essa organização junto aos trabalhadores sirva de enfrentando o projeto de universidade da Reitoria que paralisa todo nosso conhecimento em função do lucro, quando deveria estar a serviço da classe trabalhadora em uma resposta unificada aos danos dessa tragédia capitalista. Assim como que unifiquemos com os sindicatos e movimentos sociais para batalhar por um plano de emergência. A classe trabalhadora potiguar veio demonstrando nos últimos meses disposição de luta e força, nas greves da saúde, de professores, do Detran. A Conlutas, a Intersindical, centrais sindicais dirigidas pelo PSTU e pelo PSOL, que se colocam à esquerda do PT, devem também dar exemplo exigindo das direções burocráticas. Essa batalha pode estar a serviço de abrir caminho para uma verdadeira Reforma Urbana Radical em Natal, que destitua o Plano Diretor de Álvaro Dias e abra perspectiva de uma Natal que seja dos trabalhadores e do povo pobre que faz essa cidade funcionar. ”




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