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ONDE ESTÁ SANTIAGO MALDONADO? | “Onde está Santiago Maldonado?” A pergunta que mobiliza a Argentina

Nas redes sociais, nas praças, nas escolas, nas fábricas e nos hospitais, milhares se perguntam onde está Santiago, jovem desaparecido em meio de uma repressão ao povo Mapuche, ao sul do país. Responsabilizam o governo de Macri, que não dá respostas.

quinta-feira 7 de setembro de 2017 | Edição do dia

No 1 de setembro se completa um mês desde que o viram pela última vez. O jovem artesão de 28 anos estava solidarizando-se com a luta do povo Mapuche da comunidade Lof Cushamen na província de Chubut, na Patagônia Argentina.

A Gendarmería Nacional, uma força de duplo caráter militar e policial que guarda as fronteiras da Argentina, avançou sobre os manifestantes para desocupar a rota 40, em um operativo repressivo de grandes dimensões. Contam várias testemunhas que quando começou a repressão, Santiago saiu correndo para o rio, seguindo os integrantes da comunidade mapuche, mas não chegou a cruzá-lo. Vários dos presentes viram que a gendarmería ingressava no lugar e depois carregava uma pessoa em uma caminhonete. Desde esse momento não voltaram a ver Santiago.

“A Gendarmeria levou Santiago”, disse Stella Maris Peloso, mãe de Santiago. “Que nos digam onde está, porque nós não podemos mais”.

Onde está? Que fizeram? São as perguntas que se faziam as Mães da Praça de Maio na época da ditadura genocida de 1976 na Argentina. Desde a Junta militar e seus meios de comunicação adeptos contestavam cinicamente: “devem estar de passeio pela Europa”. A realidade é que houve 30.000 desaparecidos, sequestrados e assassinados pelos militares.

Também hoje alguns meios de comunicação afins ao governo difundem todo tipo de “hipóteses” inverossímeis para desviar o foco dos olhares da ação da gendarmería.

Que estaria “escondido”, ou que o viram “pegando carona” em outra província. Quase um mês depois de sua desaparição, a fiscal que interveio na causa acaba de pedir que se mude a capa da “desaparição forçada de pessoa” em o caso de Santiago, o que envolve diretamente o Estado. A mesma figura, 40 anos depois. O juiz federal da cidade de Esquel fez lugar ontem ao pedido; a capa anterior era “busca de paradeiro”.

O governo do presidente Mauricio Macri e sua ministra de segurança, Patricia Bullrich, tentam evitar a investigação. Desde um mês, o Estado dificulta a busca de provas, enquanto criminalizam o povo mapuche como única resposta, o que tem transformado o caso em uma profunda crise política para o governo.

A comunidade Mapuche, reclusa em alguns territórios do sul da Argentina e Chile, reclama seu direito ancestral a terra, contra a presença de multinacionais como Benetton e Lewis que se tem transformado em imensos latifundiários. Só a família Benetton possui 900.000 hectares de terra no sul da Argentina, entregues impunimente pelos sucessivos governos “democráticos” desde 1983.

O povo Mapuche é hoje perseguido e reprimido brutalmente por denunciar esta situação e exigir seu direito a terra que o roubaram durante séculos de saque. Chile considera “terroristas” os Mapuches e solicita a Argentina a extradição de Facundo Jones Huala, um jovem lonko mapuche preso ilegalmente no país. A mobilização na que participava Santiago Maldonado quando desapareceu pedia por sua liberdade.

Myriam Bregman e Nicolás del Caño, do PTS na Frente de esquerda e ex-deputados nacionais, estiveram visitando o último fim de semana a comunidade Mapuche em Chubut junto aos organismos de Direitos Humanos para fortalecer a reivindicação pela aparição com vida de Santiago Maldonado. Em declarações na imprensa, Bregman foi categórica sobre a responsabilidade do governo: Patricia Bullrich “está tratando de proteger suas próprias ações e a responsabilidade de seu chefe de governo” (Pablo Noceti), quem se encontrava presente no momento do operativo repressivo que culminou a desaparição de Maldonado.

