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INTERNACIONAL | Ofensivas militares na Síria e no Iraque avançam sob as principais cidades controladas pelo Estado Islâmico

Desde segunda-feira (23), o Estado Islâmico vem sofrendo duras derrotas militares em duas frentes. Uma é a cidade de Fallujah, controlada pelo Estado Islâmico há dois anos e meio, a 50km da capital do Iraque, Bagdá.

Artur LinsEstudante de História/UFRJ

sábado 28 de maio de 2016 | Edição do dia

A cidade estava sendo sitiada há meses pelas forças armadas do governo e pela coalizão de milícias xiitas, sunitas, mercenários e policiais chamada “Força de Mobilização Popular”, que agora avançam sobre Fallujah, já controlando áreas periféricas e vilarejos ao redor.

No outro extremo do território controlado pelo Estado Islâmico, no norte da Síria, em Raqqa, grande cidade tomada e declarada capital do autodeclarado “califado”, proclamado pelo Estado Islâmico há dois anos, vem sofrendo uma ofensiva militar protagonizada pela coalizão de milícias curda e árabe chamada “Forças Democráticas Sírias” e pela coalizão aérea imperialista liderada pelos EUA.

Importantes e estratégicas cidades sob controle do Estado Islâmico caindo pouco a pouco

Desde terça, as “Forças Democráticas Sírias”, coalizão de milícias árabes e majoritariamente curdas, lideradas pela milícia chamada “Unidades de Proteção do Povo Curdo”, mais conhecida pela sua sigla em inglês, YPG, com milhares de soldados mobilizados, estão tomando vilarejos e cidades próximas à Raqqa, enquanto a coalizão aérea liderada pelos EUA bombardeia as posições do Estado Islâmico na área rural da cidade.

Em resposta às ofensivas militares contra as principais cidades sob seu controle, o Estado Islâmico realizou, nessa segunda, ataques suicidas em diversos bairros das cidades de Tartus e Jableh, cidades essas controladas pelo regime baathista do ditador Bashar Al-Assad, matando ao menos 150 pessoas.

Apesar dos ataques terroristas realizados pelo Estado Islâmico nas cidades do Iraque e na Síria, a realidade mostra que essa organização reacionária, fruto do refluxo das revoltas populares conhecidas como “Primavera Árabe”, vem perdendo territórios e sofrendo profundas baixas.

Segundo denúncias de ativistas sociais¹ de Raqqa, os soldados do Estado Islâmico estão impedindo famílias e indivíduos de fugirem da cidade, apenas permitindo sua fuga até a cidade de Der Az-Zor, controlada também pelos jihadistas. Ainda segundo as denúncias, a única forma de fugir da cidade é pagando 400 dólares por pessoa para contrabandistas, valor altíssimo para as condições de vida arrasadas pela deterioração da economia, causada pela guerra civil.

No Iraque, o Estado Islâmico vem sofrendo as piores derrotas, perdendo importantes territórios em várias províncias do país. As milícias burguesas xiitas das Forças de Mobilização Popular vêm tomando diversas cidades das mãos do Estado Islâmico, mostrando uma eficiência e resultados militares melhores do que o próprio exército do Iraque.

A vitória das ofensivas militares e a derrota do Estado Islâmico, uma saída progressista à crise dos refugiados?

No entanto, apesar dessa aparente derrota do Estado Islâmico, as famílias e os trabalhadores sírios e iraquianos das cidades de Raqqa e Fallujah, não se sentem vitoriosos e podem ser caracterizados mais concretamente como vítimas dos dois lados em conflito nessas guerras civis reacionárias.

Em Fallujah, cidade sitiada há meses pelas Forças de Mobilização Popular e bombardeada constantemente, a população aprisionada a céu aberto, sofre com cortes de energia, falta de alimentos, recursos medicinais além de ter suas residências destruídas pelos bombardeios. O resultado disso tudo é a fuga em massa de famílias da cidade, indo para campos de concentração improvisados e insalubres ou tornando-se mais tarde novos refugiados e sem-teto.

Em Raqqa a situação não é tão diferente. Segundo ativistas sociais, o clima da cidade é de grande desconfiança em relação à ofensiva das milícias curdas, fazendo com que muito voluntários estejam se aliando ao Estado Islâmico para defender a cidade, porém isso não constitui a maioria da população de Raqqa. De fato, as pessoas estão fugindo desesperadamente da cidade síria.

Ao imaginar a derrota do Estado Islâmico, organização reacionária que construiu um aparelho de Estado profundamente autoritário nos territórios que controla no Oriente Médio, pode ser vista de princípio como algo progressista. Porém os atores que estão protagonizando sua derrota é igualmente um elemento contrarrevolucionário e que busca no mínimo implementar um regime “democrático” burguês, com liberdades políticas restritas, para se tornar mais uma peça subordinada aos interesses imperialistas na região.

Vale ressaltar que o YPG, a principal milícia curda e tratada como progressista pelos meios de comunicação e até por setores da esquerda, está aliada e é financiada pelas potências ocidentais, principalmente pelos EUA, e atuam nessa ofensiva militar como tropas terrestres do imperialismo.

As Forças de Mobilização Popular e suas milícias xiitas são acusadas constantemente de intolerância religiosa em relação aos sunitas, de impedirem famílias sunitas de retornarem às suas casas e estão envolvidos em vários casos de pilhagem. Além disso, as principais milícias foram criadas, financiadas e treinadas pela reacionária “Guarda Revolucionária”, braço armado e repressor da República Islâmica dos aiatolás iranianos.

A catástrofe das guerras civil iraquiana e síria e os contínuos bombardeios perpetrados pelas coalizões militares imperialistas não resolverão o problema, muito pelo contrário, só fará aumentar o drama dos refugiados internos e os que tentam a sorte na Europa.

¹Fonte: Raqqa is Being Slaughtered Twiitter e Al Jazeera




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