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GOLPE INSTITUCIONAL | Onde está o plano de luta da CUT contra o golpe e os ataques dos governos?

Sob o título “Lula articula ofensiva com os movimentos sociais”, o jornal Valor Econômico noticiou que o ex-presidente e o PT se articularam com os movimentos sociais e “prepararam uma ofensiva contra o vice-presidente da República, Michel Temer, e o PMDB para os próximos dias, com mobilizações e paralisações em todo o país”. A ideia é preparar um 1o de maio como um dia de luta contra o impeachment.

Mauro SalaCampinas

terça-feira 26 de abril de 2016 | Edição do dia

O que se questiona é a legitimidade de um eventual – e cada vez mais provável – governo Temer, que não terá respaldo popular para governar e implementar as medidas de sua gestão. Dessa forma, a CUT e a CTB, junto com outros movimentos sociais como o MST e a UNE, preparam, para o vale do Anhangabaú, uma "manifestação" onde se pretende, segundo o secretário-geral da CUT, João Cayres, explicar os riscos de um governo que tem como programa o “Ponte para o Futuro”, com suas medidas duras de ajustes contra os trabalhadores. “A vida vai ser muito dura até 2018”, disse o dirigente da CUT, num tom bastante conformista.

A CUT convidou Dilma e Lula para participar do seu 1o de maio, mas ainda não obteve resposta. "Exigimos a presença do Lula e da Dilma. Espero que a presidenta se aproprie desse espaço dizendo que vai resistir e que faça anúncios aos trabalhadores”, declarou o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, à Folha de São Paulo. Para o burocrata sindical da CUT - que até agora dirigiu as medidas para isolar e trair as lutas operárias contra o ajuste do governo Dilma e fortaleceu com isso a direita, “ajudaria” se a Dilma anunciasse medidas em defesa do trabalhador, mesmo reconhecendo que seu afastamento é quase certo.

A reportagem do Valor Econômico se refere ainda a uma “greve geral, ainda sem data definida”, embora à Folha de São Paulo, o Secretário de Relações Internacionais da CUT, tenha declarado que “não estamos discutindo paralisação”, e que veem como remotas as chances de uma greve geral no país. Gilmar Mauro, dirigente do MST, reconhece que o ajuste fiscal tem dificultado a mobilização.

Este muro das lamentações por parte de burocratas das centrais sindicais e de movimentos sociais, que certamente não estão sentindo os ajustes no seu dia a dia, é uma mostra cabal do que Lula quis dizer com "oposição cautelosa" ao golpe. Significa que o PT pretende seguir utilizando sua influência nos movimentos sociais e nos sindicatos para encaixotar em limites seguros a raiva operária contra os ataques a seus direitos e contra o avanço da direita. Esses burocratas têm mais medo da radicalização de suas bases sindicais do que de serem derrotados pela direita que ajudaram a alimentar.

Assim, vemos que a CUT, a CTB e o MST vacilam em sua política e dão mostras de que não podem ser consequentes nem com a luta contra o golpe institucional e nem contra os ajustes e ataques do governo do PT ou de um eventual governo Temer. Para eles um gesto demagógico de uma presidenta que agoniza em seu mandato bastaria para levar a frente um ato em defesa de seu governo.

A declaração de Lula de que “viveremos momentos do combate democrático”, feito na reunião da Aliança Progressista, rede que reuniu em São Paulo representantes de vinte partidos de 17 países, parece não ser é um chamado efetivo contra as ofensivas da direita golpista: não há data para a "greve geral", não há plano de paralisações dos sindicatos ou qualquer menção à necessidade de barrar as demissões com os métodos da luta de classes.

Pelo contrário, há murmúrios de cansaço de gente que não pisa um local de trabalho há décadas, cujo modo de viver, sentir e pensar não tem nada a ver com o da base dos trabalhadores que sofrem os ataques. Uma piada patética destinada a desencorajar a luta de classes que virá certamente caso Temer venha a assumir e aplicar ataques mais duros que o que Dilma já vem aplicando.

CUT, CTB e UNE seguem o script de Lula. A distância entre o que dizem e o que fazem é um abismo. Armam um 1º de maio no Vale do Anhangabaú que será mais um showmício. Showmícios pouco podem fazer para barrar a direita; precisamos de um plano de luta contra o golpe e os ataques dos governos.

O que parece que está acontecendo não é uma “articulação para uma ofensiva com os movimentos sociais”, como escreve o Valor Econômico, mas sim uma medida de contenção dos movimentos para a manutenção de suas ações nos limites da ordem, para não frustar futuras pretensões eleitorais de Lula e do PT, que tem se habituado – e parece não querer romper definitivamente os vínculos – a governar com a direita que agora quer derrubá-los.

O MTST e a Frente Povo Sem Medo

Numa declaração que circula na internet, Guilherme Boulos, dirigente do MTST, assevera que o MTST e a Frente Povo Sem Medo já se preparam para resistir, e que essa semana o MTST irá fazer bloqueios de avenidas e rodovias em mais de dez Estados do país e que, junto a outros movimentos, construirão um amplo 1o de maio.

Boulos diz que está em curso um verdadeiro golpe e que a forma de derrotá-lo é com o povo organizado nas ruas fazendo manifestações pelos quatro cantos do país.

Entretanto, assim como fez no ato encabeçado por Lula no Rio de Janeiro, "esqueceu" de fazer menção à necessidade de lutar contra os ataques do PT e da direita. O seguidismo ao governo do PT e a falta de críticas a Lula e Dilma desarmam um combate real contra o golpismo da direita alimentada pelo PT. Dificultando uma saída independente do governo para frear a direita.

É urgente um plano de combate ao golpe e aos ataques com os métodos da classe trabalhadora

Como dissemos no Esquerda Diário, o PT abriu o caminho para essa ofensiva ao assimilar os métodos capitalistas de corrupção para governar, conter e desviar as demandas que explodiram nas ruas em junho de 2013 e implementar um brutal ajuste contra os trabalhadores e o povo pobre no segundo mandato de Dilma.

A CUT se negou a impulsionar um plano de luta com greves, paralisações, e os métodos da luta de classes, decididas em assembleias de base, único caminho que pode de fato frear a ofensiva golpista, o que pressupõe uma ruptura com sua subordinação ao Lula, à Dilma e ao PT.

Exigimos que a CUT, a CTB e a UNE parem com sua paralisia cúmplice e encabece um plano de luta real, com convocatórias de assembléias nas bases para que os trabalhadores decidam como parar os setores estratégicos da produção.

A FIESP e a patronal se apoiam na convicção de essa burocracia seguirá fazendo o que sempre fez, não mover um dedo para opor-se. Apenas a força da classe operária em ação com seus métodos pode galvanizar uma poderosa resistência que se ligue aos artistas e à juventude que querem lutar contra o golpe institucional da direita e os ataques dos governos.

O sucesso e força desta luta determina não só a vitória ou derrota do golpe, mas com que força a classe trabalhadora e a juventude se localizará para enfrentar uma situação na economia e na luta de classes que pode se acirrar. Por isto é crucial apoiar e ajudar cada luta a ser vitoriosa, a mais emblemática delas, neste momento, é dos professores e estudantes do Rio de Janeiro contra os ajustes.




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