A referência de esquerda explica que a gendarmería “retem informação”, com o objetivo de atrasar e encobrir a investigação. Bregman recorda que nessa data se completa 11 anos de outra desaparição “em democracia”, a de Jorge Julio López, que teve lugar durante o anterior governo kirchnerista. Um caso que se transformou em um verdadeiro “monumento da impunidade”. “Que não passe com Santiago o que se passou com Julio López, queremos sua aparição com vida já”.

É sexta-feira 1º de setembro, q um mês da desaparição de Santiago Maldonado, distintas organizações, entre elas o Encontro Memória, Verdade e Justiça, convocam a mobilizar-se as 17 horas na Praça de Maio (a praça histórica para as mobilizações no centro de Buenos Aires) para exigir sua aparição imediata, uma reivindicação que sirva para replicar nas praças de todo país.

Uma pergunta que arrasa as redes sociais

No último sábado as redes sociais da Argentina se inundaram de mansagens com a mesma pergunta: onde está Santiago? Compartilhando seu “estado” em Facebook e Twitter, com memes ou cartazes espontâneos, milhares se faziam a mesma pergunta, buscando a via para que se escute cada vez mais longe. “Sou Julia. Estou em Rosário e todos podem saber. Mas onde está Santiago Maldonado, não. Que bullrich diga onde está”; “Facebook me pergunta que estou pensando e eu digo. Onde está Santiago Maldonado?; “Sou Alejandro, acabo de ver o golaço de Messi e me pergunto onde está Santiago Maldonado”; “Disfrutando do sábado em família e nos perguntamos: Santiago onde está? Bandeiras com a mesma pergunta se viram nos estádios de futebol e em várias universidades.

A família de Santiago criou uma página web para difundir informação e juntar. Além do mais, milhares de usuários de redes sociais mostraram solidariedade. Na seção “notícias falsas”, desmentem as notícias que circulam nos grandes meios de comunicação.

Nessa sexta, trabalhadores e trabalhadoras da educação de toda Argentina abraçaram as escolas pela aparição com vida de Santiago. Em muitas delas de leram uma carta escrita por docentes, quando os filhos chegam com seus pais aos pátios das escolas e colégios:

“Hoje tem um mês que em cada canto do país um de nós perguntam onde está Santiago Maldonado? O governo é responsável da repressão que se levou a cabo no sul contra os Mapuches que lutam pelo direito a terra e que culminou com a desaparição de Santiago; como o foi dos trabalhadores de Pepsico no despejo, igual com os docentes durante a luta paritária. Basta de repressão na Argentina! Propomos que a Quiaca Ushuaia que abraçamos junto as famílias todas as escolas do país, vamos pendurar bandeiras exigindo sua aparição e que cada estudante da escola pública saiba escrever, divulgar o nome e a cara de Santiago. Que o mundo saiba que nos falta Santiago e não pararemos até encontrá-lo”.

Uma grande campanha internacional pela aparição de Santiago Maldonado

No mês de agosto, apesar das férias de verão, em Madrid, Barcelona, Londres, Berlin e outras cidades se começou a escutar o apelo pela aparição com vida de Santiago Maldonado. Em Barcelona já se realizou uma concentração, que se repetirá todas as semanas.

Assim foi que na terça-feira 22 de agosto, uma centena de pessoas participaram em uma concentração na Porta do Sol de Madrid exigindo a aparição com vida.

As organizações que convocaram essa ação de solidariedade, entre elas organismos de Direitos Humanos como a Associação de Ex detidos desaparecidos, organizações sindicais como CGT e Solidariedade Operária e grupos políticos, entre outros a CRT e Pão e Rosas, tem planejado realizar novas ações nos próximos dias para continuar a luta pela aparição com de vida Santiago, assim como a liberdade de Santillán, Jones Huala e todos os presos e a todos os presos populares. Por sua parte, a Comissão pela aparição com vida de Santiago Maldonado de Barcelona tem anunciado que se concentrará todas as semanas até que Santiago apareça.

Só a mobilização de dezenas e milhares, assim como a persistência da família e os organismos de direitos humanos na Argentina, tem permitido que o apelo pela parição com vida de Santiago cresça dia após dia. A solidariedade internacional também deve crescer e redobrar mais que nunca.

Tradução Douglas Silva




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